Comboios já circulam na Linha do Norte. Três incêndios causam mais preocupação. Noite traz “janela de oportunidade”
Há dez incêndios activos em Portugal a mobilizar 1800 operacionais e 500 viaturas. Protecção Civil acredita que os incêndios em Alenquer e Ourém serão dominados durante a noite. Aldeias em Vila Real fora de perigo.
Eram três os fogos que, pelas 20h deste domingo, estavam a causar mais preocupação em Portugal, segundo disse o comandante nacional da Protecção Civil, André Fernandes, que fez um ponto de situação dos incêndio rurais que lavram no país: o de Vilarinho de Samardã, em Vila Real, o de Carvalhal, em Ourém e o de Olhalvo, no concelho de Alenquer.
“Esta será uma noite longa de trabalho e espera-se que a noite possa trazer alguma janela de oportunidade”, disse o comandante, explicando que, em algumas zonas que estão a ser atingidas pelas chamas, como Alenquer e Ourém, a humidade vai subir e o vento irá diminuir nas próximas horas. Em Vila Real, a humidade não irá aumentar, mas o vento “irá dar alguma trégua”.
A Protecção Civil acredita que os incêndios em Alenquer e Ourém, e outro que lavra também em Carrazeda de Ansiães (Bragança), sejam dominados durante a noite, deixando para a manhã os trabalhos de rescaldo e de estabilização.
Fogo em Vila Real perto de várias localidades
Apesar de não ser aquele que congregava mais meios, o de Vilarinho de Samardã, em Vila Real, é um dos que suscita maior preocupação por ter já “uma grande área afectada”.
“A ocorrência de Samardã, em Vila Real, é uma ocorrência que ainda está com bastante actividade. A cabeça do incêndio mantém uma actividade muito forte junto das localidades de São Tomé do Castelo, Vila Meã e São Cosmes. Mantemos uma prioridade de acção para conter a cabeça do incêndio, que tem uma progressão de oeste para este, com o sentido do vento. A prioridade é evitar que a cabeça chegue às aldeias de Pinhão Cele, Sanguinhedo e Justes. E para isso contamos cortar a cabeça do incêndio na nacional 15”, explicou André Fernandes.
Este incêndio, explicou ainda o comandante, está a deflagrar numa zona montanhosa, “o que faz com que o incêndio esteja a gerar os seus próprios ventos”. “Vamos tentar fazer tudo para dominá-lo durante a noite, mas com alguma reserva porque é um terreno difícil e um incêndio bastante activo. Estamos a fazer de tudo para o conseguir dominar ou pelo estabilizar o seu perímetro, o que permite que durante o dia os meios se concentrem na extinção do incêndio”.
Por volta das 21h, a auto-estrada 24 (A24) permanecia cortada entre os nós de São Tomé do Castelo e de Vila Pouca de Aguiar e a EN2 permanecia também cortada entre Escariz e Soutelinho do Mezio.
O incêndio, que começou pouco depois das 7h, pelo que já corria pela floresta e mato do distrito de Vila Real há mais 12 horas, mobilizava, pelas 23h30, 455 operacionais e 130 viaturas.
Entretanto, pelas 00h00, a Protecção Civil fez saber que as três frentes activas ardem com “menor intensidade” e que e as aldeias que apresentaram mais preocupação estavam fora de perigo.
Autoridades preparadas para possível evacuação
À Lusa, o presidente da Câmara de Vila Real, Rui Santos, disse estar “muito preocupado” com as localidades de Samardã, Benagouro e Vilarinho de Samardã. “Até ao momento não houve necessidade de proceder à retirada de pessoas, mas temos tudo preparado para que, se tal for necessário, possamos agir com rapidez”, disse. O autarca referiu ainda que houve “três pontos de ignição” no início do incêndio, levando-o a concluir que “de certeza absoluta teve mão humana”.
Rui Santos fez um apelo às populações para se autoprotegerem e para não se colocar em risco. “E com o aproximar da noite deixo aqui um apelo. Não é possível a GNR, os bombeiros, a PSP, o ICNF estarem em todos os lados ao mesmo tempo, as frentes são múltiplas e deixo aqui um apelo à população para se autoproteger, para ter muito cuidado, muita atenção para nunca, em caso algum, se colocar em risco de vida e para, sempre que possível, proteger também os seus bens”, afirmou o autarca num ponto de situação do incêndio pelas 18h.
“Eu vejo que os meios humanos e os meios materiais são finitos, a extensão deste incêndio é, como se vê, brutal, o vento sopra a uma velocidade muito elevada e em diferentes direcções, as condições são propícias para que o incêndio avance. Volto a reforçar um apelo para que todos tenham cuidado”, sublinhou.
O autarca disse que há três frentes de incêndio, uma a caminho do concelho de Vila Pouca de Aguiar, outra da freguesia de São Tomé do Castelo e Justes e outra ainda a caminho da cidade de Vila Real. “Há algumas aldeias que nos merecem muita preocupação, a noite está-se a aproximar, as aeronaves têm sentido dificuldade em actuar com precisão, até porque o fumo não o permite”, referiu, adiantando ainda que estão “preparados para todos os cenários, se for necessário haver evacuações”.
Segundo Rui Santos, este “incêndio começou logo pela manhã, com quatro pontos de ignição, teve uma frente inicial de cerca de três quilómetros, uma progressão muito, muito rápida”. “As condições meteorológicas, como o vento, o calor, mas também os materiais muito secos permitiram que esse crescimento do fogo fosse com uma rapidez inaudita”, frisou.
O incêndio na localidade de Samardã “está a aproximar-se” de um restaurante, um posto de combustível e “algumas habitações”, disse à Lusa fonte da Protecção Civil. Segundo fonte dos Bombeiros Voluntários Cruz Branca, “há operacionais destacados e de prevenção junto ao posto de combustível e, para já, embora esteja próximo, [o fogo] não está direccionado para aquela zona”. “O perigo pode estar na mudança de direcção do vento”, explicou.
Reacendimento em Ourém
Mais meios estão a ser mobilizados, pelas 21h, para um reacendimento do incêndio de Ourém, em Carvalhal, que tinha entrado em resolução no sábado. O alerta foi dado pelas 14h50 e as chamas estavam, às 23h30, a ser combatidas por mais de 300 operacionais e 90 veículos.
Segundo disse à agência Lusa o Comando Distrital de Operações de Socorro de Santarém, o fogo reactivou-se às 14h50 com “extrema força”, obrigando a mobilizar os meios que estavam no perímetro da área ardida em vigilância e prevenção.
A Infra-estruturas de Portugal (IP) indicou que, “face ao agravamento” do incêndio que lavra entre Ourém e Albergaria dos Doze, concelho de Pombal, disse não haver previsão para a reposição da circulação ferroviária na Linha do Norte, que esteve cortada desde as 15h18 devido à reactivação do incêndio que lavra entre Caxarias e Albergaria dos Doze, entretanto dominado.
A circulação de comboios foi entretanto restabelecida “sem restrições a partir das 20h12”, de acordo com fonte oficial da Infraestruturas de Portugal.
Segundo o comandante André Fernandes, este é outro dos incêndios que mais preocupa as autoridades, apesar de já existir alguma evolução para o controlar. “É uma ocorrência que já se encontra com alguma evolução para a sua estabilidade. Ainda tem alguma actividade, mas mantemos a estratégia para fazer as defesas do perímetro porque é uma área que tem bastantes habitações e é preciso garantir a segurança das populações, mas acima de tudo garantir a estabilização do flanco esquerdo, que tem mais potencialidade de abertura para uma área florestal”, explicou.
Além do incêndio em Carvalhal, há outro, na freguesia de Seiça, também em Ourém, a mobilizar um elevado número de meios de combate. Pelas 23h30, este incêndio, que começou por volta das 18h, mobilizava 270 operacionais e 70 veículos.
Novo incêndio em Alenquer
Um novo incêndio, em Olhalvo, no concelho de Alenquer, com início pelas 15h20, estava, pelas 23h30, a mobilizar também vários meios, com 360 operacionais e 110 viaturas. É outro dos incêndios que preocupa as autoridades. “Tem alguma actividade e a localidade do Bairro é a mais afectada. A estratégia é cortar ou diminuir a intensidade da cabeça do incêndio e estabilizar o flanco direito. Este incêndio poderá entrar no perímetro florestal da serra de Ota”, avisou o comandante.
Dez incêndios activos
Segundo o site da Protecção Civil, existiam, pelas 23h30, dez incêndios activos em Portugal, a mobilizar quase 1800 operacionais e 540 viaturas.
Além dos três grande incêndios que preocupam as autoridades, há outro que na noite deste domingo mobiliza mais de 100 operacionais. O alerta para o fogo em Carrazeda de Ansiães foi dados às 11h53 e pelas 23h30 estavam no terreno 160 operacionais e mais de 60 veículos.
O comandante nacional da Protecção Civil, André Fernandes, deixou um apelo à população durante o ponto de situação feito ao início da noite deste domingo: “pedimos à população que poderá vir a ser afectada pela progressão do incêndio que mantenham a calma e que não vão para pontos verificar onde está o incêndio, que libertem as vias de circulação ferroviária para a passagem dos meios de socorro”. E pediu ainda aos cidadãos para continuarem a ter “confiança total no trabalho que está a ser realizado”.
Nesta altura, os distritos mais afectados e com o maior número de ignições durante este domingo são o Porto (29), Viana do Castelo (9), Viseu (7), Aveiro (7), Lisboa (4) e Vila Real (4).
Portugal entrou neste domingo em situação de alerta, por causa do risco de incêndio. Este nível de alerta, o mais baixo dos três de resposta a acidentes graves ou catástrofes previstas na Lei de Bases da Protecção Civil, prolonga-se até às 23h59 de terça-feira.