Uma venda de plantas gerou uma onda solidária no Instagram (e pagou a operação da gata Bianca)

Para sobreviver, Bianca tinha de ser operada, mas o custo da intervenção ultrapassava os mil euros. Joana Costa, a tutora, socorreu-se do Instagram para rifar plantas e as Biancas espalharam-se pelo país. Em dois meses, a dívida da operação foi paga.

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A operação era a única forma de salvar Bianca, a gata de 4 anos DR
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Bianca é um dos cinco animais de Joana DR

Joana Costa sempre olhou para o Instagram como uma banalidade: era apenas mais um espaço onde podia partilhar fotografias e vídeos das plantas e dos animais que enchiam a sua casa e a sua vida. Até que, em Junho deste ano, aqueles que julgava serem “apenas amigos virtuais” mostraram que também podiam ser uma forte rede de apoio.

Há cerca de dois meses, a sua gata Bianca, de quatro anos, foi operada de urgência. “Era a única forma de a salvar”, diz, recordando o acontecimento que ainda hoje a leva às lágrimas.

Natural de Lisboa, Joana tem cinco animais — um cão e quatro gatos. Sem mais nem menos, Bianca, a “caçula da família”, parou de comer e beber. Inicialmente, a dona levou-a ao médico veterinário habitual, que aferiu que “não era nada de grave”, apenas alguma bola de pêlo. Mas a situação não melhorou.

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Joana Costa e a gata Bianca, de 4 anos DR

“A gata não comia nem bebia há vários dias. Tentei alimentá-la à seringa porque já não comia há demasiado tempo e estava a fazer-lhe mal, mas nada funcionava”, relembra.

O passo seguinte foi determinante. O animal de olhos esverdeados foi levado a um hospital veterinário, onde o pesadelo da dona se adensou: as análises “acusaram uma infecção” e, depois de uma ecografia, chegou o diagnóstico. Bianca tinha uma linha de tecido presa na língua, que já estava enrolada nos intestinos e no estômago. “Já tinha a língua totalmente ferida por baixo”, lamenta.

A única solução era partir para uma operação. Joana ficou em choque: “Entrei em pânico ao imaginar a factura. Estou desempregada há vários anos, não tinha aquele dinheiro todo”. Ficaria por 1078 euros, valor que incluía análises, a ecografia, medicação e a taxa de urgência por ser domingo.

A primeira reacção foi pedir para pagar em prestações, mas tal não foi autorizado. “Então, no hospital, tive de pedir para me darem um bocadinho para ligar a pessoas a pedir ajuda.” A correr contra o relógio, com uma conta nas mãos e a meio de uma mudança de casa, Joana lá conseguiu o empréstimo, mas confessa que se sentiu “muito mal” por estar naquela situação. “Não queria ter que estar a pedir dinheiro a ninguém, mas se não fosse assim não conseguia [pagar a operação].”

A cirurgia foi um sucesso, mas agora havia uma dívida de mais de mil euros para saldar. E aí Joana virou-se para o único recurso: o Instagram.

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A operação e a recuperação da gata Bianca foram um sucesso DR

Biancas de norte a sul

“Pensei: há tanta gente a pedir ajuda online… E se eu fizer o mesmo?”, conta. A solução estava entre as quatro paredes da sua casa. Confiante na comunidade de amantes de plantas a que pertence – e que ganhou expressividade durante a pandemia –, Joana decidiu vender e rifar as plantas que lhe enchiam o quarto.

Publicou o recibo do hospital veterinário na sua página e a situação escalou. “Nunca pensei que aquilo acontecesse! Acabei por vender praticamente todas as minhas plantas, que eram boas e caras.”

Surpreendida pela adesão dos seguidores (e não seguidores), a rede social mostrou ainda melhor o seu potencial: “Do nada, as pessoas começaram a baptizar as plantas que receberam com o nome de Bianca, como a minha gata. E aí surgiram as Biancas”. A ideia não partiu de Joana, mas funcionou: de repente, o feed encheu-se de fotografias de Biancas espalhadas de norte a sul do país. “Só pensava vender algumas, mas afinal passámos dias a embalar plantas e a enviar.”

Houve ainda quem enviasse, “em jeito de doação”, 30, 40 ou 50 euros. E até pessoas que foram a casa de Joana e aproveitaram para levar “miminhos para a Bianca, como patés”.

O quarto de Joana tinha plantas de vários tamanhos, cores e com diferentes tipos de exposição solar DR
Joana acabou por vender a maioria das plantas DR
Os seguidores de Joana apelidaram as plantas que receberam de "Biancas" DR
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O quarto de Joana tinha plantas de vários tamanhos, cores e com diferentes tipos de exposição solar DR

As rifas, a dois euros cada uma, foram vendidas “em menos de 24 horas” e abrangeram ainda malas e livros, mas “mesmo assim não chegava”. Teve de tomar uma decisão que muito lhe custou. “Acabei então por vender uma planta inteira [e não simplesmente alguns pés], mais rara e cara”: as 50 rifas para adquirir a monstera albo variegata renderam perto de 200 euros.

Em dois meses, conseguiu saldar as dívidas e Bianca já recuperou, mas o espírito de partilha não se apagou. “Agora, [os compradores] vão-me mandando fotografias das Biancas e mostram-me a sua evolução. É muito giro. Fiquei com tantos e tantos vasos vazios. Tinha o quarto cheio de plantas, agora tenho o carro cheio de vasos [onde levava as plantas]… Mas compensou, foi para a salvar”, evidencia Joana.

Perdê-las não foi fácil – as plantas trouxeram-lhe calma e tranquilidade durante a pandemia, sobretudo quando o seu pai morreu, vítima de covid-19. “Agora as Biancas estão noutros sítios e levam felicidade a outras pessoas; fazem falta a outros.” E acrescenta, em jeito de promessa: “Mas ainda hei-de recuperar algumas! Há muitas que me fazem mesmo muita falta.”

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