Tubarões e raias passam mais de 95% do tempo a 250 metros de profundidade

A investigação decorreu ao longo de três anos, contando com a colaboração de 171 cientistas de 135 instituições de 25 países, incluindo Portugal.

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Tubarão-de-pontas-brancas Mark Royer

A análise ao comportamento de 38 espécies de tubarões e raias permitiu concluir que a maioria passa mais de 95% do seu tempo a 250 metros de profundidade, onde a “probabilidade de interagir com barcos de pesca é maior”.

Liderado pela Sociedade de Zoologia de Londres (ZSL) e pela Universidade de Stanford (EUA), o estudo publicado esta sexta-feira na revista Science Advances visava mapear os movimentos verticais de tubarões e de raias nos oceanos, numa tentativa de ajudar a melhorar a gestão e conservação destas espécies.

A investigação, que decorreu ao longo de três anos, contou com a colaboração de 171 cientistas de 135 instituições de 25 países, entre as quais o Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos da Universidade do Porto (Cibio-InBio).

Nuno Queiroz, investigador do Cibio-InBio, explicou em declarações à agência Lusa que um dos objectivos do estudo era compreender a “sobreposição vertical destas espécies com as actividades humanas e com o impacto das alterações climáticas”, mas também compreender os comportamentos ao longo da coluna de água do oceano, que tem uma profundidade média de 3,5 quilómetros.

Reunindo dados de 989 transmissores de satélite referentes a duas décadas, os investigadores analisaram remotamente o comportamento de 38 espécies de tubarões e raias, desde o oceano Pacífico Norte ao oceano Índico e do Árctico às Caraíbas.

A migração vertical do oceano

Segundo o estudo, um dos movimentos verticais mais comuns parece coincidir com a migração vertical do oceano. Isto é, ao amanhecer, os peixes pequenos e invertebrados seguidos dos seus predadores começam a migrar da camada oceânica superior para as águas mais escuras e profundas e, à noite, voltam à superfície para se alimentar.

Os investigadores concluíram que cerca de um terço das espécies mergulham em profundidade (mais de 1000 metros), onde a água é fria, muitas vezes com pouco oxigénio e a visibilidade é limitada.

Os registos dos transmissores mostram que os tubarões-brancos mergulham a uma profundidade superior a 1200 metros, enquanto os tubarões-baleia atingiram 1896 metros, “perto do limite de pressão de 2000 metros dos actuais sensores”.

A investigação identificou também sobreposição de espécies nos mesmos espaços verticais, com os tubarões-baleia, tubarões-tigre e raias-de-manta oceânica a terem comportamentos “surpreendentemente semelhantes”, embora a sua história evolutiva seja diferente.

Algumas espécies, diz Nuno Queiroz, podem variar a sua profundidade entre o dia e a noite, essencialmente na tentativa de “procurar presas, regular a temperatura corporal, reproduzir ou evitar predadores”.

Apesar de realizarem mergulhos profundos, 26 das 38 espécies nas quais se incluem o tubarão-de-pontas-brancas (Carcharhinus longimanus), tubarão-tigre, tubarão-martelo e tubarão-seda passam mais de 95% do seu tempo nos primeiros 250 metros da coluna de água, “onde a probabilidade de interagir com barcos de pesca é maior”. “É surpreendente o elevado número de espécies que habita nos 250 metros, não estávamos à espera de que fossem tantas e passassem tanto tempo”, salientou o investigador.

Citado num comunicado do centro da Universidade do Porto, o principal co-autor do artigo, David Curnick, da ZSL, salienta que a investigação sobre como os tubarões e raias usam a dimensão vertical do oceano é “fundamental não só para entender a maneira como vivem, mas também para perceber como é que as actividades humanas os afectam”. “Isso ajuda-nos a encontrar melhores maneiras de os proteger”, refere.

Também a investigadora Samantha Andrzejaczek, da Universidade de Stanford, destaca que o estudo “fornece novos conhecimentos sobre os padrões globais de movimentos verticais dos tubarões e raias”. “É um passo importante para que espécies estão mais ameaçadas, mas também como o aquecimento e a desoxigenação dos oceanos podem influenciar a sua distribuição vertical.”

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