Astúcia de Lucescu será o primeiro grande teste ao Benfica de Schmidt
Os “encarnados” defrontam esta noite o Dínamo Kiev, em Lodz, na Polónia, na primeira mão do play-off de acesso à Liga dos Campeões
O currículo é, para já, perfeito - quatro jogos oficiais, quatro vitórias -, mas esta noite, no centro da Polónia (20h, TVI), Roger Schmidt terá o primeiro grande teste como treinador do Benfica. Depois de ter derrotado na I Liga dois clubes (Arouca e Casa Pia) que lutam pela fuga à despromoção e ter afastado, no primeiro duelo europeu, um rival (Midtjylland) que mostrou ter muitas debilidades, uma boa parte do sucesso “encarnado” em 2022-23 estará em jogo no último degrau antes de atingir a Liga dos Campeões. Para lá chegar, os benfiquistas terão de ultrapassar, no play-off da Champions, um coeso e competente Dínamo Kiev, liderado pelo astuto Mircea Lucescu.
O primeiro esboço do “novo” Benfica de Roger Schmidt mostrou uma equipa bem desenhada, com traços firmes e coerentes. Com reforços que não têm feito apenas número (Enzo Fernández e David Neres), um regresso (Florentino Luís) que suprimiu uma carência táctica óbvia e duas apostas (Morato e Gonçalo Ramos) de sucesso, “confiança” voltou a ser uma das palavras mais utilizadas no vocabulário benfiquista.
Mexendo pouco na estrutura da equipa, mas dando sinais para dentro de que premiará quem se destacar (a titularidade de Diogo Gonçalves contra o Casa Pia depois do golo contra o Midtjylland é exemplo disso), Schmidt sentiu as primeiras dificuldades no passado sábado, frente a uma equipa bem trabalhada por Filipe Martins. No final, após a sofrida vitória sobre os casapianos, o técnico alemão encontrou como justificações para a exibição menos fulgurante o “relvado difícil” e um “adversário muito fechado, com 11 homens atrás da bola”.
Hoje, em Lodz, o tapete do Estádio Miejski Wladyslawa Króla estará em melhores condições do que estava o relvado do Estádio Dr. Magalhães Pessoa, mas, pela frente, Schmidt voltará a ter um rival que tem na sua solidez defensiva e competência táctica as principais armas. Mérito da “velha raposa” do futebol europeu: Mircea Lucescu.
Na terceira época como técnico do Dínamo Kiev, o experiente romeno, de 77 anos, não virou as costas à equipa após o início da guerra na Ucrânia. Afirmando não ser “cobarde”, Lucescu manteve-se na capital ucraniana após a invasão russa e, sem ter tido ainda a possibilidade de competir internamente, o objectivo é chegar à Liga dos Campeões e “recolocar um sorriso na face dos ucranianos”.
Embora a tarefa não se afigurasse simples, perante todas as condicionantes que o desporto ucraniano enfrenta, Lucescu já conseguiu vencer duas das três etapas que tinha pela frente. Na segunda, contra o Fenerbahçe, de Jorge Jesus, e na terceira pré-eliminatória da Liga dos Campeões, frente ao Sturm Graz, a equipa de Kiev foi sempre muito sólida defensivamente e, sem problemas em entregar a iniciativa de jogo ao oponente, usou essa estratégia como “engodo” para ripostar com um futebol veloz, que quase sempre usa os flancos para se aproximar da baliza adversária.
Com um bloco defensivo que é a base da selecção da Ucrânia - o guarda-redes Georgiy Bushchan; o lateral Oleksandr Karavaev e os centrais Illia Zabarnyi e Oleksandr Syrota -, a nível ofensivo o extremo Viktor Tsygankov será um dos principais problemas para o Benfica. A falta de uma referência na área é, no entanto, uma das lacunas do Dínamo e, para este primeiro jogo, Lucescu tem um problema complicado para resolver: o internacional Serhiy Sydorchuk, a principal referência da equipa ucraniana no meio-campo, está castigado.
Ao contrário de Lucescu, Roger Schmidt confirmou ontem que terá o privilégio de, excluindo os lesionados de longa duração - Lucas Veríssimo, Ristic e João Victor - escolher o “onze” sem condicionantes. Após ter falhado os jogos com o Midtjylland e o Casa Pia, David Neres, “um jogador muito importante”, viajou para a Polónia e “está a 100 por cento e preparado para jogar”.
Menos clara foi a resposta do treinador germânico sobre quem completará com Neres o flanco direito do Benfica. Contra o Casa Pia, Alexander Bah substituiu Gilberto ao intervalo e, para Schmidt, “são os dois boa opção para jogar”. “Ambos têm jogado muito bem. No último jogo aproveitei para dar algum descanso ao Gilberto, porque o senti fatigado”, afirmou o técnico.
Olhando para o rival, Schmidt manteve a lucidez habitual: “O que vimos nos outros jogos, com Fenerbahçe e Sturm Graz, é que são uma equipa completa. Sabem fazer tudo, sabem jogar em pressão alta, mais em profundidade, são muito bons nos momentos de transição.”