Mais de 24 mil hectares arderam nos últimos sete dias no Parque Nacional da Serra da Estrela, 8327 dos quais destruídos no curtíssimo intervalo entre 15 e 16 Agosto, quando três ignições simultâneas deram origem a um reacendimento. O incêndio na maior área protegida do país teve início a 6 de Agosto e chegou a ser considerado estabilizado a 12 de Agosto.
Estes números agravam o balanço provisório dos incêndios na União Europeia: 662.776 hectares de floresta europeia foram consumidos pelas chamas desde o início de Janeiro, segundo dados actualizados no domingo pelo Sistema Europeu de Informação sobre Incêndios Florestais (EFFIS), o que constitui um novo recorde para esta fase do ano.
O anterior recorde para a Europa foi registado em 2017, quando 420.913 hectares tinham ardido até 13 de Agosto. Portugal é o terceiro país com maior área ardida, numa lista liderada pela Espanha, seguida da Roménia. O EFFIS é um serviço europeu que disponibiliza, desde 2006, estatísticas comparáveis com recurso às imagens de satélite do programa europeu Copérnico.
Uma imagem captada por satélites do programa Copérnico no dia 14 de Agosto permitiu detalhar a zona afectada pelo fogo na Covilhã. Calcula-se que 14.824 hectares de terreno foram afectados pelas chamas, sendo que 2770 sofreram danos elevados e 10.916 moderados. Cerca de 500 edificações foram afectadas de alguma forma pelas chamas, das quais 93 ficaram destruídas.
Imagens actualizadas do EFFIS também permitem quantificar a destruição no Parque Natural da Serra da Estrela e áreas contíguas: 42 hectares destruídos no incêndio na zona de Sobral da Serra (a 10 de Agosto), 820 no de Aldeia Viçosa (a 14 Agosto), 15.134 no de Sameiro (de 6 a 13 de Agosto) e, por fim, no mais recente e violento de todos, na zona de Famalicão da Serra, 8327 hectares foram queimados entre 15 e 16 de Agosto. Ao todo, 24.323 hectares arderam nos últimos sete dias na maior área protegida de Portugal.
No contexto europeu, a área mais afectada é a Península Ibérica. Em Espanha, 246.278 hectares ficaram este ano devastados por incêndios, principalmente na Galiza. Seguem-se, nesta lista disponibilizada pelo serviço europeu, a Roménia (150.528 hectares), Portugal (75.277 hectares) e França (61.289 hectares)
“Temos de nos preparar para um aumento do risco de incêndios em regiões onde eles ainda não existiam, e onde estão a tornar-se cada vez mais graves”, explica o Domingos Xavier Viegas da Universidade de Coimbra, coordenador do FirEUrisk, um projecto europeu que está a promover o intercâmbio de conhecimentos entre países europeus para melhorar a capacidade de prevenir e reagir às ameaças amplificadas pela crise climática.
O aumento da temperatura global está a agravar o risco de incêndio em toda a Europa, alertam os cientistas do FirEUrisk, piorando a situação nos países mediterrânicos e fazendo migrar o alto risco de incêndios para latitudes mais elevadas.
“As previsões recentes indicam que o perigo de incêndio vai triplicar. Por outras palavras, será duas a três vezes mais provável termos de enfrentar dias com risco de incêndio muito elevado ou extremo. Temos de agir para preparar os nossos ecossistemas e a nossa sociedade, ou poderemos ter um futuro bastante complicado”, refere Domingos Viegas num comunicado de imprensa.