Das 60 albufeiras monitorizadas no Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos, 26 tinham disponibilidades hídricas inferiores a 40% do volume total no último dia de Julho. A do Barlavento, que é referente à barragem de Bravura, em Lagos, é que está pior: está apenas a 11,4% da capacidade, e a do rio Lima, no Minho, a 17,4%. Mas a barragem em pior situação é a de Campilhas, no concelho de Santiago do Cacém, que está a 3% da sua capacidade.
Esta situação ilustra o retrato que o mais recente boletim da seca do Instituto Português do Mar e da Atmosfera traçou: no final de Julho, 55% de Portugal continental estava na classe de seca severa e 45% na classe de seca extrema. No último dia desse mês, todas as bacias hidrográficas portuguesas registavam uma descida no volume armazenado, em comparação com o mês anterior.
“Esta é a seca meteorológica mais grave deste século, em resultado da conjugação de invulgares temperaturas elevadas e fraca precipitação (é o quinto ano com precipitação abaixo da média)”, salienta o gabinete de comunicação da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), contactado pelo PÚBLICO. A 31 de Julho, os valores de percentagem de precipitação no ano hidrológico variavam entre 35% na Zambujeira e 67% no Fundão.
Mas não basta olhar para o país divido em zonas de seca severa e extrema para avaliar o que se passa com as barragens.
“Há dois tipos de barragens: aquelas que têm capacidade de regularização interanual, ou seja, conseguem armazenar um volume de água significativo que permite dar resposta aos usos por mais do que um ano”, explica a APA. “E há as de baixa capacidade de regularização, que só armazenam para satisfazer as necessidades durante um ano, e algumas estão dependentes de irem enchendo várias vezes ao ano para suportar os usos”.
Estão nesta situação as albufeiras que abastecem as povoações em Trás-os-Montes, onde a seca é considerada extrema e vários municípios estão a impor restrições ao consumo e com várias localidades a terem de ser abastecidas por camiões-cisterna. “As albufeiras de baixa regularização são as mais críticas, devido ao facto de que este ano não choveu o suficiente para permitir atingir os níveis necessários”, diz a APA. O mês de Julho foi o quarto mais seco desde 2000 e o mais quente dos últimos 92 anos, segundo o IPMA. O total de precipitação, três milímetros, correspondeu apenas a cerca de 22% do valor normal.
A situação é igualmente crítica no que se refere às águas subterrâneas, diz a APA. “Um número significativo de massas de água subterrâneas tem um volume armazenado abaixo do percentil 20”, disse a APA, nas respostas enviadas ao PÚBLICO. “A baixa precipitação não permitiu a recarga dos aquíferos e por isso construir novos furos não é solução, pois os níveis de armazenamento estão extremamente baixos, explicou. Durante o Verão, é de esperar que mais águas subterrâneas entrem nos limites críticos, já que não há previsões de chuva capaz de as recuperar.
“A solução tem de passar por se consumir menos, ser mais eficientes e não continuar com perdas nos sistemas urbanos e de rega superiores a 30%”, salienta a APA.