Um domínio largo para um triunfo magro do Benfica
Em Leiria, os “encarnados” dominaram as operações, mas não conseguiram traduzir no marcador a superioridade que mostraram no ataque.
Percebeu-se desde muito cedo qual iria ser o guião do Casa Pia-Benfica, da 2.ª jornada da Liga: os anfitriões a procurarem as saídas rápidas, no ataque à profundidade; os visitantes a comandarem com bola e a fazerem aproximações constantes à baliza contrária. Com a passagem dos minutos, importava essencialmente saber até quando duraria a resistência da equipa de Filipe Martins. Resistiu sensivelmente uma hora. E depois não foi capaz de mais do que trabalhar para evitar uma derrota mais volumosa (0-1).
Em Leiria, casa emprestada do Casa Pia, as bancadas vestiram-se maioritariamente de vermelho e, no relvado, a bola andou quase sempre de pé para pé entre os jogadores do Benfica. Apesar de uma boa entrada em cena dos anfitriões, que pressionaram bem a saída de bola e forçaram o erro, gerando alguma entropia na comunicação das “águias”.
A defender inicialmente em 5x3x2, o Casa Pia procurava quase sempre as arrancadas de Godwin quando recuperava a posse — não só porque o extremo nigeriano é rápido e imponente do ponto de vista físico, mas também porque estava no raio de acção de Otamendi, central com menos capacidade de recuperar metros neste modelo de Roger Schmidt, que pressupõe um bloco muito adiantado.
Do lado oposto, ficou claro que o 4x2x3x1 do Benfica é bem menos acutilante e incisivo sem David Neres. O extremo brasileiro não recuperou da lesão e o corredor direito foi entregue a Diogo Gonçalves, que esteve longe de convencer — precipitado com bola, com más decisões técnicas no último terço, não foi capaz de capitalizar a confiança gerada pelo grande golo que marcou na Dinamarca. Resultado: as “águias” não foram tão capazes de desequilibrar no um contra um.
Valeu, no momento da criação, a versatilidade e qualidade de João Mário (a jogar de fora para dentro), e a visão cristalina de Enzo Fernández na primeira fase de construção, capaz de encontrar com frequência uma saída de bola limpa e quase sempre com passes verticais.
O Benfica tinha bola, circulava à largura, mas quando acelerava fazia-o muitas vezes por dentro, onde o metro quadrado era pago a peso de ouro. O Casa Pia, com três centrais e dois médios rigorosos no posicionamento, raramente permitia penetrações na área. E das poucas vezes em que isso sucedeu, Rafa foi cerimonioso no remate (20’) e Gonçalo Ramos já não conseguiu imprimir velocidade à bola na emenda (24’).
No segundo tempo, Bah rendeu Gilberto e o Benfica começou a usar mais a largura. Em bom rigor, só não foi mais contundente porque falhou de forma reiterada no momento da definição (especialmente o último passe), mas o golo chegaria mesmo aos 58’. João Mário desmarcou Rafa, que arrancou e colocou na pequena área, para um desvio tão subtil quanto oportuno de Gonçalo Ramos.
O avançado dedicou o golo a Fernando Chalana (e havia 11 Chalanas nas camisolas em campo), pairando no ar a dúvida sobre se seria apenas o primeiro da tarde. O Casa Pia ainda refrescou as alas, o Benfica deu mais qualidade em posse ao meio-campo, mas nem as “águias” foram capazes de reencontrar as redes contrárias, nem os anfitriões se libertaram para incomodar Vlachodimos. E quando Otamendi, na compensação, foi expulso, já era demasiado tarde.