No Corvo apagam-se as luzes dia sim, dia não a pensar nas aves marinhas

O apagão na ilha açoriana, entre 1 e 12 de Agosto, pretende avaliar se a poluição luminosa afecta as visitas dos cagarros aos ninhos.

Foto
Cagarra com um emissor de GPS Tânia Pipa

A Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) espera ter dentro de duas semanas informações do “estudo pioneiro” que decorre na ilha do Corvo, nos Açores, sobre o impacto da poluição luminosa em aves marinhas. A ilha mais pequena dos Açores está a ser alvo de um estudo que consiste num apagão da iluminação pública dia sim, dia não, para avaliar “se a poluição luminosa afecta as visitas dos cagarros aos ninhos, no período em que alimentam as crias”, explicou à agência Lusa Tânia Pipa, da SPEA.

“O apagão iniciou-se a 1 de Agosto e termina esta sexta-feira, 12 de Agosto. No dia 24 de Agosto esperamos ter informação sobre a experiência”, acrescentou Lusa Tânia Pipa. Desde o início do mês, o Corvo tem estado a apagar a iluminação pública dia sim, dia não, entre as 22h locais (23h de Lisboa) e a 1h30.

A iniciativa é SPEA e da Câmara Municipal do Corvo, com o apoio do parque natural daquela ilha e pretende avaliar o efeito da poluição luminosa nos cagarros adultos (ou cagarras, como também se lhes chama).

O objectivo? “Proteger as aves marinhas, o grupo de aves mais ameaçado do mundo, sensibilizar para a problemática da poluição luminosa, aumentar o conhecimento desta ameaça e contribuir para a minimizar na população nidificante da mais emblemática ave marinha da Macaronésia”, sublinha a SPEA em comunicado.

Nesta altura do ano, o casal de cagarros visita regularmente o ninho durante a noite para alimentar a cria.

A informação actual aponta que os adultos têm tendência a afastar-se de zonas iluminadas (ainda que cerca de uma dezena seja desorientada pelas luzes anualmente), contrariamente aos juvenis, que, ao abandonar o ninho em Outubro-Novembro, têm tendência a ser atraídos pela luz, desorientando-se nas vilas e cidades, muitas vezes com consequências desastrosas.

“A confirmar-se que os adultos tendem a afastar-se de zonas iluminadas, isso pode significar que, em colónias de nidificação com muita poluição luminosa, os adultos poderão ter de tomar uma rota maior para irem ao ninho alimentar a cria, pondo em perigo a próxima geração da espécie”, alerta a SPEA.

Para o estudo que está a decorrer, técnicos da SPEA e a investigadora Elizabeth Atchoi (da Universidade dos Açores) equiparam 42 cagarros adultos com emissores de GPS que permitem monitorizar o comportamento das aves quando visitam a colónia em noites com e sem apagão. Os emissores foram colocados nas aves na colónia mais próxima e mais afectada pela poluição luminosa na ilha do Corvo, que tem vindo a ser estudada desde 2017, acrescenta-se.

A informação recolhida é considerada essencial para pôr em prática de medidas que minimizem os efeitos da poluição luminosa, tendo em conta que esta é uma ameaça para as aves marinhas na Macaronésia.

O estudo insere-se no projecto Interreg EElabs, que visa avaliar os efeitos da poluição luminosa na população de aves marinhas e nas noites naturais. Para isso, tem sido recolhida informação do “primeiro e único laboratório de poluição luminosa dos Açores, instalado na ilha do Corvo”, em colaboração com a investigadora Elizabeth Atchoi, que estuda a poluição luminosa e as aves marinhas no arquipélago açoriano.

Sugerir correcção
Comentar