A Supertaça nem precisou de um super-Real
Na final da Supertaça europeia, o Real Madrid provou novamente a maior força do campeão da Champions quando defronta o campeão da Liga Europa. Como? Com a dupla Vinícius-Benzema, que vem para uma nova época com hábitos antigos.
Em 22 edições da Supertaça europeia nos moldes actuais, o vencedor da Liga dos Campeões levou a taça 14 vezes. Nesta quarta-feira, a tendência teve, como se esperava, mais um prego no caixão dos que chegam via Liga Europa. O Real Madrid bateu o Eintracht Frankfurt na final disputada na Finlândia, com um 2-0 que coloca os espanhóis no “poleiro” dos mais ganhadores: cinco conquistas, tal como AC Milan e Barcelona. Para este jogo, o Real nem precisou de ser demolidor. Foi “apenas” um bom Real e isso chegou e sobrou para o que era necessário.
Carlo Ancelotti repetiu o “onze” que venceu a Liga dos Campeões e Oliver Glasner só mudou o da final da Liga Europa porque foi obrigado a isso: Lenz entrou para o lugar de Kostic, transferido para a Juventus. São, portanto, duas equipas sem alterações profundas para 2022/23, o que também não trouxe surpresas no perfil do jogo: Real com bola, Eintracht sem ela.
Ainda assim, o Eintracht, ao contrário do que poderia ser a tentação depois de um 6-1 sofrido com o Bayern de Munique, não se prestou a uma defesa baixa. Pelo contrário, levou à Finlândia um bloco médio/alto, ainda que sem pressão intensa.
Mais do que apertar a construção espanhola, a ideia era conseguir bloquear a fase de criação e, se possível, longe da zona onde a capacidade de definição dos atacantes do Real poderia ser perigosa. E foi nessa medida que o 5x4x1 dava bastante largura a defender, podendo “apertar” mais rapidamente Vinícius, que raramente foi activado pelos colegas – ainda que muito procurado.
Levando a defesa mais para o lado esquerdo do ataque do Real, o Eintracht pareceu quer propositadamente “tapar” o extremo brasileiro, mesmo que isso significasse “oferecer” o lado oposto a Valverde.
O Real esteve, portanto, a jogar quase sempre em ataque posicional, mas sem grandes ideias – até porque elas surgem, sobretudo, dos pés de Vini. Para ambos os lados o perigo surgia, então, em momentos de erros técnicos. Foi assim aos 14’, num lance em que Mendy perdeu a bola e Kamada falhou na cara de Courtois. Foi também assim aos 37’, quando o atraso do Eintracht deu, pela primeira vez, espaço a Vini para um lance individual defendido por Trapp, e aos 42’, quando uma perda de bola permitiu a Valverde assistir Benzema para um remate torto.
Pelo meio, o Eintracht criava perigo em transições (sobretudo quando Kamada conseguia virar-se para o jogo), embora fosse raro, e o Real criava com arrancadas de Valverde – o tal “dado de barato” pelos alemães. Aos 16’, o ala-direito criou mesmo um lance tremendo para Vini falhar por culpa do corte milagroso de Tuta.
Mais sucesso só aos 37’: houve um canto, Benzema ganhou no ar, Casemiro foi salvar a bola de sair pela linha de baliza e, como foram todos saltar com ele, até Trapp, isso deixou a baliza vazia para Alaba empurrar para golo.
Após o intervalo o Real poderia ter chegado ao 2-0 (Trapp voltou a salvar), mas o mais relevante foi a postura diferente da formação espanhola. Com Benzema bastante mais activo entre linhas e em apoios frontais, o Real conseguiu ligar muito mais o jogo e, com isso, ter maior facilidade em aproximar-se da área alemã com mais jogadores e, sobretudo, em melhores situações de remate.
Algo adormecido, o Eintracht sabia o que todos sabem: que quanto mais se chegasse à frente, no risco natural de quem precisava de marcar, mais o Real se tornaria letal em transições – o futebol de que mais gosta. Dito e feito.
Aos 65’, o balanceamento ofensivo dos alemães permitiu ao Real, mesmo sem muita gente no ataque, lançar Vini em profundidade. O brasileiro inventou a jogada, assistiu Benzema e o francês finalizou no centro da área – mudou a temporada, mas continua a ligação tremenda entre Benzema e Vinícius.
Nada mais havia a fazer e o Real controlou o que restava do jogo com bola, esperando pelo passar do tempo.