Nem tudo está bem quando acaba bem

Nesta sua abordagem à comédia de Shakesperare, António Pires releva o papel da mentira e da manipulação como receita para o caos, assim recordando como também agora as notícias falsas e as conclusões precipitadas estão a abrir caminho a uma ordem sectária em que ninguém se ouve e toda a gente está convencida da sua razão.

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Muito Barulho por Nada fica em cena até 20 de Agosto nas Ruínas do Convento do Carmo MIGUEL BARTOLOMEU

É logo nas primeiras cenas que a misoginia surge. E de uma maneira tão desdenhosa – porém não completamente anacrónica – para o olhar contemporâneo que espectadores mais dados à militância progressista (principalmente da facção pós-moderna) têm boas razões para se sentir ofendidos. Não vale a pena abandonar os assentos nem gizar um manifesto, pois é tudo um truque: uma maneira de o dramaturgo mais representado da História conduzir uma comédia, que durante um bom pedaço da representação está mesmo muito, muito próxima da tragédia, até chegar ao seu ponto, isto é, uma conclusão em que as mulheres vencem e, levada a sua avante, só por delicadeza ou compaixão ou sentido de humor não humilham completamente os adversários – como eles aliás merecem, depois de tanta má-língua e vil intrigalhada.

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