Uma dose para cinco: Europa pondera se vai seguir o exemplo dos EUA e poupar doses da vacina da varíola
A poupança de doses implica que uma dose permita vacinar cinco pessoas. Direcção-Geral da Saúde mostra agrado caso esta hipótese venha a ser aplicável.
A limitação das doses de vacinas tem criado constrangimentos na estratégia de prevenção dos países mais afectados pela varíola-dos-macacos. Em Portugal, esta escassez não permitiu, para já, avançar com a vacinação preventiva de pessoas em risco. Uma das soluções pode ser a poupança de doses em que uma só dose da vacina contra a varíola passaria a permitir imunizar cinco pessoas.
Essa foi, de resto, a opção dos Estados Unidos. Perante um aumento de casos significativo em território norte-americano, com 9492 infectados (dos quase 32 mil confirmados em todo o mundo), o Governo de Joe Biden apoiou a administração de um frasco da vacina em cinco doses separadas. Isto significa que, em vez da administração de duas doses de 0,5 mililitros em cada vacina, cada pessoa passa a ser vacinada com duas doses de 0,1 mililitros.
Apesar de possibilitar que haja um aumento das vacinas disponíveis (cinco vezes mais), não existem dados sobre a eficácia da Imvanex (a vacina aprovada na União Europeia e nos Estados Unidos contra a varíola humana e a varíola-dos-macacos) em doses menores.
No seguimento da decisão dos Estados Unidos tomada esta terça-feira, a Europa também vai estudar esta opção. Já esta quarta-feira, em declarações à agência noticiosa Reuters, um porta-voz da Agência Europeia do Medicamento (EMA, na sigla em inglês) apontava que esta estratégia iria ser discutida.
Ao PÚBLICO, Margarida Tavares, porta-voz da Direcção-Geral da Saúde (DGS) para este surto, admite que “seria muito bom essa possibilidade ser aplicável”. No entanto, a questão está ainda a ser estudada: “Estamos a analisar as evidências e a posição da EMA.”
A avançar, a estratégia poderá vir a seguir o mesmo padrão: transformar uma dose em cinco. Isto pode resolver o problema de escassez de vacinas e permitir um avanço mais rápido para a estratégia de vacinação preventiva que a DGS colocou em cima da mesa há duas semanas. Recorde-se que foram entregues 2700 doses a Portugal pela Comissão Europeia.
A vacinação começou a meio de Julho em Portugal. A autoridade de saúde nacional adoptou, até ao momento, uma estratégia de vacinação dos contactos de risco após estarem expostos a um caso confirmado ou suspeito de varíola-dos-macacos. Foram vacinadas 73 pessoas, de acordo com o relatório divulgado pela DGS na última quinta-feira. Portugal tinha então 710 casos confirmados no seu território, a maioria na região de Lisboa e Vale do Tejo.
Apesar de não existirem estudos sobre a sua eficácia, a hipótese de poupança de doses não é propriamente inovadora. Durante a epidemia de febre-amarela na região da África subsariana em 2016, mostrou-se em ensaios clínicos que uma dose mais pequena da vacina era tão eficaz quanto a dose completa.
Reino Unido perto de ficar sem vacinas
A hipótese de compartimentar as doses da vacina contra a varíola surge em simultâneo com o aviso de que o Reino Unido está perto de esgotar as vacinas existentes no país. Os britânicos tinham encomendado 150 mil doses de vacinas, tendo chegado até ao momento 50 mil (que têm sido administradas no último mês e meio). Agora, estas doses estão a acabar.
Uma notícia do jornal Financial Times desta terça-feira indicava mesmo que, dentro de duas ou três semanas, o país não terá doses para administrar contra este vírus. Mais: não são esperados novos envios até ao final de Setembro. O Reino Unido é um dos países com mais casos confirmados (2914), tendo sido o primeiro a comunicar a existência de infecções no seu território, já no início de Maio deste ano.
Numa carta interna do Serviço Nacional de Saúde britânico (o NHS, na sigla em inglês), a que o Financial Times teve acesso, é especificado que existem pouco mais de oito mil vacinas disponíveis até ao final do Setembro. No mesmo documento, alerta-se para a necessidade urgente de criar um plano que responda às necessidades que irão existir durante o período de escassez de vacinas.