Petro toma posse na Colômbia: mais um Presidente de esquerda na América Latina

É uma estreia na Colômbia, numa altura em que a região vê uma série de políticos progressistas vencer eleições – mas chegam ao poder num quadro especialmente difícil.

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Gustavo Petro toma posse este domingo como Presidente da Colômbia, a primeira vez que o país é liderado pela esquerda NATHALIA ANGARITA/Reuters

A tomada de posse do novo Presidente da Colômbia, Gustavo Petro, este domingo, é um marco: é a primeira vez que a esquerda assume o poder na Colômbia. Isto acontece numa altura em que mais candidatos progressistas têm vencido eleições na região: desde 2018, candidatos de esquerda venceram eleições ainda na Argentina, Bolívia, Chile, México e Peru, e no Brasil, o antigo Presidente Lula da Silva está à frente nas sondagens: se vencer, as seis economias mais fortes da região vão ser lideradas por presidentes de esquerda.

Mas, como aponta um artigo da Foreign Policy, isto não significa necessariamente que a região esteja a ter uma viragem ideológica: alguns dos resultados são vistos como um descontentamento com os políticos no poder e vontade de mudança – no caso do Equador, por exemplo, que no ano passado elegeu um empresário conservador para Presidente, ou as legislativas na Argentina e México em que a esquerda teve resultados desfavoráveis.

“Uma combinação de forças atirou este novo grupo para o poder”, considerava pelo seu o diário norte-americano The New York Times, “incluindo um sentimento anti-incumbente provocado por pobreza crónica e desigualdade, que foram exacerbadas pela pandemia e aprofundaram a frustração dos eleitores, que descarregaram a sua indignação nos candidatos do establishment”.

No entanto, estes novos líderes têm encontrado dificuldades depois de assumir o poder: “as suas promessas de campanha colidiram com uma realidade sombria, incluindo uma guerra europeia que fez disparar os preços de bens de primeira necessidade, do combustível à alimentação, tornando a vida mais difícil para os seus eleitores e fazendo evaporar muita da boa vontade de que os presidentes normalmente conseguem ter”, escrevia ainda o Times.

O jornal lembrava ainda que a última vez que houve uma viragem significativa à esquerda na região, os líderes no poder beneficiaram de um grande aumento nos preços das commodities, conseguindo assim financiar programas de apoio social e tirar milhões de pessoas da pobreza, aumentando a classe média. A conjuntura actual é totalmente diferente e é quase uma “tempestade perfeita” de circunstâncias negativas e por isso, diz o Times, “a lua-de-mel pode ser curta”.

O artigo da revista norte-americana Foreign Policy também destaca as grandes diferenças entre os vários presidentes de esquerda actualmente no poder, desde políticos do campo social-democrata progressista, incluindo “os que têm um foco tradicional nas diferenças de classe e outros que dão mais ênfase à igualdade de género e energias renováveis”, por um lado, e por outro “os autoritários que estão no poder em Cuba, Nicarágua ou Venezuela”.

O fim do petróleo?

Na Colômbia, Gustavo Petro prometeu programas de apoio a pessoas na pobreza, tal como Gabriel Boric no Perú mas, no México, López Obrador está a aplicar medidas de austeridade. Petro foi ainda mais longe do que todos, dizendo que não vai permitir novas explorações de petróleo algo que não foi feito por nenhum outro produtor de petróleo da região.

O projecto do novo Presidente, economista de 62 anos, é reduzir a dependência da Colômbia das exportações de petróleo e carvão, através de uma transição gradual para energia solar e eólica, compensando as receitas através de maior produção agrícola e turismo.

Petro deu também um peso especial à defesa dos direitos de minorias e de pessoas em situações de pobreza – para a sua vitória muito terá contribuído a sua vice, Francia Elena Márquez Mina, a primeira mulher negra na vice-presidência, que foi ainda activista ambiental num país no topo da lista em número de líderes ambientais assassinados.

A candidata teve um papel importante para entusiasmar potenciais eleitores que em geral não sentiam possibilidades de representação política, e a dinâmica de ambos foi vista como uma mudança na Colômbia, em que um antigo revolucionário ou guerrilheiro já não assusta (Petro militou dez anos no movimento M-19, que chegou a ser o segundo maior grupo armado a seguir às FARC em meados dos anos 1980, antes de desarmar e se tornar um partido político).

O novo Presidente já estava, no entanto, a ser criticado ainda antes de tomar posse: só anunciou oito ministros de uma equipa de 18, diz o diário espanhol El País.

Dos nomes conhecidos já se tiravam, no entanto, pistas: Petro escolheu pessoas experientes e de vários campos políticos, como o conservador Álvaro Leyva nos Negócios Estrangeiros, ou a liberal Cecilia Lopez na pasta da Agricultura, que tem a reforma agrária no caderno de encargos (Petro quer uma grande mudança tentando que os agricultores prefiram outras culturas, em especial de alimento, às folhas de coca, que são usadas para produzir cocaína e são mais lucrativas). No plano simbólico, há uma mulher indígena, Leonor Zalabata, que vai chefiar a diplomacia nas Nações Unidas.

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