A Torre separou o trigo do joio na Volta a Portugal
Mauricio Moreira, vice-campeão de 2021, é, agora, o dono da camisola amarela, algo que o coloca ainda mais favorito ao triunfo.
Mauricio Moreira (Glassdrive) venceu neste sábado o quarto dia de Volta a Portugal, conquistando a subida à Torre, na Serra da Estrela. O ciclista uruguaio foi o mais forte numa etapa que separou o trigo do joio: Moreira, Frederico Figueiredo (Glassdrive) e Luís Fernandes (Boavista) ficaram sozinhos ainda cedo na subida final, mostrando que são, para já, os únicos candidatos ao triunfo na corrida. Mas não o são todos por igual.
Na classificação geral, Mauricio Moreira, vice-campeão de 2021, é, agora, o dono da camisola amarela, algo que o coloca ainda mais favorito ao triunfo. Trata-se de um corredor que não só acompanha Fernandes e Figueiredo a subir como ganhará, por certo, bastante tempo aos dois rivais no contra-relógio do último dia – os dois portugueses são sofríveis na luta contra o cronómetro.
Tudo isto se passou num dia que poderia ser a “etapa rainha” da Volta, mas que acabou por ser uma mão cheia de quase nada, com a Glassdrive a colocar na estrada um ritmo que esfriou qualquer intento ofensivo de quem quer que fosse.
Etapa calma
Esta etapa começou, como se esperava, com uma tentativa de alguns aventureiros de se afastarem de quem, por certo, os impediria de serem felizes – falamos dos principais trepadores da Volta. Foram nove os ciclistas que se lançaram ao ataque, um esforço colectivo sempre controlado de perto pela Glassdrive, mantendo a fuga na casa dos dois minutos de distância.
O experiente espanhol Alejandro Marque tinha dito que “sem a W52-FC Porto em prova, a etapa poderá ser mais descontrolada, porque estamos habituados a que eles pusessem ritmo forte e reduzissem o grupo”.
A previsão do líder da Tavira foi, ainda assim, bastante ao lado. A Glassdrive é a “nova W52”, fazendo um papel semelhante ao que tem feito a formação excluída da prova em 2022. Sempre na cabeça do pelotão, o bloco de apoio a Mauricio Moreira não deu margem para que a corrida fosse muito atacada, tendo até o próprio camisola amarela ao serviço.
Rafael Reis, que saberia que não manteria a amarela após a subida à Torre, prestou-se a ser o aguadeiro de serviço, indo várias vezes ao carro buscar bidons para abastecer os colegas – uma imagem bastante rara no ciclismo.
A primeira etapa montanhosa desta Volta trazia também a curiosidade de como seria a gestão da Glassdrive ao ter, em teoria, os dois ciclistas mais fortes em prova: Moreira e Frederico Figueiredo. Mas o português lançou algumas pistas antes da etapa: “O líder é o Mauricio e eu estou cá para ajudar”. Dito e feito.
Depois de uma aceleração inicial de António Carvalho, o n.º3 da Glassdrive, foi Figueiredo, o n.º2, a atacar num grupo principal que já só tinha meia dúzia de corredores.
Com Figueiredo a já 35 segundos de Moreira na classificação geral, a Glassdrive sabia que poderia lançar o trepador por ali fora, sem que isso significasse necessariamente um abandono ao chefe-de-fila – que ainda ganhará sempre algum tempo a Figueiredo no contra-relógio da última etapa.
Ainda assim, Moreira, que seguia atrás com Luís Fernandes, não teve pudor em perseguir o próprio colega, que acabou também por abrandar e esperar pelo seu líder – era hora de fazer o que tinha prometido: trabalhar para o uruguaio. Os três seguiram serra acima, sempre com Luís Fernandes na roda dos Glassdrive e sem ataques até aos 100 metros finais, momento em que houve mais velocidade de Mauricio Moreira, apesar de ter sido Fernandes quem mais se poupou.
Para esta segunda-feira está agendada uma etapa que deverá ter final em pelotão compacto, com um sprint em Viseu.