A nascente do rio Douro secou mais cedo do que é costume
Em 2017, a nascente do rio ibérico manteve-se sem água durante mais de dois meses. Este ano fica a expectativa de se saber quanto tempo mais se manterá seco.
Deixou de ser surpreendente observar a nascente do rio Douro completamente seca. Já aconteceu em 2017, quando o Inverno sem chuva e o Verão quente deixaram o pequeno riacho a 2100 metros de altitude sem uma gota de água. O que surpreende agora todos aqueles que se deslocam ao local é que o fenómeno aconteceu mais cedo, no final de Julho.
Em 2017, a água deixou de correr na nascente do Douro no final de Setembro e a situação prolongou-se até final de Novembro, quando surgiu o primeiro nevão nos Picos da Serra de Urbión. Nestes dias que correm, é uma imagem inédita observar apenas pedras e gravilha no curso sem água, pormenor que reflecte as duras condições climáticas do ano em curso.
A causa do actual cenário de seca volta a estar associada à falta de chuvas no Inverno e às altas temperaturas registadas nos últimos meses nas cabeceiras do rio Douro, que ficaram secas num extenso troço entre as altitudes 2100 e 1950 metros, descreve Agustín Sandoval, na sua página do Twitter @meteoduruelo.
O meteorologista caracteriza o acontecimento como “um fenómeno sem precedentes”, garantindo que “nunca tinha visto” a nascente do Douro ficar sem água no final de Julho.
Nos meses de Janeiro e Fevereiro quase não nevou e como tal não houve acumulação de neve e a precipitação atmosférica nesta região espanhola foi quase nula. “Foi um dos piores invernos com stress hídrico que me lembro”, escreve. Seguiu-se o mês de Maio muito seco e em Junho e Julho vieram as vagas de calor com temperaturas invulgares na Serra de Urbión, a tocar os 40 graus durante dias seguidos, explica Agustín Sandoval. Até o comportamento dos animais, como é o caso dos veados, foi alterado por estarem privados de água e pasto.
O meteorologista espanhol fica a aguardar pelo momento em que a água volte a brotar da rocha, onde verdadeiramente se inicia o curso do rio Douro, com quase mil quilómetros de extensão até desaguar no oceano Atlântico, em território português.
Em 2017, a nascente do rio esteve sem água nos meses de Outubro e Novembro. Agora Sandoval fica na expectativa de saber quando regressa a água à nascente do Douro.
No sul de Espanha e na bacia do Guadiana o cenário é ainda mais dramático. As reservas de água estavam reduzidas, no primeiro dia de Agosto, a 2483 hectómetros cúbicos, cerca de 26% da água que as barragens construídas em território espanhol podem armazenar. Um volume de água abaixo da média da década (56,3%). O grau de escassez hídrica é de tal forma acentuado que já foram adoptadas medidas “severas” de poupança nos usos agrícolas da água este ano.
Preste a findar o ano hidrológico, a reserva hídrica em território espanhol cai para mínimos históricos e grandes áreas do centro e sul da Península Ibérica estão em alerta ou emergência por falta de água.
Apesar do impacto desta situação não ter efeitos imediatos em território português, há uma realidade incontornável: cerca de 70% da água que corre na rede hidrográfica nacional vem de Espanha, um país que sozinho consome mais água que França, Portugal, Grécia, Itália e Alemanha juntos, sobretudo nas culturas regadas. Por alguma razão o país vizinho é “horta da Europa”.