Schröder encontrou-se com Putin: “Kremlin quer solução” para conflito, Kiev tem de fazer concessões

O antigo chanceler alemão, que mantém uma relação de proximidade com Putin, diz que Moscovo quer negociar um acordo com Kiev. Mas para isso é necessário que ambos os países façam concessões, defende.

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Gerhard Schröder e Vladimir Putin, em 2018 REUTERS/SPUTNIK

O antigo chanceler alemão Gerhard Schröder admitiu ter-se encontrado com o Presidente Vladimir Putin na Rússia, com quem mantém uma relação de amizade. Os dois terão discutido o conflito na Ucrânia.

“As boas notícias são que o Kremlin quer uma solução [para o conflito] negociada” com a Ucrânia, avançou Schröder numa entrevista à revista Stern, citada pelo jornal Politico. O alemão confirmou este encontro depois de, inicialmente, ter dito que estava na Rússia apenas “de férias”.

Schröder referiu ainda que o acordo assinado entre a Rússia, a Turquia, a ONU e a Ucrânia para reabrir a exportação de cereais pelo mar Negro pode ser a base para o lançamento de um acordo de cessar-fogo. Acrescentou, contudo, que para acabar o conflito é necessário que Kiev faça concessões.

De acordo com Schröder, citado pela emissora alemã Deutsche Welle (DW), uma das concessões de Kiev podia ser renunciar à soberania de uma parte do território ucraniano, incluindo a península da Crimeia (ocupada em 2014). Quanto à região do Donbass, Schröder sugere que a Ucrânia tente alcançar a paz através da criação de cantões, à semelhança da Suíça.

O antigo chanceler apelou ainda ao governo alemão que reconsidere a sua posição relativamente ao gasoduto Nord Stream 2, que foi suspenso no final de Fevereiro, após o início da invasão.

“Se não quiserem utilizar o Nord Stream 2, têm de aguentar as consequências. E serão enormes também para a Alemanha… Com ambos os gasodutos Nord Stream [em funcionamento] não haveria problemas de abastecimento para a indústria e para os lares alemães”, referiu.

A reunião entre o Presidente russo e o antigo chanceler alemão foi também confirmada esta quarta-feira pelo porta-voz do Kremlin. “Sim, Schröder esteve em Moscovo recentemente e teve efectivamente um encontro cara a cara com o Presidente Putin”, disse Dmitry Peskov, em conferência de imprensa.​ Segundo o porta-voz, citado pela CNN, Schröder está “muito preocupado com o actual estado das coisas” e a “crise energética” que se está a “acentuar na Europa”, incluindo na Alemanha.

Kiev reagiu às afirmações de Schröder, dizendo que qualquer acordo de paz negociado com Moscovo estaria dependente de um cessar-fogo e da retirada das tropas russas, surgindo o diálogo em segundo plano.

“Se Moscovo quer diálogo, a bola está no seu campo. Primeiro, cessar-fogo e retirar as tropas, depois um diálogo construtivo”, escreveu Mykhailo Podolyak, conselheiro presidencial ucraniano, no Twitter.

Uma amizade polémica

A proximidade entre Schröder e Putin tem gerado forte polémica na Alemanha. Em Maio, o Parlamento retirou a Schröder alguns dos seus subsídios, assim como o direito a ter um gabinete e a sua própria equipa.

Schröder exerceu cargos de direcção em empresas estatais russas do sector energético depois de deixar o governo alemão. Esse trabalho, a recusa em condenar Putin e hesitar em cortar as suas ligações com empresas ligadas ao Kremlin valeram-lhe fortes críticas.

Ainda em Maio, o New York Times publicou uma entrevista a Schröder na qual referia que a questão da guerra “não tem apenas um lado”. Esta quarta-feira, segundo Peskov, o ex-chanceler alemão pediu a Putin que apresentasse a sua perspectiva e explicasse, do ponto de vista russo, o que se passa na Ucrânia.

Schröder, social-democrata, tem recebido também críticas por parte dos seus colegas de partido e, refere o Politico, na segunda-feira uma comissão irá discutir a sua possível expulsão do partido.