O primeiro navio com cereais já passou o Bósforo, mas para Zelensky ainda equivale a “nada”
Presidente ucraniano diz que a economia “está em coma” e avisa que o país precisa de exportar, com urgência, um mínimo de 10 milhões de toneladas.
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O navio carregado com cereais que zarpou no início da semana de Odessa transpôs esta quarta-feira o Estreito de Bósforo em direcção ao seu destino final, o porto libanês de Tripoli, mas, para o Presidente da Ucrânia, é apenas uma fracção do que é preciso para salvar a economia do país.
Ao mesmo tempo que o Razoni era inspeccionado em Istambul para poder seguir viagem, Volodymyr Zelensky minimizava, perante uma plateia de estudantes australianos que o ouviam através de videoconferência, a importância do primeiro carregamento de cereais a deixar a Ucrânia desde o início da invasão russa, a 24 de Fevereiro.
“Graças à parceria das Nações Unidas com a Turquia, conseguimos fazer sair o primeiro navio com cereais, mas isso ainda não é nada. Esperamos que a tendência se mantenha”, disse Zelensky.
O navio com pavilhão da Serra Leoa que saiu na segunda-feira de Odessa com destino ao Líbano transporta 26.527 toneladas de milho, o passo inaugural saído do acordo assinado no final de Julho entre Kiev e Moscovo com mediação da ONU e da Turquia para retomar a exportação de cereais ucranianos.
Segundo Zelensky, a Ucrânia terá que exportar, com urgência, um mínimo de 10 milhões de toneladas para poder reduzir o défice orçamental, actualmente nos cinco mil milhões de dólares (4,9 mil milhões de euros) por mês.
“A guerra está a matar a nossa economia. Está em coma”, afirmou o Presidente ucraniano.
Um alto funcionário do Governo turco garantiu esta quarta-feira que, depois do Razoni, estão reunidas as condições para a saída diária de três navios dos portos ucranianos do mar Negro. O ministro das Infra-estruturas da Ucrânia, Oleksandr Kubrakov, adiantou que estão nesta altura 17 navios carregados prontos a zarpar.
A Ucrânia espera exportar este ano 20 milhões de toneladas de cereais actualmente armazenados em silos, mais 40 milhões de toneladas da última safra, a partir dos portos de Odessa, Pivdennyi e Chornomorsk.
O Governo ucraniano actualizou entretanto as suas previsões para a colheita de 2022, de 60 milhões de toneladas para 65 a 67 milhões, informou o primeiro-ministro, Denys Shmygal.
Central nuclear “descontrolada”
Entretanto, a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) lançou esta quarta-feira o alerta de que que a central nuclear de Zaporijjia, a maior da Europa, “está completamente fora de controlo” e pediu à Rússia e Ucrânia que permitam uma visita urgente para evitar um potencial acidente.
Em declarações à AP, o director-geral da AIEA, Rafael Grossi, afirmou que a situação na central situada no Sudeste da Ucrânia e actualmente controlada pela Rússia está a ficar mais perigosa de dia para dia.
“Todos os princípios de segurança nuclear foram violados”, alertou Grossi, acrescentando que “o que está em jogo é extremamente grave e extremamente perigoso”. O chefe da AIEA avisou também que o abastecimento de equipamentos e peças de reposição foi interrompido, “pelo que não há certezas de que a central esteja a receber tudo o que precisa”.