Há uma pequena ilha no Pacífico que quer proteger 100% do seu mar

Niue é um lugar isolado, mas repleto de biodiversidade. Tem um dos maiores atóis de corais do mundo e uma serpente aquática que só existe ali. O objectivo é garantir a conservação total das águas e fazer frente às alterações climáticas, à pesca e à extracção desenfreada de recursos.

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O mar na ilha Niue NIUE OCEAN WIDE PROJECT

Há uma meta global para se proteger 30% de terra e 30% dos oceanos e dos mares até ao ano de 2030, mas a pequena ilha de Niue quer ir mais longe. Nesta ilha do Pacífico, o objectivo é proteger 100% do oceano pertencente à sua zona económica exclusiva (ZEE), que se estende ao longo de 317 mil quilómetros quadrados. É uma área do tamanho da Polónia e três vezes maior que Portugal – o que significa que a área que querem proteger no mar é mil vezes superior à superfície da ilha de Niue. O anúncio deste projecto, chamado NOW (Niue Ocean Wide), foi feito em Abril deste ano.

Além de ter um gigante atol de corais que ficam à superfície, as águas da ilha de Niue são também o único local em que se encontra a serpente aquática katuali (Laticauda schistorhyncha), que tem um estatuto de conservação vulnerável. As baleias-jubartes migram até às águas desta ilha para darem à luz e é nesta região que existe uma maior densidade de tubarões-cinzento-dos-recifes. E estas são as espécies mais conhecidas. Segundo um documento elaborado pela National Geographic, “muito do ambiente marinho de Niue não foi extensivamente estudado por ser um lugar longínquo e por não ter muitos portos seguros”.

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A serpente katuali só existe em Niue Wikipedia Commons

Esse documento de 2016 (que resulta de uma expedição à ilha) refere também que os ecossistemas marinhos de Niue são “altamente vulneráveis a factores antropogénicos e naturais, incluindo a actividade de pesca, tempestades e as alterações climáticas”. O aquecimento global também está a causar branqueamento dos corais.

Esta meta de protecção total envolve não só a conservação marinha, mas também a gestão costeira e desenvolvimento sustentável destas águas, com especial atenção para os impactos da poluição, da extracção humana e das alterações climáticas, segundo se lê no site do projecto. E é ainda referido que este compromisso se mantém em linha com a “tradição de só se tirar do oceano aquilo que é necessário para a vida e para as gerações futuras”. Antes, em 2020, a ilha já se tinha comprometido a proteger 40% das suas águas.

Assim, algumas das medidas em cima da mesa estão ligadas a uma maior fiscalização, mais sensibilização junto da população e também limites impostos à pesca (sobretudo a ilegal) e a criação de zonas de conservação em que não é permitida a paragem de navios. Quem quebrar as regras será obrigado a pagar uma multa.

Niue é um pequeno país insular da Polinésia com pouco mais de mil habitantes que fica perto de Tonga e das ilhas Cook (nestas últimas, também há a ambição de proteger a totalidade das suas águas). É um dos países mais pequenos e mais isolados do mundo, mas é um lugar repleto de biodiversidade.

Segundo a National Geographic, a ilha tropical que fica a 2400 quilómetros da Nova Zelândia tem um dos maiores atóis de corais do mundo, atingindo uma área de 259 quilómetros quadrados; há até registo de um coral numa altura de 68 metros acima do nível do mar.

O PÚBLICO tentou contactar o governo de Niue (uma região autónoma que tem acordos de governação com a Nova Zelândia) para saber mais informações sobre esta iniciativa, mas ainda não obteve resposta.

Em 2020, Niue tinha já sido considerado o primeiro país de céu escuro – a distinção “Dark Sky” significa que a ilha é um dos melhores locais para ver estrelas sem poluição luminosa. “O céu nocturno e as estrelas têm um enorme significado para o modo de viver das pessoas de Niue, de um ponto de vista cultural, ambiental e de saúde”, afirmava à data a responsável pelo turismo da ilha, Felicity Bollen. Fica claro que país protege não só o mar e a terra, mas também o céu.

Meta global visa 30% de protecção

A ilha de águas paradisíacas e solo quase intocado também aderiu à meta de proteger oficialmente 30% da terra e 30% do mar até 2030. Esta meta global que ainda está em discussão almeja proteger e restaurar a natureza nestes próximos anos. O mote é proteger 30% dos ecossistemas marinhos e 30% dos ecossistemas terrestres até 2030, incluindo 10% de protecção total.

Em 2021, a área marinha protegida no planeta era de apenas 8,1%. Mais de 100 países (incluindo Portugal) já afirmaram publicamente que pretendem proteger 30% dos oceanos a nível mundial até ao final da década.

Muitas vezes designada de “30x30” (30% de protecção até 2030), este compromisso colectivo deverá ser aprovado no final deste ano em Montreal, no Canadá, na segunda fase da 15.ª Conferência das Partes (COP15) da Convenção da Diversidade Biológica (CDB), um tratado internacional formalizado em 1992. A meta 30x30 é a principal bandeira das negociações actuais para o Quadro Global da Biodiversidade 2030, em que se faz um balanço dos desafios desta década e cujo principal objectivo é proteger a natureza e reverter as perdas de biodiversidade.