Orquestra ucraniana em digressão pela liberdade

Formada por 75 músicos ucranianos e dirigida pela maestrina canadiana Keri-Lynn Wilson, a Orquestra Ucraniana da Liberdade iniciou em Varsóvia um ciclo de concertos na Europa e nos Estados Unidos para “honrar os que morreram e sofreram” desde que as tropas de Putin invadiram o país.

Foto

Ovacionados de pé ainda antes de tocarem as primeiras notas, os músicos da Orquestra Ucraniana da Liberdade emocionaram este domingo o público que encheu o Royal Albert Hall, em Londres para ouvir a nova formação dirigida por Keri-Lynn Wilson, uma maestrina canadiana nascida em Winnipeg, cidade que acolhe a maior comunidade ucraniana da América do Norte.

A actuação da orquestra no prestigiado festival BBC Proms, naquela que foi apenas a sua segunda aparição pública após o concerto inaugural na capital polaca, Varsóvia, no dia 28 de Julho, recebeu elogios na imprensa britânica, com a musicóloga Flora Wilson a classificar, no Guardian, como “altamente impressionante e profundamente tocante” a prestação dos músicos ucranianos, que abriram com a Sinfonia n.º 7 do compositor ucraniano Valentin Silvestrov, de adequada tonalidade elegíaca, e interpretaram ainda obras de Chopin, Beethoven e Brahms.

Conhecida pela sigla inglesa UFO (Ukrainian Freedom Orchestra) – a mesma que designa os objectos voadores não identificados (Unidentified Flying Objects) –, esta orquestra nascida das circunstâncias criadas pela invasão russa, reúne instrumentistas ucranianos vindos de várias formações europeias, como a Orquestra Nacional da Bélgica, a Tonkunstler Orchestra de Viena, a Orquestra Real do Concertgebouw, em Amesterdão, ou mesmo a Orquestra Filarmónica de S. Petersburgo, que os irmãos Mark e Dmytro Kreshchenskiy integravam há já oito anos quando, logo nos primeiros dias da invasão, decidiram abandonar a Rússia.

E vários elementos da UFO tocavam nas principais orquestras do seu país – da Ópera Nacional de Kiev à Orquestra Sinfónica Nacional da Ucrânia e da Filarmónica de Lviv à Ópera de Kharkiv –, tendo recebido uma autorização temporária do Governo de Zelenski para se juntarem a esta digressão, que terminará a 20 de Agosto em Washington, nos Estados Unidos.

Keri-Lynn Wilson passava férias na Polónia quando as forças de Putin invadiram a Ucrânia e assistiu às primeiras vagas de refugiados, tendo logo então idealizado a formação desta orquestra, que começou a ganhar forma em Abril, com o apoio do Ministério da Cultura ucraniano, da Ópera Nacional da Polónia, dirigida por Waldemar Dabrowski, e da Metropolitan Opera de Nova Iorque, cujo director-geral, Peter Gelb, é casado com a maestrina canadiana.

“A música pode ser uma arma poderosa contra a opressão. Esta digressão pretende defender a arte da Ucrânia e os corajosos artistas ucranianos, que lutam pela liberdade do seu país”, afirmaram as duas instituições num comunicado conjunto. E Keri-Lynn Wilson salientou que para “os talentosos músicos” que dirige a participação neste ciclo de concertos é uma forma de “expressarem o seu amor pela pátria e honrar os que morreram e sofreram”.

Wilson fala russo e conhece bem o palco do Teatro Bolshoi, mas a orquestra que agora dirige não deverá incluir no seu reportório obras de compositores russos, a julgar pelas declarações à agência France Presse de Mark Kreshchenskiy: “A Rússia tem génios musicais, mas tudo o que venha da cultura russa terá de ficar, neste momento, entre parêntesis”.

A Orquestra Ucraniana da Liberdade actua esta segunda-feira em Munique, na Isarphilarmonie, vai no dia seguinte a França para participar no festival Chorégies d’Orange, perto de Avinhão, e regressa a 4 de Agosto à Alemanha, onde dará um concerto na Konzerthaus de Berlim.

A 6 de Agosto participa no Festival Internacional de Edimburgo, na Escócia, e dois dias depois actua na sala de concertos de Snape Maltings, na região inglesa de Suffolk.

Um concerto em Amesterdão, no Concertgebouw, a 11, outro na Elbphilarmonie de Hamburgo, na Alemanha, no dia 13, e um terceiro no National Concert Hall de Dublin, na Irlanda, a 15, fecham a etapa europeia desta digressão, que se encerra do outro lado do Atlântico, com duas actuações no Lincoln Center, em Nova Iorque (dias 18 e 19) e o concerto de encerramento, que terá lugar a 20 de Agosto no Kennedy Center, em Washington.

Sugerir correcção
Comentar