Quando Lori Carlson chegou à Licking County Humane Society, onde trabalha, recebeu um telefonema alarmante da divisão de controlo de animais de Newark, em Ohio. Um agente de liberdade condicional tinha visitado uma casa, na manhã de 22 de Julho, à procura de alguém que tinha violado a pena. Lá, descobriu dezenas de cães pequenos, chihuahuas e shih tzus, a viver na miséria juntamente com três pessoas. De acordo com o agente, os moradores pareciam ser acumuladores.
Todos os animais tinham pulgas e muitos pareciam ter infecções graves de pele, disse o agente a Carlson. Nenhum cão era esterilizado, e várias ninhadas de filhotes foram encontradas cobertas de fezes, urina e lixo.
Lori Carlson, directora executiva do abrigo, afirmou que, segundo o agente, os animais precisavam ser resgatados imediatamente. “Enviei três membros da Humane Society e logo vimos que não seria suficiente,” contou. “No início, disseram que eram cerca de 30 cães, mas esse número aumentou para 50. Depois descobrimos que, na realidade, eram 80 cães.”
“Os nossos agentes tiveram que rastejar pelos escombros para encontrar todos os filhotes e levá-los para a sua mãe”, referiu Carlson, acrescentando que o odor dentro da casa era insuportável. A equipa de resgate levou cinco horas e fez múltiplas viagens para transferir os cães para o abrigo da Humane Society.
Os cães tinham entre uma semana e 12 anos, disse Carlson.
“As pessoas na casa não tinham ideia de quantos cães estavam lá – estavam a reproduzir-se há muito tempo”, disse ela. “Fizemos muitos resgates ao longo dos anos, mas nunca um como este.” Foi o maior resgate na história do abrigo.
Depois de darem banho aos cães e levá-los ao veterinário, a equipa da Humane Society enfrentou um novo dilema: quem acolheria todos os cães?
“Nós não somos um abrigo grande, temos capacidade para 40 cães e 60 gatos. Felizmente, tínhamos acabado de construir um centro médico, então conseguimos deixar algumas jaulas lá.”
Apesar do espaço novo, a Human Society já tinha resgatado 52 gatos uma semana antes. “Agora, com o resgate dos cães, sabia que precisaríamos de ajuda da comunidade.” Assim, Lori Carlson entrou em contacto com o jornal local, o Newark Advocate, para divulgar que o abrigo precisava de doações para cobrir custos médicos, como esterilizações, tratamentos odontológicos e microchips, necessários para começar o processo de adopção.
Lori também divulgou uma lista de bens necessários que incluía ração para cães, lixívia, termómetros digitais, sacos de lixo e tapetes higiénicos para as crias.
Em seguida, Carlson ligou para vários adoptantes voluntários e pediu-lhes para acolher as cinco cadelas lactantes que tinham filhotes. A resposta do público foi impressionante.
“Itens da lista de desejos a caminho! Obrigado por tudo que vocês fazem”, comentou uma pessoa no Facebook.
“Obrigado pelo resgate – em oração para que todos os cães encontrem lares amorosos. Adoraria levar todos”, escreveu outro.
Kris Mitchell, uma tutora voluntária, ofereceu-se para acolher Mimi, uma mistura de chihuahua, e os seus quatro filhotes. A cadela foi encontrada com um pedaço de tubo de PVC no pescoço. “Os filhos estão bem, mas a mãe cadela bem exausta, como podem imaginar”, disse Kriss, 55 anos. “Ela é muito doce e mansa e o pêlo ainda tem falhas por causa das pulgas”.
“Estou feliz em dar à Mimi e aos seus filhotes um lugar calmo e tranquilo para que recuperem até que estejam todos prontos para encontrar lares amorosos”, acrescentou Mitchell.
Já Bethany Stickradt ofereceu-se para adoptar uma chihuahua chamada Lucy e a sua ninhada de quatro cães com uma semana de vida. “Já tenho três cachorros, então não posso ficar com nenhum, mas vamos trabalhar para ajudá-los a socializar e colocá-los em bons lares”, disse Stickradt, 33, que os pôs em canecas para uma foto para mostrar quão pequenos são – e também porque é adorável.
Bethany contou que Lucy é extremamente protectora com os seus bebés, mas que já permite que sejam acariciados e pesados. “É inconcebível para mim que alguém tenha tantos cães na sua casa”, disse Stickradt. “Certamente não aconteceu da noite para o dia. Fico a perguntar: ‘Como podemos evitar que coisas dessa aconteçam novamente?’”.
Segundo o Animal Legal Defense Fund, a acumulação de animais é um problema crescente nos EUA e cerca de 250 mil animais por ano sofrem abusos decorrentes desse problema, como desnutrição e condições médicas não tratadas.
Os acumuladores “mantêm um número anormalmente grande de animais para os quais não prestam nem os cuidados mais básicos”, alega o Animal Legal Defense Fund, no site oficial.
Em muitos casos, as pessoas que acumulam animais sofrem de doenças mentais, afirmou Lori Carlson. “É muito triste, mas também é difícil não sentir raiva”, disse. “Casos como esse são tão evitáveis e tão desnecessários. Esses cães viviam em condições horríveis e insalubres com muito pouco, ou nenhum, cuidado.”
Os 80 cães não tinham nomes, então a equipa da Humane Society tratou de nomeá-los. “Durante o resgate, a equipa tentava inventar nomes enquanto transportava cada cachorro”, contou Lori.
Quando as avaliações médicas estiverem concluídas, Carlson enviará as informações ao director legal do condado de Licking, que será responsável por apresentar quaisquer acusações criminais. “Vou recomendar acusações de violação das leis de animais de companhia em Ohio, que têm penas de até seis meses por acusação”, disse ela. “Gostaríamos de ter uma acusação para cada animal, ou seja, 80 casos.”
Alguns dos animais já foram colocados para adopção e Lori Carlson está ansiosa para encontrar lares felizes para os outros. “Eles merecem ter famílias que os tratem com amor e bondade”, disse. “À medida que entravam pela nossa porta, eu dizia, gentilmente: ‘A vossa vida melhorou.’”
Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post