Seca está a matar mais elefantes no Quénia do que a caça furtiva
O Quénia enfrenta sua pior seca em quatro décadas. A crise climática está a matar 20 vezes mais elefantes do que a caça furtiva, segundo autoridades.
A caça ilegal de marfim já representou no passado uma ameaça significativa para os elefantes do Quénia. Mas agora os gigantes do reino animal enfrentam um risco ainda maior: as mudanças climáticas.
Enquanto o Quénia enfrenta sua pior seca em quatro décadas, a crise está a matar 20 vezes mais elefantes do que a caça furtiva, segundo autoridades. Há relatos de carcaças ressequidas encontradas no Parque Nacional de Tsavo, para onde muitos animais selvagens fugiram nos últimos anos precisamente em busca de água.
Para sobreviver, os elefantes precisam de vastas paisagens para pastar. Os adultos podem consumir 300 quilos de comida e mais de 50 litros de água por dia. Mas os rios, o solo e as pastagens estão a secar, dando lugar a um ambiente árido e trágico.
No ano passado, pelo menos 179 elefantes morreram de sede, enquanto a caça furtiva matou menos de 10, disse à BBC o secretário de Turismo e Vida Selvagem do Quénia, Najib Balala. “É um alarme vermelho”, disse ele sobre a situação de seca hidrológica. Balala sugeriu que muito tempo e esforço foram gastos a abordar a questão da caça ilegal ao passo que as questões ambientais acabaram por ficar negligenciadas.
“Esquecemos de investir na gestão da biodiversidade e nos ecossistemas”, disse. “Investimos apenas no comércio ilegal de vida selvagem e na caça furtiva”. Nos últimos anos, as autoridades quenianas têm reprimido a caça furtiva, que tem como alvo girafas (com o objectivo de extrair a carne, os ossos e o pêlo) e elefantes (presas de marfim).
Penalidades mais pesadas para caçadores furtivos, comerciantes e financiadores foram introduzidas sob uma lei actualizada de gestão de vida selvagem e conservação que entrou em vigor em 2014. O pacote legislativo foi aclamado por dissuadir criminosos à medida que as populações de animais selvagens se recuperavam.
Em Setembro, o presidente queniano, Uhuru Kenyatta, declarou a seca hidrológica que varreu partes do país como um desastre nacional, com milhões de pessoas a enfrentar instabilidade alimentar e desnutrição.
Ajuda internacional
Na semana passada, a Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional (USAID) disse que forneceria quase 255 milhões de dólares (cerca de 250 milhões de euros) em ajuda ao Quénia, incluindo alimentos de emergência e apoio aos agricultores. Eles dizem que perderam até 70% das colheitas, junto com o gado. A agência disse que vai ajudar as comunidades nos condados áridos e semiáridos do Quénia, que estão a enfrentar os piores efeitos da seca.
Mais de 4 milhões de pessoas no Quénia estão a sofrer com escassez aguda de alimentos. Nos últimos meses, os casos de desnutrição infantil aumentaram em 50%, passando para 942.000, informou a Reuters. E não são apenas os elefantes que estão a morrer em decorrência das mudanças climáticas causadas pelo homem.
Sete milhões de cabeças de gado na Etiópia, Quénia e Somália morreram desde o Outono passado, de acordo com um relatório recente da Rede de Sistemas de Alerta Antecipado de Fome da USAID.
Carcaças de girafas, cabras, camelos e rebanhos de gado também foram encontradas em aldeias depois de morrer de fome no Norte do Quénia. Essas perdas podem ser desastrosas para as famílias, que enfrentam a insegurança alimentar como consequência, informou o Washington Post no ano passado.
Guardas florestais e caçadores tentaram ajudar os animais através do fornecimento de água e do plantio de árvores resistentes à seca, mas o período de seca foi implacável. A crise alimentar tem ainda sido agravada pela invasão da Ucrânia pela Rússia, que elevou os preços do trigo e do milho.
E enquanto o Quénia continua a enfrentar uma seca terrível, os Estados Unidos e a Grã-Bretanha também estão a lutar contra o aumento das temperaturas e paisagens queimadas em meio ao calor recorde.
Nos Estados Unidos, vários estados, incluindo a Califórnia, que está a enfrentar o terceiro ano consecutivo de seca, introduziram restrições de água. Na Grã-Bretanha, autoridades alertaram para uma seca e mais incêndios florestais em Agosto, após as temperaturas mais altas já registadas no país neste mês.