Estas são as “abelhas do mar” que ajudam a fertilizar algas marinhas
Ao contrário do que se pensava, a fertilização em plantas auxiliada por animais também acontece no mar. Estas são as “idoteas”, um isópode minúsculo que se abriga nas algas e aumenta o seu sucesso de reprodução.
Há uns pequenos animais marinhos chamados idoteas (Idotea balthica) que funcionam como os animais polinizadores que temos em terra – é como se fossem as “abelhas do mar”. É o nome dado por um grupo de cientistas que descobriu o papel que estes minúsculos animais têm no ciclo de reprodução da alga vermelha Gracilaria gracilis. O estudo que mostra que este tipo de “polinização” também acontece nas águas foi publicado na revista científica Science esta quinta-feira.
Estes isópodes – pequenos crustáceos invertebrados – têm entre dois milímetros a 2,5 centímetros de comprimento, mas “aumentam significativamente” o sucesso de fertilização da alga vermelha. Antes, pensava-se que a fertilização desta planta acontecia somente pela movimentação das águas, mas o grupo de cientistas descobriu que estes animais dão uma ajuda preciosa.
É quando nadam pelo meio destas algas que as “abelhas do mar” contribuem para a fertilização dessas plantas. As estruturas reprodutoras masculinas da planta produzem gâmetas cobertos por uma substância pegajosa. Quando uma idotea passa por essa estrutura, a matéria adere ao animal, que depois a deposita em qualquer alga fêmea com que esteja em contacto. E é assim que este pequeno animal ajuda a planta a proliferar-se.
Para o provar, foram feitas duas experiências: uma em que as algas ficavam separadas por 15 centímetros, com ou sem a presença destes isópodes; e, na segunda experiência, foram dispostas as plantas com a presença de idoteas que tinham sido “pré-incubadas” com a substância reprodutora masculina.
Na primeira experiência, os cientistas notaram que “o sucesso da fecundação era 20 vezes maior na presença de idoteas do que na sua ausência”, explica ao PÚBLICO por email a cientista Myriam Valero, principal autora do estudo. Isto comprova que estes pequenos animais “facilitam a dispersão de gâmetas masculinos e ajudam na fertilização desta espécie de alga vermelha”. Tal pode ser conseguido “de forma indirecta, com a criação de turbulência na água ao nadarem, ou de forma indirecta, ao transportarem o ‘esperma’ nos seus corpos”, explica a cientista.
Não é uma ajuda dada sem benefício. As idoteas aproveitam para se abrigar das correntes fortes no meio destas algas e alimentam-se de pequenos organismos que crescem nos talos. É um processo a que se dá o nome de mutualismo e, segundo os investigadores, esta é a primeira vez que tal se observa entre uma erva marinha e um animal. Antes, pensava-se que este método de “polinização” mediado por animais só acontecia em terra.
Mesmo sem a ajuda destes pequenos animais, as plantas também se reproduziriam através do movimento das águas – mas os isópodes “aumentam significativamente” essas probabilidades, lê-se no estudo. Antes da descoberta do grupo internacional (do Centro Nacional de Investigação Científica de França, que junta cientistas de universidades do Chile e França), que se debruçou sobre a “amizade” destes dois seres, pensava-se que o movimento da água era mesmo a única forma de dispersão dos gâmetas. A cientista Myriam Valero diz que há um “dogma” na comunidade científica de que a fertilização em meio marinho depende apenas do movimento das águas.
“Descobrimos que a maior parte da fertilização da G. gracilis acontece durante a maré baixa, quando os movimentos da água são mínimos, portanto acreditamos que a fertilização mediada por animais é importante nestas circunstâncias calmas”, diz a cientista do CNRS.
Assim sendo, esta descoberta pode significar que a fertilização de plantas auxiliada por animais acontece há mais tempo do que se estimava. Os cientistas acreditavam que este método tivesse surgido em plantas terrestres há 140 milhões de anos, mas as algas vermelhas existem há mais de 800 milhões de anos e o uso de animais intermediários pode ser já anterior ao surgimento dos polinizadores em terra – e até mesmo do surgimento das plantas terrestres.