Festas populares e festivais de música na origem de 340 mil casos de covid-19

Divulgado no início de Junho, o último relatório do Instituto Superior Técnico já previa que as festas populares se traduzissem num total de 350 mil contágios directos no país.

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Regresso do festival Rock in Rio ao Parque da Bela Vista, em Lisboa, a 16 de Junho Rui Gaudencio

As festas populares e os festivais de música que decorreram durante o mês de Junho, com destaque para o Rock in Rio, provocaram cerca de 340 mil casos de covid-19, estima o relatório do Instituto Superior Técnico (IST). Ao longo dos cerca de três meses desde o início da sexta vaga da pandemia, entre 25 e 26 de Abril, Portugal registou um total de 1.363.000 casos e 2331 óbitos associados à covid-19.

O balanço é feito num relatório do IST, a que a Lusa teve acesso esta quinta-feira, e que analisa a sexta vaga de covid-19 em Portugal, coincidente com o alívio de medidas restritivas e o regresso das festas populares e dos festivais de música.

No último relatório, os peritos antecipavam que a realização destes eventos, sem máscaras nem testagem, resultasse em 350 mil contágios directos no país. A realidade ficou ligeiramente abaixo, mas não muito distante.

De acordo com as estimativas mais recentes, houve cerca de 242 mil casos de covid-19 registados oficialmente devido às festividades dos santos populares e festivais como o Rock in Rio. “Se juntarmos os casos não reportados oficialmente atinge-se o número de 340 mil”, refere o relatório, produzido por Henrique Oliveira, Pedro Amaral, José Rui Figueira e Ana Serro, que compõem o grupo de trabalho coordenado pelo presidente do Técnico, Rogério Colaço.

Comparando com um cenário em que se manteria a testagem e a obrigatoriedade do uso de máscara em grandes eventos, a incidência estimada durante o mês de Junho seria inferior, referem os peritos, que sublinham que as medidas “não teriam impacto económico”.

Além desses eventos, o relatório recorda que a sexta vaga coincidiu também com o alívio de medidas restritivas e, entre os dois factores, o documento aponta mais 646 mil casos de contágio pelo SARS-CoV-2. Incluindo os casos não reportados, esse número aproxima-se dos 900 mil.

Mantendo as medidas sem impacto económico, designadamente o uso de máscara e a testagem gratuita, ter-se-ia registado igualmente uma sexta vaga, devido à variante Ómicron, mas “os seus efeitos seriam cumulativamente menores e a descida seria mais cedo e mais rápida”.

Em relação aos óbitos, os peritos apontam a morte de 790 pessoas com covid-19 devido ao levantamento das restrições e às festividades, dos quais 330 associados às festas populares de Junho. “O efeito aqui é mais lento e menor do que o efeito das medidas gerais, pois afecta directamente população mais jovem, mas leva a contágios em cascata que acabam por vitimar os mais susceptíveis a doença grave”, sustentam, em referência às festas populares.

Numa avaliação global da sexta vaga, os peritos esclarecem que se deveu sobretudo à nova linhagem BA.5 da variante Ómicron do SARS-CoV-2 e referem que a situação epidemiológica actual já revela uma tendência decrescente.

Ao longo dos últimos três meses, a letalidade registou uma subida mais acentuada em meados de Maio, tendo estabilizado depois em valores ligeiramente abaixo de 0,2%, reflectindo os efeitos do reforço vacinal, e situa-se actualmente nos 0,17%. No entanto, o grupo de trabalho ressalva que, olhando para a letalidade, parece notar-se “uma possível correlação com vagas de calor”.

Actualmente, o índice de transmissibilidade (Rt) fixa-se nos 0,90, em descida lenta devido “ao alívio de medidas e dos contágios de Junho que se repercutem em cascata em Julho, o que retardou a descida prevista da incidência”.

Ainda assim, e face à actual situação do país, o Indicador de Avaliação da Pandemia (IAP) do IST e da Ordem dos Médicos está nos 63,8 pontos, abaixo do nível de alarme e “com tendência de atingirmos os valores mais baixos de 2022”.

O IAP combina a incidência, a transmissibilidade, a letalidade e a hospitalização em enfermaria e em cuidados intensivos, apresentando dois limiares: o nível de alarme, quando atinge os 80 pontos, e o nível crítico, quando chega aos 100 pontos.

Apesar da redução significativa do perigo pandémico, os peritos reforçam a recomendação do uso de máscara em situação de maior risco de contágio e o reforço da monitorização a partir do mês de Setembro, alertando que “ter excesso de confiança é o risco que Portugal corre”.