Activistas do clima querem ocupar escolas no Outono em todo o mundo

Movimento internacional Fim ao Fóssil: Ocupa! quer parar as escolas e universidades entre Setembro e Dezembro para reivindicar o fim do uso de combustíveis fósseis.

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Manifestação pelo clima em Lisboa Miguel Manso/Público

Depois das marchas e das greves à escola, o movimento juvenil internacional que se organizou nos últimos anos para lutar contra as alterações climáticas anunciou o passo seguinte, com a ocupação de escolas e universidades. “Entre Setembro e Dezembro de 2022, ocuparemos centenas de escolas e universidades em todo o mundo para acabar com a economia fóssil a nível internacional sob o apelo à acção ‘Fim ao Fóssil: Ocupa!'”, lê-se em um texto publicado inicialmente nesta terça-feira no site internacional do movimento Fim ao Fóssil: Ocupa!, e num artigo de opinião do jornal britânico The Guardian.

O artigo é assinado por activistas de vários países europeus, como Portugal, Espanha, Alemanha, Reino Unido, e também de outros continentes, como a Costa do Marfim, a Índia, a Argentina, o México e os Estados Unidos. “Isto vai ser bastante internacional”, diz ao PÚBLICO Matilde Alvim, que pertence ao movimento e foi uma das pessoas que ajudou a escrever o texto. “A nossa expectativa é que se alargue ainda mais.”

O objectivo geral do movimento é travar o uso de combustíveis fósseis para que o aumento da temperatura da Terra, causado pelos gases com efeitos de estufa, não ultrapasse os 1,5 graus Celsius, em relação aos níveis de temperatura pré-industriais. A partir deste valor, prevê-se que os efeitos das alterações climáticas sejam mais drásticos e perigosos do que aqueles que estamos a viver. Esse patamar não está longe. Em 2021, a temperatura média da Terra foi 1,1 graus superiores ao valor pré-industrial, de acordo com a Organização Meteorológica Mundial.

No entanto, em cada país haverá objectivos específicos. Em Portugal, “queremos que o Governo declare fim ao fóssil até 2030, queremos o fim à influência dos combustíveis fósseis no Governo e a demissão do ministro da Economia, António Costa e Silva, que foi presidente-executivo da Partex”, avança Matilde Alvim. A Partex foi a petrolífera detida pela Fundação Gulbenkian até 2019, quando foi vendida a uma empresa estatal tailandesa. Costa e Silva, que fez um trajecto profissional ligado à indústria petrolífera, foi presidente-executivo da Partex a partir de 2003.

O espírito da convocatória é, por isso, combativo. “Não vamos parar de incomodar até que atendam estas reivindicações”, refere Matilde Alvim. Em Lisboa, já estão planeadas ocupações de estabelecimentos como o Liceu Camões e em várias faculdades da Universidade de Lisboa entre o fim de Outubro e início de Novembro, adianta a activista. Mas a acção é um convite para outros jovens se organizarem nos seus estabelecimentos de ensino. Qualquer iniciativa de ocupação que aconteça entre Setembro e Dezembro poderá fazer parte do movimento Fim ao Fóssil: Ocupa!.

“Precisamos de ser mais perturbadores do que nunca, pois essa é a nossa única hipótese de sobrevivência.”, lê-se no comunicado, que aproveita para criticar universidades internacionais que ainda investem em combustíveis fósseis. “Querem que nos sentemos na escola e aprendamos como se tudo estivesse bem. Mas o mundo para o qual estamos a aprender – o mundo que criou a crise climática – não tem futuro. A grande questão da nossa geração, ‘Como criar um mundo sem catástrofe climática?’, não será respondida se nos sentarmos na escola.”

Matilde Alvim vê nas ocupações uma oportunidade onde se podem criar espaços para imaginar o sistema futuro “que queremos ver”, relata. Esses espaços de conversa também poderão interligar o tema das alterações climáticas com outros problemas que surgem nos estabelecimentos de ensino, como “o assédio e o racismo”, acrescenta. Em relação ao risco deste novo formato de activismo desencadear mais anticorpos na sociedade, a activista é clara: “Há sempre anticorpos. Mas acho que os anticorpos que temos de criar terão de ser contra a indústria dos combustíveis fósseis e não contra nós, que estamos a imaginar um mundo onde este tipo de destruição não tem espaço.”