Uma torneira gigante que jorra plástico
Plástico foi recolhido na maior favela de África na altura em que se debatia um tratado internacional para regular o ciclo de vida dos plásticos.
É uma torneira gigante do tamanho de um prédio de três andares. De lá não sai água, mas sim plástico. “Estou sempre à procura de formas entusiasmantes de tornar o problema aborrecido do plástico em algo mais interessante”, escreve Benjamin von Wong, criador da estrutura, no seu site. A torneira tem viajado pelo mundo e também chegou ao Parque das Nações, em Lisboa, na altura da Conferência dos Oceanos.
“Praticamente cada bocado de plástico que alguma vez foi criado ainda existe neste planeta”, alerta o artista e activista climático canadiano. Benjamin von Wong também fez esculturas com mais de 160 mil palhinhas de plástico, dispostas de forma a parecer um mar dividido ao meio; fez uma gruta com milhares de copos de plástico; e uma escultura em que uma sereia fica afogada no meio de 10 mil garrafas de plástico.
Já esta torneira gigante foi criada com o plástico recolhido na maior favela de África, chamada Kibera e que fica em Nairobi, no Quénia. O objectivo era alertar os representantes presentes na quinta sessão da Assembleia da Nações Unidas para o Meio Ambiente para o problema do plástico.
Foi precisamente nessa sessão, em Março deste ano, que foi acordado que se criaria o primeiro tratado internacional juridicamente vinculativo para regular o ciclo de vida dos plásticos. Foi em Nairobi, no Quénia, que ministros do Ambiente, chefes de Estado, grupos empresariais e outros representantes de 175 países tomaram esta decisão. Até 2024, o tratado terá de ficar pronto. “Precisamos de fazer pressão nos líderes mundiais para controlar a situação”, diz o criador da instalação artística.
A criação da estrutura de nove metros de altura permitiu dar emprego temporário a mais de 100 moradores do bairro de Kibera, onde residem 1,2 milhões de pessoas. As embalagens de plástico foram tratadas e depois foram “cosidas” com um fio, para ficar uma só estrutura. Já a torneira foi construída com sistemas de ar condicionado de um edifício que estava prestes a ser demolido.
As conversas em torno do plástico acabam por se focar na parte da reciclagem e das limpezas de praias, lê-se no site do projecto, mas isso acaba por ser só lidar com as consequências. É preciso tratar-se da “raiz” do problema: a produção desta matéria barata, mas que é poluente e leva milhares de anos a desfazer-se. Como se lê no site do projecto, “a única solução e oportunidade é controlar a produção de plástico e garantir que se fecha a torneira do plástico”.