“Tentativas de agressão” entre Chega e PSD em Vila Franca de Xira obrigam a intervenção da PSP

Eleitos do Chega e do PSD identificados pela PSP após “tentativas de agressão” na última reunião da Assembleia Municipal vila-franquense.

Foto
Fotografia de arquivo Bruno Lisita

A PSP foi chamada à sessão desta terça-feira à tarde da Assembleia Municipal de Vila Franca de Xira, depois de dois episódios de alguma “confusão” e de alegadas “ameaças” e “tentativas de agressão”, que terão envolvido eleitos do Chega e da Coligação Nova Geração (PSD/CDS-PP/PPM/MPT). A reunião esteve suspensa durante quase meia hora e os agentes policiais levantaram um auto de notícia, identificando também eleitos daquelas duas forças políticas.

Tudo terá começado quando a reunião, que decorreu no Pavilhão Multiusos de Vila Franca de Xira, levava cerca de 54 minutos de duração. Gritos no fundo da sala levaram a presidente da Assembleia Municipal a decidir suspender os trabalhos. Rui Rei, presidente da concelhia do PSD e líder da bancada da Nova Geração, recomendou que fosse contactada a PSP para acalmar os ânimos e identificar os envolvidos.

A presidente da Assembleia chamou os líderes de bancada e terá sido nessa altura que surgiram algumas alegadas palavras em tom mais exaltado envolvendo o vereador do Chega, Barreira Soares, e Rui Rei. Com outros eleitos pelo meio os ânimos acalmaram e não se verificaram quaisquer agressões. Mas o clima da reunião ficou marcado.

O presidente da concelhia do Chega, Pedro Martins, emitiu uma nota em que, de forma algo metafórica, sustenta que “num reino não muito longínquo governava um REI, que por breves momentos aspirou a uma carreira cinematográfica”.

“Nesse mesmo reino habitava a independência, que independentemente da sua dependência, dependia de dependentes em decadência, tornando-se um reino-dependente mas independente. Como em qualquer reino há sempre um bobo da corte, neste caso um estrábico, que para fazer um favor à independência, lá fez um número de circo para entreter a malta. Em suma, o REI fez o que quis, a corte e os nobres não abriram a boca, com uma excepção, e a vida continua no reino encantado da pseudodemocracia”, conclui Pedro Martins.

Rui Rei não quer comentar este episódio, porque considera que seria dar-lhe a importância que não tem. Sublinha, contudo, que o que se passou tem inúmeras testemunhas entre os eleitos da câmara e da Assembleia Municipal. O PÚBLICO sabe, no entanto, que o líder da Concelhia social-democrata estará a equacionar a apresentação de uma queixa-crime contra o vereador do Chega, Barreira Soares.

Caso chega à câmara

Já na reunião desta quarta-feira da Câmara de Vila Franca, o caso acabou por ser abordado, na sequência de uma intervenção em que Barreira Soares realçava a necessidade de apoiar as forças de segurança. Fernando Paulo Ferreira (PS), presidente da câmara vila-franquense, observou que “uma das formas de ajudar a polícia é não obrigar a polícia a fazer intervenções como a que ontem fez na Assembleia Municipal, porque o senhor vereador Barreira Soares estava a tentar agredir um outro eleito municipal”.

Barreira Soares pediu a defesa da honra e sublinhou que o que aconteceu é, também, responsabilidade do presidente da câmara, porque Rui Rei “é o seu vice-presidente sombra, com quem combina nomeações”. Sobre os factos ocorridos na Assembleia, Barreira Soares diz que “está tudo gravado e a PSP vai perceber tudo. Também vai perceber que o eleito do PSD passou aqui (em frente à bancada dos vereadores) várias vezes a ofender-me e a senhora presidente da Assembleia não fez nada”, referiu.

Em resposta ao PÚBLICO, Barreira Soares afirma, ainda, que “o eleito Rui Rei agrediu, à entrada do pavilhão, no interior do edifício, um cidadão que assistia de pé, idoso, militante do Chega e eleito na freguesia de Vialonga”.

Antecedentes

O clima de “tensão” entre o vereador do Chega e os dois vereadores da Coligação Nova Geração (PSD/CDS-PP/PPM/MPT) já se manifestara em vários momentos. Os sociais-democratas chegaram a acusar Barreira Soares de apresentar várias propostas que repetiam temas anteriormente colocados pelo PSD. O autarca do Chega alegou que desconhecia essas intervenções do PSD e que as suas propostas tinham contornos próprios. Já em Março, o social-democrata David Pato Ferreira tentou mesmo entregar um “diploma” ao eleito do Chega, que o classificava como “mestre” na repetição de assuntos apresentados pelo PSD.

Barreira Soares acusou os sociais-democratas de falta de transparência e de manterem um “acordo” político “escondido” com a maioria PS que levaria à nomeação de dois sociais-democratas para a administração e direcção dos Serviços Municipalizados de Águas e Saneamento. Nesse contexto, afirmou que a “verdadeira” oposição na Câmara de Vila Franca de Xira é o Chega. Mas a “discussão” nunca atingira os contornos da passada terça-feira.

Este episódio surge, também, numa fase de alguma “convulsão” nas estruturas locais do Chega, onde a direcção do núcleo concelhio de Vila Franca de Xira apresentou a demissão em bloco no dia 15, alegando falta de apoio das estruturas distrital e central do partido. No dia seguinte, a distrital de Lisboa do Chega nomeou uma nova direcção para o núcleo de Vila Franca, liderado por Pedro Martins.

Mas, já na passada terça-feira, Diana Monteiro Neves, cabeça de lista do Chega nas últimas eleições para a Assembleia Municipal e líder da bancada do partido no órgão deliberativo vila-franquense (três eleitos), anunciou que passava ao estatuto de independente. Membro da direcção demissionária, Diana Neves explica que, poucos dias depois da sua nomeação, a nova estrutura concelhia (numa reunião em que não terá permitido a sua participação por videoconferência) decidiu retirar-lhe a liderança do grupo de eleitos na Assembleia Municipal, atribuindo-a a Diogo Monteiro.

“Não posso deixar de denunciar o apoio do presidente da distrital ao vereador Barreira Soares, e a sua postura tendenciosa e parcial, contrária ao que seria de esperar de alguém com as responsabilidades políticas no partido e na Assembleia da República e, sobretudo, em total desrespeito pelos princípios e valores de honestidade, transparência e meritocracia, que o partido defende. A postura frontal da anterior concelhia de Vila Franca de Xira, sempre em local próprio, incomodou o presidente da distrital”, sustenta Diana Monteiro Neves, afirmando que esta mudança da direcção concelhia já estaria a ser “preparada”.

Diana Neves considera todo este processo “uma falta de respeito” por todo o seu “trabalho e empenho” na Assembleia Municipal e no partido: “A partir de hoje serei autarca independente na Assembleia Municipal de Vila Franca de Xira, mantendo-me como militante do partido Chega, por ainda acreditar nos valores e ideologia fundacionais, mas retirando a confiança politica à distrital de Lisboa e ao actual núcleo Concelhio de Vila Franca de Xira.”

Sugerir correcção
Ler 11 comentários