National Gallery evoca Paula Rego com exposição em torno de mural dos anos 90

A obra da pintora portuguesa é agora mostrada pelo museu londrino em diálogo com o quadro renascentista de Carlo Crivelli que lhe serviu de inspiração.

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Ao fundo, a tela A Artista no seu Atelier, de 1993 Daniel Rocha

O mural que Paula Rego produziu no início dos anos 90 enquanto artista associada da National Gallery, no âmbito de uma residência artística, está exposto pela primeira vez no museu londrino juntamente com o quadro do século XV de Carlo Crivelli no qual a pintora portuguesa se inspirou.

A exposição, que decorre até 29 de Outubro de 2023, “convida os visitantes a estabelecerem comparações directas” entre as obras e pretende ser uma homenagem à artista, que morreu no passado dia 8 de Junho, aos 87 anos.

Na altura, foi pedido a Paula Rego que criasse um mural para a cafetaria da nova ala Sainsbury, inaugurada em 1991 e adjacente ao edifício do século XIX, tendo a artista produzido O Jardim de Crivelli. Inspirada no retábulo La Madonna della Rondine, que terá sido pintado depois de 1490, Rego re-imaginou a casa e jardim de Carlo Crivelli, um pintor italiano especialista em quadros para altares representando as vidas de santos.

No mural estão representadas figuras inspiradas pela Virgem Maria, Santa Catarina, Maria Madalena e Dalila, mas também outras mulheres de histórias bíblicas e mitológicas, e Paula Rego usou amigos, membros da família e até funcionárias do museu para servirem de modelos.

Segundo a National Gallery, a pintora quis “explorar as narrativas das mulheres na história bíblica e popular baseadas em quadros da colecção” do museu e em histórias de manuscritos medievais. Na exposição estarão alguns desenhos das sessões originais, bem como esboços para a obra final, permitindo aos visitantes compreenderem melhor o processo criativo de Paula Rego, disse o museu.

A National Gallery, fundada em 1824, é um dos mais importantes museus europeus e um dos mais visitados em todo o mundo, tendo no seu acervo uma colecção com mais de 2000 pinturas desde o século XIII, incluindo obras-primas de grandes mestres, como Leonardo da Vinci, Botticelli, Caravaggio, Rembrandt ou Rubens.