Estudo europeu liderado por Coimbra propõe estratégia agro-ambiental para melhorar produção agrícola

As cientistas Lucie Mota e Sílvia Castro dizem que a implementação de bordaduras florais é uma estratégia de sucesso para promover os polinizadores e a produtividade do girassol.

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O girassol é uma planta de polinização cruzada e os seus principais polinizadores são as abelhas Miguel Manso

Um estudo europeu, liderado por duas investigadoras da Universidade de Coimbra (UC) e publicado na revista Journal of Applied Ecology, propôs uma estratégia agro-ambiental para a protecção dos polinizadores e a melhoria da produção agrícola. “Em regiões com vegetação natural e seminatural, a implementação de bordaduras florais é uma estratégia de sucesso para promover os polinizadores e a produtividade do girassol”, concluiu o estudo, liderado pelas cientistas Lucie Mota e Sílvia Castro.

Em comunicado, a UC informa que o estudo contribui para mitigar os efeitos da intensificação das paisagens agrícolas. Isto é importante para satisfazer a crescente procura por alimentos e proteger os serviços dos ecossistemas, especialmente os vários grupos de polinizadores, vitais para a manutenção das culturas dependentes de polinização.

“As bordaduras florais são pequenas zonas, junto a campos agrícolas, com recursos florísticos que fornecem alimento — pólen e néctar — aos insectos polinizadores, especialmente quando a cultura agrícola não está em flor e os recursos alimentares são escassos”, explica Lucie Mota, primeira autora do artigo científico e investigadora do Centro de Ecologia Funcional da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC).

Neste estudo — que visou, por um lado, avaliar o efeito da implementação de bordaduras florais junto de campos de girassóis em duas regiões de agricultura intensiva, e, por outro, quantificar o impacto dessa implementação na produtividade do girassol —, as bordaduras florais foram obtidas “pelo semeio de uma mistura de sementes de espécies de plantas seleccionadas”.

“Assim, os insectos polinizadores alimentam-se do pólen e néctar destas flores, que florescem antes do girassol, transitando depois para a cultura agrícola quando esta se encontrar em floração”, esclarece Sílvia Castro, co-autora do estudo e também investigadora da FCTUC.

Dois anos em campos de girassol

O trabalho foi realizado ao longo de dois anos, em duas regiões de Espanha (Burgos e Cuenca), em campos de girassol com vegetação seminatural associada, com bordaduras florais implementadas e sem vegetação. Neste período, a equipa da UC, em colaboração com a Universidade Autónoma de Madrid e a Universidade de Burgos, registou as taxas de visita de polinizadores, através de observações directas, e quantificou tanto a produção como o peso das sementes, em 52 campos por ano.

As conclusões do estudo evidenciam que a implementação de bordaduras florais ou a manutenção de habitats seminaturais próximos de campos de girassol “mostraram efeitos dependentes do contexto paisagístico nas taxas de visita e na produtividade da cultura”. “Em agro-ecossistemas fortemente simplificados, estas intervenções podem não ser suficientes ou necessitam de mais tempo para produzir efeitos significativos. Mas, em regiões onde existe vegetação natural e seminatural, a implementação de bordaduras florais foi uma estratégia de sucesso para promover os polinizadores e a produtividade do girassol”, destacaram.

De acordo com as investigadoras, este estudo chama a atenção para a importância da conservação de zonas verdes, naturais ou seminaturais, numa paisagem agrícola. “Estas infra-estruturas verdes constituem habitats para os insectos polinizadores, que são fundamentais à produção de alimentos. Neste caso específico, a cultura do girassol permite, principalmente, a obtenção de óleos, mas isso só é possível através de uma polinização eficiente”, sustentam.

Infra-estruturas verdes naturais

No entender das cientistas, a conservação de habitats naturais permite a manutenção das comunidades de insectos polinizadores na zona agrícola e, assim, uma maior e melhor produção agrícola. “Em zonas cujos recursos florísticos disponíveis não sejam suficientes, a implementação de bordaduras florais parece ser uma boa estratégia agro-ambiental, combinada com a vegetação natural já existente. Contudo, em zonas agrícolas em que exista pouca ou nenhuma vegetação natural, esta estratégia por si só parece não ser suficiente, daí a importância da preservação de algumas infra-estruturas verdes naturais, próximas dos campos agrícolas”, concluem.

Este trabalho faz parte de um projecto mais vasto intitulado Poll-Ole-GI SUDOE, que é financiado pelo Programa Europeu Interreg-Sudoe e pelo Programa de Apoio da União Europeia para a Investigação e a Inovação Horizonte 2020 (Ecostack). Além da UC, participam no projecto a Universidade de Burgos, instituição líder do projecto, a Universidade Autónoma de Madrid, o Instituto Nacional de Pesquisa para a Agricultura, a Alimentação e o Ambiente (França) e o Centro Nacional de Pesquisa Científica (França).