O “mal deplorável” e o “erro desastroso” cometido pela Igreja Católica no Canadá

Papa Francisco conduziu uma missa campal para 50 mil pessoas num estádio em Edmonton, onde um dos líderes indígenas convidou a Igreja a reconstruir a relação fracturada com os povos originários do Canadá.

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O papamóvel teve de fazer várias paragens para que Francisco pudesse beijar e abençoar as crianças que lhe traziam AMBER BRACKEN/Reuters

O Papa Francisco elogiou esta terça-feira a tradição indígena de mostrar grande respeito pelos mais velhos aprender com eles, dizendo que a memória não deve ser perdida no “nevoeiro do esquecimento” da sociedade moderna.

Francisco está numa viagem de quase uma semana ao Canadá para pedir perdão pelo papel da Igreja Católica na gestão de internatos escolares que arrancaram crianças indígenas às suas famílias e se transformaram em locais onde o abuso se tornou constante.

As suas palavras foram especialmente pungentes para as comunidades indígenas porque os internatos, que duraram de 1870 a 1996, destruíram essa ligação entre gerações tão preciosa para as culturas indígenas.

Esta terça-feira, sentado por causa de problemas nos joelhos, conduziu uma missa campal no Commonwealth Stadium em Edmonton, capital da província de Alberta, onde mostrou esperança num “futuro onde a história da violência e da marginalização sofrida pelos irmãos e irmãs indígenas nunca mais se volte a repetir”.

A missa em Edmonton realizou-se depois de Francisco ter viajado até à vila de Maskwacis, onde se situavam dois desses colégios internos, para apresentar um pedido de desculpas histórico em que apelidou o papel da Igreja nas escolas e nessa assimilação cultural forçada como um “mal deplorável” e “um erro desastroso”.

Umas 50 mil pessoas assistiram à eucaristia, que se realizou no dia em que a Igreja católica celebra a festa dos avós de Jesus. Francisco, que muitas vezes fala sobre tudo o que aprendeu com a sua avó Rosa em Buenos Aires, aproveitou a ocasião para repetir o seu apelo às jovens gerações para estimar os seus avós e aprender com eles.

Francisco disse que os avós eram “um grande tesouro que preserva uma história maior do que eles próprios”. Acrescentou que a sociedade moderna deveria estar mais atenta aos dons dos mais velhos, que não devem ser deixados de lado só porque já não conseguem ser tão produtivos como antes.

“No nevoeiro do esquecimento que ensombra os nossos tempos turbulentos, é essencial cultivar as nossas raízes, orar por e com os nossos ancestrais, dedicar-lhes tempo para nos lembrarmos e guardarmos o seu legado. É assim que uma árvore genealógica cresce; é assim que o futuro é construído”, sublinhou o sumo pontífice.

Nunca esquecer, mas perdoar

Francisco entrou no estádio de pé no papamóvel, que fez paragens frequentes para que o papa pudesse beijar e abençoar as crianças que lhe traziam.

Antes de o Papa chegar, Phil Fontaine, antigo chefe da Assembleia das Primeiras Nações e um sobrevivente de um dos internatos, reflectiu na visita de Francisco a Maskwacis.

“Quero dizer-lhes, meus amigos, que estamos aqui a falar realmente de perdão. Nunca alcançaremos a reconciliação sem perdão”, disse Fontaine.

“Nunca esqueceremos, mas temos de perdoar. Convidamos a Igreja Católica a reconstruir a relação fracturada que tem connosco, por nós e por todos os canadianos”, acrescentou.

Fontaine é um dos líderes indígenas que se encontrou com o Papa no vaticano no princípio do ano e o convidou a visitar o Canadá. Reuters

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