Cinema de animação e filmes sobre “deslocados” marcam Festival de Cinema de Avanca
A 26.ª edição do festival está já em curso em Estarreja, mas as secções competitivas internacionais decorrem de quarta-feira até 31 de Julho.
Dois filmes portugueses de animação em estreia mundial, a abrir as secções competitivas esta quarta-feira, e a atenção aos “deslocados” vão marcar o programa da 26.ª edição do Festival de Cinema de Avanca, que começou já no fim-de-semana e vai decorrer até 31 de Julho em vários ecrãs desta freguesia de Estarreja e noutras terras do distrito de Aveiro.
As animações em causa são O Antiquário, de Manuel Matos Barbosa, e A Espuma e o Leão, de Cláudio Jordão, e vão ser exibidos na sessão oficial de abertura da competição, às 21h45, no Auditório Paroquial de Avanca.
O primeiro é o mais recente trabalho daquele decano da animação portuguesa, nascido em Oliveira de Azeméis em 1935, e que recentemente foi distinguido com o Prémio Arte & Técnica pela Academia Portuguesa de Cinema. Baseado num conto de Fialho de Almeida (1857-1911), O Antiquário é uma curta-metragem de 8 minutos produzida pelo estúdio Filmógrafo, conta com música de Joaquim Pavão e tem narração do actor Ruy de Carvalho.
A Espuma e o Leão, com a duração de 17 minutos, reconstitui “a intrépida travessia do pequeno caíque algarvio” de Olhão ao Rio de Janeiro, com que, após a Revolta de Olhão contra os invasores franceses, em Julho de 1808, “18 destemidos marinheiros levaram a notícia de Portugal livre à corte portuguesa refugiada em terras de Santa Cruz”, explica a organização do festival.
Esta sessão oficial de Avanca 2022 inclui ainda a homenagem a várias figuras que, ao longo dos últimos 25 anos, fizeram a história do festival aveirense.
O programa desta quarta-feira será ainda marcado pelo início da Conferência Avanca - Cinema, no Espaço Multimeios da Escola Egas Moniz: às 17h30, José Pina faz a apresentação do livro de que foi coordenador, Cento e Quarenta Anos do Teatro Aveirense, seguindo-se uma conversa sobre Cinema e media-art, promovida pelo Centro de Investigação em Arte e Comunicação (CIAC). Até sábado, serão apresentadas 120 comunicações, de autores de diferentes países.
Atenção às migrações
Mas o signo da selecção oficial de Avanca 2022 será Deslocados, abarcando os “migrantes, refugiados, retornados, foragidos e até degredados, proscritos, apátridas”, diz a organização, dando palco às produções cinematográficas que abordam “os grandes movimentos de deslocação de pessoas em tempo de conflitos desmesuradamente armados, da Síria, da Ucrânia, da África, para só referir os mais visíveis”.
No conjunto, o programa anuncia a exibição de 30 produções em estreia mundial, de um total de 134 filmes, entre longas e curtas-metragens, vindos de três dezenas de países. “Este festival é o reflexo de que a produção cinematográfica dos cinco continentes também se preocupa com estes deslocados”, disse na semana passada António Costa Valente, na conferência de imprensa de apresentação da 26.ª edição. Mas o director artístico do festival ressalvou não ser aquele “propriamente um tema”; é antes “um olhar e uma preocupação que obviamente está presente em muitos dos filmes que foram seleccionados”, explicou.
Entre as três dezenas de estreias, conta-se, esta quinta-feira (21h30), a de Viagens em Cabeças Estrangeiras, do realizador luso-francês António Amaral, que apresentará o seu filme ao lado do actor Julien Darney. Segue-se a curta-metragem Toutes les nuits, de Latifa Said, realizadora que em curtas e documentários tem também abordado o tema dos deslocados.
Organizado pelo Cine-Clube de Avanca e pela Câmara Municipal de Estarreja, o Avanca 2022 exibe os filmes das competições internacionais no auditório paroquial da terra e no Cinema Vida, em Ovar, e apresenta ainda sessões especiais no Cine-Teatro de Estarreja e no espaço Estação. Com Lusa