Nem só de pequenos peixes se alimenta o tubarão-baleia. Um conjunto de biólogos marinhos descobriu que os tubarões-baleia também comem plantas, o que faz deles o maior animal omnívoro do mundo. O tubarão-baleia (Rhincodon typus), que é o maior dos tubarões, é também o maior peixe que se conhece. Foram analisados 17 tubarões-baleia da costa de Ningaloo, na Austrália, e o resultado da investigação foi publicado esta segunda-feira na revista científica Ecology.
Para descobrir o que é que os tubarões-baleia andavam a comer, os investigadores recolheram várias amostras de possíveis alimentos deste peixe, como plâncton e algas de maiores dimensões. Depois, compararam os aminoácidos e os ácidos gordos presentes nessas amostras com aquelas que existiam na derme e nos excrementos dos tubarões-baleia. Nestes tubarões, encontraram compostos que são igualmente encontrados no sargaço, uma alga que se encontra normalmente à superfície da água. “Pensamos que, ao longo do tempo de evolução, os tubarões-baleia evoluíram a sua capacidade de digerir algum deste sargaço que ia para o seu interior”, afirmou o biólogo Mark Meekan, do Instituto Australiano de Ciência Marinha (AIMS) e o principal autor do estudo.
Os cientistas acreditam que os tubarões-baleia evoluíram para serem capazes de processar e digerir as plantas que acabam por ser apanhadas nas grandes bocas destes “gigantes gentis”. Como são animais muito grandes e precisam de muita energia, digerir algas e outras plantas seria uma mais-valia. “Isto faz-nos repensar tudo o que pensávamos que sabíamos sobre aquilo que os tubarões-baleia comem”, disse Mark Meekan num comunicado do AIMS. E o urso-de-kodiak deixa de ser o maior omnívoro (que come indiferenciadamente substâncias animais ou vegetais) do planeta.
Estes animais com muitas pintas (o que faz com que sejam conhecidos como “pintados” nos Açores) têm cerca de 12 metros de comprimento – o tamanho de um autocarro – e podem mesmo chegar aos 20 metros. As suas bocas podem ter mais do que um metro e, como no provérbio que diz que “nem tudo o que vem à rede é peixe”, também nem tudo o que é apanhado pelas bocas dos tubarões é peixe ou plâncton – também há plantas de dimensões maiores. “Um animal como o tubarão-baleia, que nada pelas águas com a boca aberta, acaba por ingerir muitas coisas diferentes”, explica o bioquímico orgânico Andy Revill. Foi ele o cientista que fez a análise que permite ver não só o que é que estes animais comem, mas também o que é que usam para conseguir energia e para crescerem.
Se se analisasse somente o que era ingerido, poderia dar azo a interpretações erróneas, já que algo pode ser comido e depois expelido. “Os isótopos estáveis analisados, como são mesmo integrados no corpo, são um reflexo melhor daquilo que os animais estão realmente a utilizar para crescerem”, explicou ainda Andy Revill.
Além de krill (o nome colectivo dado a um conjunto de espécies de animais invertebrados semelhantes ao camarão, e que servem de alimento a baleias e outros animais), estes tubarões afinal também comem plantas. “Também andam a comer uma quantidade considerável de algas”, comenta Mark Meekan. Os cientistas também analisaram os excrementos de tubarões-baleia e descobriram que comiam krill, mas que não processavam metabolicamente grande parte desse krill.
Um grupo de investigadores do Aquário de Okinawa, no Japão, também já tinha descoberto que os tubarões-baleia comiam plantas, após analisarem amostras de oito tubarões-baleia que tinham sido apanhados em redes de pesca.
Outro estudo publicado em Maio mostrava que a colisão com grandes navios era uma das causas da “mortalidade escondida” destes gigantes do mar, que se movem lentamente e encontram-se ameaçados. São também estes peixes que começaram a visitar regularmente as águas da ilha açoriana de Santa Maria – e, para desvendar esse mistério, o fotógrafo subaquático Nuno Sá fez um documentário chamado A Ilha dos Gigantes, que pode ser visto na plataforma RTP Play.