Alasca pode estar a caminhar para ano histórico em termos de fogos
Área ardida em 2022 já está nos 1,2 milhões de hectares no Alasca. Ano em que as chamas foram mais expressivas neste estado americano foi 2004: 2,6 milhões de hectares ardidos.
Há terrenos florestais de grande importância no Alasca, mas muitas pessoas, quando pensam nesse território, pensarão mais rapidamente no branco da neve que cobre as montanhas do que no verde. Faz sentido: falamos do estado em que as temperaturas são mais baixas nos EUA. Mas há uma terceira cor que está, cada vez mais, a surgir na equação. O vermelho, cor dos incêndios que têm colocado a região de sobreaviso.
Este ano, a área ardida no Alasca, o maior (e também o mais escassamente povoado) estado dos EUA, já ascendeu aos 1,2 milhões de hectares. Ainda não estamos perante um valor histórico: o ano em que houve mais incêndios no Alasca continua a ser 2004, quando, ao todo, arderam cerca de 2,6 milhões de hectares. Mas teme-se que este ano de 2022 não chegará ao fim sem que essa marca seja ultrapassada.
O Alasca já teve de lidar com mais de 530 fogos este ano. Como o estado é escassamente povoado — apenas 736.990 habitantes, de acordo com um censo de 2020 —, os incêndios não costumam levar a que as pessoas tenham de sair das suas habitações. Mas alguns moradores já tiveram de o fazer este ano. E pelo menos uma pessoa já morreu na sequência de um fogo (um piloto de helicóptero perdeu a vida em Junho; despenhou-se enquanto transportava equipamentos para bombeiros).
Recentemente, tem havido alguma precipitação, o que tem ajudado a combater as chamas. Mas, no seu todo, o quadro meteorológico está longe de ser favorável: os dias têm sido quentes e não há muita humidade atmosférica. Além disso, têm sido registados episódios de trovoada.
A agência norte-americana Associated Press (AP) sublinha que esses episódios são relevantes neste contexto porque, habitualmente, pouco mais de metade de todos os incêndios observados no Alasca tende a deflagrar devido ao impacto de relâmpagos. A acção humana, acidentalmente ou por negligência, provoca os restantes fogos.
Isto na teoria, ou historicamente. A AP relata que, este ano, a história tem sido diferente. Nestes primeiros sete meses de 2022, a mão humana terá sido responsável pela queima de apenas cinco quilómetros quadrados no Alasca. Lembre-se que a área ardida já chega aos 12.140 quilómetros quadrados (os tais 1,2 milhões de hectares).
O ano está a ser tão atípico que têm acontecido fogos em áreas onde a ocorrência de incêndios é bastante rara. A 31 de Maio, um grande relâmpago fez deflagrar um fogo no delta onde os rios americanos Kuskokwim e Yukon desaguam no mar de Bering. As chamas colocaram 700 moradores de sobreaviso, mas os bombeiros conseguiram conter um fogo que, tendo consumido uma área de 671 quilómetros quadrados, passou a ser o maior incêndio alguma vez registado naquele delta.
O impacto da crise climática
Citado pelo jornal britânico The Guardian, Rick Thoman, que integra o Centro de Avaliação e Política Climática do Alasca, assinala que os episódios de trovoada, a seca, ventos fortes e ainda o derretimento precoce de neve têm, em conjunto, contribuído para um cenário que é propício à ocorrência de um número elevado de fogos florestais.
O The Guardian escreve que, em apenas quatro dias no mês de Julho, foram registados quase 40 mil relâmpagos no Alasca. Segundo o jornal britânico, o estado costuma apresentar uma média de aproximadamente 60 mil relâmpagos por ano. Rick Thoman comenta que este número elevado de relâmpagos está a resultar do aumento das temperaturas — que, por seu turno, está a levar ao aumento de vapor na atmosfera.
A própria paisagem ajuda à propagação das chamas. À AP, Rick Thoman diz que, fruto de “décadas de Primaveras e Verões mais quentes na região”, a vegetação nas florestas do Alasca está a ficar mais densa. Isso dificulta o trabalho dos bombeiros, pois os incêndios conseguem adquirir proporções significativas com mais facilidade.
Não é, contudo, necessário tentar combater todos os incêndios no Alasca. Os bombeiros tendem a actuar apenas quando há fogos perto de zonas residenciais. Quando as chamas atingem zonas mais despovoadas, permite-se que elas procedam a uma espécie de renovação dos ecossistemas, consumindo detritos e árvores enfraquecidas. Posteriormente, a queda de chuva — ou neve — apaga os incêndios.
Esta estratégia não produz sempre resultados muito favoráveis, no entanto. A AP faz referência a um dia em que dois incêndios que haviam deflagrado perto do lago Iliamna, localizado na zona Sudoeste do Alasca, se juntaram. Num dia, as chamas consumiram 194 quilómetros quadrados de floresta. Criou-se uma nuvem de fumo e cinzas que, devido à acção de ventos fortes, viajou centenas de quilómetros, tornando a qualidade do ar “extremamente insalubre” na cidade alasquiana de Nome.
“Nunca teria pensado que é possível o ar ficar tão poluído por causa de um incêndio a 400 milhas [mais de 640 quilómetros] de distância. Dá para ter uma noção de quão quentes aqueles fogos foram”, contou Rick Thoman à AP.
A agência de notícias norte-americana salienta que, historicamente, o pior das épocas de incêndios no Alasca costuma surgir apenas mais tarde no ano, pelo que há preocupações relativamente ao que ainda pode acontecer em 2022.