Bruxelas abre quatro novos processos contra Londres por incumprimento do protocolo da Irlanda

Comissão Europeia lançou nova ofensiva jurídica depois da aprovação, pela Câmara dos Comuns, de uma polémica lei que revoga unilateralmente a aplicação do protocolo da Irlanda.

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Bruxelas insiste que o protocolo da Irlanda tem de continuar a ser integralmente respeitado CLODAGH KILCOYNE/Reuters

A Comissão Europeia iniciou, esta sexta-feira, quatro novos procedimentos de infracção contra o Reino Unido, para garantir que as autoridades britânicas cumprem integralmente as suas obrigações e os termos fixados no protocolo da Irlanda anexo ao acordo de saída da União Europeia.

A notificação de Bruxelas chegou a Londres um dia depois de a Câmara dos Comuns ter aprovado uma polémica proposta de lei que desvincula o país do protocolo da Irlanda. A proposta legislativa, aprovada por 267 votos a favor e 195 contra, sobe agora à Câmara dos Lordes, que só deverá iniciar o debate depois do Verão.

“Há um tratado internacional em vigor que foi negociado, assinado e ratificado por ambas as partes”, assinalou o porta-voz da Comissão Europeia, Eric Mamer, depois de confirmar a abertura dos novos procedimentos de infracção contra o Reino Unido — o executivo comunitário não podia ficar quieto perante as “manobras” legislativas do Governo britânico, justificou.

“O que devia estar a acontecer era a implementação desse tratado internacional em conjunto. O simples facto de ter sido apresentada e aprovada uma proposta de lei para alterar unilateralmente a forma como se aplica o protocolo da Irlanda é totalmente inapropriado”, considerou.

A polémica lei foi assinada pela ministra dos Negócios Estrangeiros, Liz Truss, que está a disputar a liderança do Partido Conservador com o ex-ministro das Finanças, Rishi Sunak. O vencedor das eleições internas dos tories será o próximo primeiro-ministro do Reino Unido.

Estes quatro novos processos juntam-se a outros três procedimentos, lançados pela Comissão no início de Junho, igualmente relacionados com o incumprimento das obrigações de reporte aduaneiro e controlo fitossanitário dos produtos que entram na Irlanda do Norte provenientes das três nações da Grã-Bretanha.

Desta feita, o que está em causa é o incumprimento pelo Reino Unido dos requisitos de supervisão e controlo de risco na circulação de mercadorias da Irlanda do Norte para a Grã-Bretanha, não transposição das regras da UE em matérias de impostos especiais de consumo e sobre o álcool e bebidas alcoólicas e falhanço na cobrança do IVA para o comércio electrónico.

O Reino Unido ainda não respondeu à notificação de Junho de Bruxelas, e um porta-voz de Downing Street lamentou esta sexta-feira que “a União Europeia tenha optado por iniciar novos procedimentos judiciais, particularmente relativos a produtos que saem da Irlanda do Norte para a Grã-Bretanha e que, como é evidente, não colocam em risco o mercado único da UE”.

O porta-voz disse que os recursos judiciais de Bruxelas “não resolvem os problemas com que se confrontam as famílias e as empresas da Irlanda do Norte”, que segundo Londres serão corrigidos com a entrada em vigor da legislação que revoga unilateralmente a aplicação do protocolo da Irlanda.

Bruxelas insiste que só o respeito integral dos termos do protocolo da Irlanda permite que a Irlanda do Norte “continue a beneficiar do seu acesso privilegiado ao mercado único europeu”. Os controlos alfandegários e fitossanitários dos bens que circulam pelos vários países do Reino Unido são obrigatórios para a UE proteger a saúde e segurança dos consumidores europeus, e garantir a integridade do mercado único, repetiu o porta-voz da Comissão.

O Governo britânico tem um prazo de dois meses para responder à notificação de Bruxelas, e oferecer um remédio para corrigir as irregularidades apontadas. Downing Street disse que vai “rever os argumentos da UE e responder oportunamente”. Se a resposta não for considerada satisfatória, a Comissão Europeia produzirá uma “opinião fundamentada” para poder remeter o caso para o Tribunal de Justiça da UE.

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