Texto de Sophia no Exame de Português tornou-o “inesperado” mas ainda assim “coerente”
Para a Associação de Professores de Português, “aquilo que é solicitado aos alunos é coerente com o que é expectável do perfil dos alunos à saída da escolaridade obrigatória, depois de frequentarem 12 anos de português”.
Um primeiro grupo “inesperado” que faz com que os resultados do exame nacional de segunda fase de Português do ensino secundário sejam “imprevisíveis”. É assim que Carmo Oliveira, que foi indicada pela Associação de Professores de Português (APP) para comentar o exame ao PÚBLICO, descreve a prova desta sexta-feira. Quanto aos grupos referentes à gramática e à escrita (composição), “não tinham grandes dificuldades”, defende.
Para Carmo Oliveira, e também para os colegas que leccionam a disciplina com quem comentou a prova, foi com surpresa que viu, do lado da educação literária, que a prova incluía “um autor que não está contemplado nas aprendizagens essenciais”. Este foi o caso da Parte A do Grupo I, como descreve, do qual consta um texto de Sophia de Mello Breyner Andresen. “[A autora] aparece nas propostas de projecto de leitura do antigo programa, mas não aparece nas aprendizagens”, aponta.
Por outro lado, além de Sophia, saiu um texto de Cesário Verde. “A Parte B apresenta Cesário Verde, que faz parte das aprendizagens essenciais mas só na parte do sentimento ocidental. E este é um poema que apresenta o retrato da mulher, nem sequer é contemplado. Portanto, o exame não vai buscar nenhum conteúdo literário que esteja contemplado nas aprendizagens essenciais”, reflecte a professora.
Apesar disso, vê coerência no exame. “Aquilo que é solicitado aos alunos é coerente com o que é expectável do perfil dos alunos à saída da escolaridade obrigatória, depois de frequentarem 12 anos de português. É só um bocadinho experimental”, sublinha.
"Mais difícil"
Isso significa que esta foi uma prova “completamente inesperada” para “os alunos mais estudiosos e formatados, os que se dedicam mais ao estudo dos conteúdos”. Do lado oposto, “para os alunos que trabalharam devidamente as competências ligadas ao estudo literário foi perfeito”. “Mas foi difícil porque o primeiro texto, por exemplo, é todo ele irónico”, ressalva.
Depois de os alunos terem tido de enfrentar, na primeira fase, Fernando Pessoa e Camões, encontrar agora uma prova sem qualquer autor contemplado nas aprendizagens essenciais foi algo com que “nenhum professor estava a contar”. E é por isso que Carmo Oliveira diz que os resultados são “imprevisíveis”.
Quanto ao resto do exame, a APP é da opinião de que “o segundo grupo, o da gramática, não tinha grandes dificuldades”. “O texto era um bocadinho conceptual mas creio que os alunos também conseguem entender aquilo que lá está e na parte da composição tinham de falar da liberdade individual na tomada de decisões que é um tema sobre o qual discutem muito. Portanto, não é nada problemático”, remata.
O exame de Português deixou de ser obrigatório para todos os alunos desde que, em 2020, estas provas do secundário passaram a servir apenas para acesso ao ensino superior de modo a minorar os efeitos da pandemia no desempenho dos alunos.