Sensores vão medir em tempo real qualidade das águas subterrâneas
Projecto da Faculdade de Ciências e Tecnologia (FCT) da Universidade Nova recebe financiamento europeu. Será testado em Portugal e noutros países, na Europa e em África, e pretende apoiar o processo de tomada de decisões políticas.
A qualidade de águas subterrâneas vai ser medida em tempo real com o objectivo de se prevenir o impacto das alterações climáticas e da actividade humana, num projecto desenvolvido em Portugal e que se espera que se espalhe pelo mundo.
Chamado MAR2PROTECT, o projecto liderado pela Faculdade de Ciências e Tecnologia (FCT) da Universidade Nova recebeu um financiamento superior a quatro milhões de euros, no âmbito das Acções de Investigação e Inovação do Programa Horizonte Europa.
A ferramenta digital de inteligência artificial, desenvolvida numa coordenação dos investigadores da FCT Ana Pereiro e João Araújo, vai receber informações em tempo real de sensores colocados em locais de risco. Com estas informações espera-se poder proteger as águas subterrâneas de toda a União Europeia, explica a FCT num comunicado.
“O objectivo é apoiar os decisores políticos no combate à degradação da qualidade da água”, diz-se no documento. Em declarações à agência Lusa, a investigadora Ana Pereiro diz que a ferramenta poderá no futuro ser usada não só na União Europeia como em países de todo o mundo.
Rios Lima e Tejo
O projecto, explica à Lusa, acabou de ser aprovado e será desenvolvido até 2024. Nos dois anos seguintes, até 2026, serão colocados os sensores para analisar as águas, em sete locais, dois dos quais em Portugal, um no rio Lima e outro em Frielas, nas águas do Tejo atlântico, que servem municípios da área metropolitana de Lisboa.
Outros sensores serão colocados em Itália, Espanha, Holanda, Tunísia e África do Sul, de forma a receber informações variadas, ligadas às alterações climáticas ou à poluição.
“Em Frielas o sensor vai identificar contaminantes como pesticidas ou antibióticos”, e no estuário do rio Lima o objectivo é idêntico, diz Ana Pereiro, investigadora principal da Universidade.
Outra parte importante do MAR2PROTECT relaciona-se com as alterações climáticas e a falta de água, que leva os rios a terem um caudal mais diminuto e por isso a sofrerem um aumento da quantidade de água do mar.
Os sensores, resume, irão quantificar em tempo real a qualidade dessas águas, a qualidade dos aquíferos, e assim prevenir contaminações e aumentar a qualidade. Os responsáveis pelo projecto, ao mesmo tempo que colocam os sensores, irão ter reuniões com os “actores” locais.
Os sensores, ainda segundo Ana Pereiro, serão de vários tipos, com capacidade de identificar diversas situações ao mesmo tempo.
Ana Pereiro salienta que a União Europeia está muito empenhada em medidas que aumentem a qualidade das águas subterrâneas e garante que o MAR2PROTECT, que tem como grande objectivo a prevenção, “será útil para a tomada de decisões dos agentes políticos”.
“O MAR2PROTECT procura um forte envolvimento de entidades legisladoras nacionais e europeias que, em colaboração com diferentes especialistas, garantirão o reforço das políticas europeias e a colaboração para pôr em prática políticas para prevenir a contaminação das águas subterrâneas”, diz também Ana Pereiro, citada no comunicado.
O documento alerta que as alterações climáticas e globais têm “um sério impacto na saúde e bem-estar humanos, bem como na segurança alimentar e na biodiversidade”, e que as metas de “poluição zero planeadas para 2030 pela União Europeia só poderão ser atingidas se acções urgentes forem tomadas”.