Borboleta-monarca entra na lista vermelha de espécies ameaçadas
A nova lista vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza também é desanimadora para os esturjões: todas as espécies estão em risco de extinção. Mas o número de tigres no planeta cresceu.
Uma subespécie da borboleta-monarca, uma das mais famosas do mundo, foi classificada como ameaçada pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), a entidade científica de referência para a avaliação do estado de cada espécie.
A mais recente actualização da Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da UICN também é desanimadora para os esturjões: todas as espécies sobreviventes estão neste momento em risco de extinção, uma evolução negativa em relação à avaliação de 2009, que já classificava 85% das espécies. O esturjão-do-yangtzé, um peixe natural da China, passou do patamar de “severamente ameaçado” para “extinto”. Mas há uma boa nova: o número global de tigres registou um aumento de 40% face à avaliação anterior.
A decisão de classificar a borboleta-monarca como ameaçada surge na sequência de uma queda populacional da subespécie Danaus plexippus plexippus. Este declínio tem duas causas principais, segundo a UICN: além das mudanças climáticas, houve uma forte redução das plantas que servem de alimento para as lagartas (que depois se transformam em borboletas), assim como das florestas onde as borboletas adultas passam o Inverno.
As monarcas tornaram-se conhecidas – e muito queridas – por causa da migração extraordinária que fazem. Estas borboletas realizam anualmente uma viagem do Sul para o Norte, percorrendo cerca de quatro mil quilómetros entre o México e a Califórnia (onde gostam de passar o Inverno) e a região mais a Norte onde se reproduzem no Verão (região Norte dos Estados Unidos e Canadá).
“A população nativa encolheu entre 22% e 72% na última década. A extracção de madeira (tanto legal como ilegal) e o desmatamento para dar espaço à agricultura e ao desenvolvimento urbano já destruíram áreas substanciais do abrigo de Inverno das borboletas no México e na Califórnia, ao passo que pesticidas e herbicidas usados na agricultura intensiva em toda a região matam borboletas e as plantas do género Asclepias, o hospedeiro vegetal de que as larvas da borboleta-monarca se alimentam”, refere o comunicado da UICN divulgado quinta-feira.
“É muito difícil ver as borboletas-monarcas, e sua extraordinária migração, à beira do colapso. Mas há sinais de esperança. Tantas pessoas e organizações se uniram para tentar proteger esta borboleta e o seu habitat: desde plantar Asclepias nativas e reduzir o uso de pesticidas até apoiar a protecção de locais de hibernação. Todos temos um papel a desempenhar para garantir que esse insecto icónico se recupere totalmente”, disse a entomóloga Anne Walker, membro da secção da IUCN dedicada às borboletas, que liderou a avaliação desta subespécie ameaçada.
Relativamente ao uso de herbicidas – nomeadamente o polémico glifosato –, Anne Walker acrescentou ao jornal New York Times: “O glifosato foi subitamente pulverizado sobre uma vasta área de cultivo na zona Centro-Oeste. Isto eliminou muitas plantas Asclepias das quais as lagartas dependem.”
Para chegar à decisão sobre a inclusão da borboleta-monarca na lista vermelha, a equipa fez uma revisão de cerca de 100 estudos científicos, entrevistou diversos especialistas e ponderou os critérios da Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas para o grupo dos lepidópteros.
A crise climática contribuiu para a queda populacional através de eventos climáticos extremos cada vez mais frequentes e intensos. A seca hidrológica, por exemplo, limita o crescimento das Asclepias e cria as condições perfeitas para incêndios de grande dimensão. Já a subida das temperaturas faz com que as migrações da borboleta-monarca comecem mais cedo, antes de as Asclepias estarem disponíveis para serem devoradas pelas lagartas da monarca. As ondas de calor, por sua vez, terão levado à morte de milhões de borboletas.
“A actualização da lista vermelha destaca a fragilidade das maravilhas da natureza, como o espectáculo único de borboletas-monarcas migrando por milhares de quilómetros”, disse Bruno Oberle, director-geral da UICN.
“Para preservar a diversidade da natureza, precisamos de áreas protegidas geridas com eficácia, juntamente com acções decisivas para combater as mudanças climáticas e restaurar os ecossistemas. Como retorno, a conservação da biodiversidade apoia as comunidades, fornecendo coisas essenciais como alimentos, água e empregos sustentáveis”, acrescentou Oberle no comunicado.
Os esturjões e os tigres
A lista vermelha da UICN inclui agora 147.517 espécies, das quais 41.459 estão em risco de extinção – o que equivale 28% deste inventário. Estão incluídas neste subgrupo todas as 26 espécies de esturjão que ainda restam no mundo. As avaliações globais são baseadas em cálculos sofisticados que revelam se declínio nas últimas três gerações é mais acentuado do que se pensava anteriormente.
Hoje 17 espécies de esturjão estão classificadas como “severamente ameaçada”, três como “ameaçadas” e cinco como “vulneráveis” na Lista Vermelha da IUCN. O esturjão-do-yangtzé (Acipenser dabryanus) passou de severamente ameaçado para extinto na natureza. A reavaliação global também confirmou a extinção do peixe chinês Psephurus gladius.
Entre as espécies severamente ameaçadas está o esturjão-branco (Huso huso), que pode medir até oito metros e pesar até 1700 quilos. A sobrepesca dos esturjões ocorre há séculos em decorrência do interesse comercial despertado pelo caviar e pela sua carne. “Apesar de protegida pelo direito internacional, a caça furtiva continua a afectar mais da metade dessas espécies. Uma aplicação mais forte dos regulamentos sobre a venda ilegal de carne de esturjão e caviar é fundamental para impedir novos declínios”, refere o comunicado da UICN.
A exemplo do que se passa com as borboletas-monarcas, a crise climática também não tem ajudado os esturjões. O aquecimento dos rios prejudica a reprodução destes peixes, que já era afectada pelas barragens que funcionam como obstáculos durante a migração para os locais de reprodução.
Para garantir a sobrevivência do esturjão a longo prazo, a UICN refere que é preciso não só apostar na construção de canais que permitam a passagem dos peixes, mas também promover o repovoamento, estratégias que se revelaram eficazes para espécies como o esturjão-adriático (Acipenser naccarii), também severamente ameaçado.
Restam os tigres para dar uma nota final de esperança. Os números actualizados revelam a existência de 3726 a 5578 tigres na natureza em todo o mundo. O aumento de 40% desde a última avaliação de tigres, realizada em 2015, deve-se à melhoria na monitorização destes animais, que revelou um valor total maior do que se pensava anteriormente.
Embora o tigre continue na lista vermelha, a tendência populacional deste mamífero sugere que a recuperação será possível se os esforços de conservação se mantiverem. Entre as ameaças enfrentadas pelos tigres estão a caça furtiva destes animais ou das suas presas, assim como a fragmentação ou degradação dos ecossistemas onde vivem para dar lugar à agricultura ou zonas de povoamento humano.