BCE sobe taxas de juro em 0,5 pontos, o primeiro aumento desde 2011

Subida de 0,5 pontos percentuais nas taxas de juro, mais forte do que a planeada há um mês, mostra preocupação do BCE com a inflação. Novo instrumento para evitar escalada dos juros da dívida nos países periféricos foi aprovado, sem limites pré-estabelecidos ao volume de compras de dívida que o banco central pode realizar.

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Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu Reuters/POOL

Num sinal de crescente preocupação com a escalada da inflação que se regista neste momento na zona euro, o Banco Central Europeu (BCE) não só subiu esta quinta-feira, pela primeira vez em mais de 10 anos, as suas principais taxas de juro de referência, como o fez em 0,5 pontos percentuais, um movimento mais forte do que aquele que tinha planeado na reunião realizada há um mês. E novas subidas estão já no horizonte.

No final da reunião do conselho de governadores realizada em Frankfurt esta manhã, a entidade liderada por Christine Lagarde confirmou, em comunicado, aquilo que vinham sendo, nos últimos dias, as novas expectativas no mercado: a de que o BCE iria optar por uma subida das taxas de juro ainda maior do que a pré-anunciada em Junho.

A subida da taxa de inflação na zona euro — que se cifrou em 8,6% em Junho — e o risco de a escalada dos preços se intensificar e generalizar ainda mais por causa da recente perda de valor do euro face ao dólar, são os motivos por trás da decisão tomada.

Em Junho, no final da reunião anterior do BCE, Lagarde tinha anunciado que na reunião desta quinta-feira iria subir as taxas de juro em 0,25%. Mas, nos últimos dias, com o euro a atingir a paridade com o dólar (o que conduz a um encarecimento automático de produtos importados como o petróleo), um combate mais forte e imediato contra a inflação ganhou urgência.

No comunicado publicado esta quinta-feira no final da reunião, os membros do conselho de governadores disseram que a justificação para “o primeiro passo mais largo no caminho de normalização das taxas de juro” agora tomado se deve a uma “avaliação actualizada dos riscos de inflação”.

Foram três as taxas de juro de referência alteradas pelo BCE. A taxa de juro de refinanciamento, que é a utilizada na maior parte da injecção de liquidez que é feita através do sistema bancário, passou de zero para 0,5%. A taxa de juro da facilidade de crédito marginal, usado nos empréstimos overnight concedidos aos bancos, passou de 0,25% para 0,75%. E a taxa de juro de depósitos, que é a remuneração oferecida pelo BCE ao dinheiro depositados pelas instituições financeiras no banco central, passou de -0,5% (os bancos pagavam para depositar dinheiro no BCE) para zero.

Para a próxima reunião do BCE, agendada para Setembro, a expectativa generalizada é a de que Christine Lagarde e os seus pares voltem a subir as taxas de juro. Em Junho, já tinha sido dito que, nesse encontro, as taxas de juro poderiam subir mais 0,25 pontos percentuais ou mais. A maior parte dos analistas do mercado antecipa agora uma subida de 0,5 pontos percentuais.

No comunicado emitido esta quinta-feira, o BCE afirma que “nas próximas reuniões, uma nova normalização das taxas de juro será apropriada”.

Instrumento contra a crise sem limites

Ao mesmo tempo que anunciou a subida das suas taxas de juro de referência, o Banco Central Europeu mostrou que quer também evitar que, nas taxas de juro da dívida pública dos países periféricos, se registe uma escalada exagerada, bem acima da dos países do centro da zona euro.

Aliás, esta preocupação até se terá acentuado quando, esta manhã, se concretizou a demissão de Mario Draghi do cargo de primeiro-ministro de Itália, lançando o país numa situação de incerteza política que irá resultar, provavelmente, na realização de eleições antecipadas a seguir ao Verão. Com as taxas de juro da dívida pública italiana a subirem em resposta às notícias vindas de Roma, os membros do conselho de governadores do BCE discutiam em Frankfurt os detalhes do instrumento de anti-fragmentação com que o banco central pretende evitar uma nova crise da dívida na zona euro.

Para já, no comunicado emitido, o BCE anuncia que o novo instrumento foi criado, “podendo ser activado para contrariar dinâmicas de mercado desordenadas e injustificadas que constituam uma séria ameaça à transmissão da política monetária na zona euro”.

O banco esclarece ainda que a escala das compras de dívida que venham a ser realizadas “depende da severidade dos riscos”, não sendo estabelecido qualquer limite à partida. Esta era uma das características do novo instrumento que era considerada fundamental para tornar mais credível a determinação do BCE em evitar o ressurgimento de uma crise das dívidas nos países periféricos na zona euro.

A apresentação de mais detalhes sobre o novo instrumento ficou para a conferência de imprensa da presidente da instituição, Christine Lagarde, agendada para o início desta tarde.

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