Fundação Gulbenkian entrega biblioteca de Vianna da Motta ao Museu da Música
Recital Vianna da Motta e seus Contemporâneos vai assinalar, na próxima terça-feira, a entrega dos livros e de alguns objectos pessoais do compositor e pianista.
A Fundação Calouste Gulbenkian vai entregar ao Museu Nacional da Música (MNM), em Lisboa, a biblioteca, e ainda alguns objectos pessoais do compositor e pianista José Vianna da Motta (1868-1948), que tinha à sua guarda. Para celebrar a iniciativa, o museu promove nas suas instalações em Lisboa, na próxima terça-feira à tarde, o recital Vianna da Motta e seus Contemporâneos, pelo pianista João Costa Ferreira.
Trata-se de “um importante espólio do panorama musical português, que vem enriquecer o acervo do museu”, assinala o MNM num comunicado em que realça também que Vianna da Motta esteve “na formação do museu, enquanto director do Conservatório Nacional”, funções que exerceu até 1938.
O núcleo central do espólio deixado por Vianna da Motta, incluindo manuscritos autógrafos, diários, correspondência, programas de concertos, recortes de imprensa, fotografias, partituras e gravações, está conservado desde 1997 na Área de Música da Biblioteca Nacional. A parte agora cedida ao Museu da Música integra a biblioteca do compositor, com 3473 espécimes, entre publicações periódicas e monografias, e ainda vários objectos pessoais, como uma batuta com as suas iniciais, um busto em bronze do músico da autoria de Francisco Franco, feito a partir de um modelo em gesso de Teixeira Lopes, e o colar da Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada, que lhe foi atribuído a 2 de Junho de 1938.
Alguns dos objectos que compõem o espólio, nomeadamente, as várias condecorações, a batuta e o busto em bronze, estarão em exposição, mas a biblioteca, “devido ao seu volume, será entregue posteriormente, para que seja acondicionada devidamente”, explicou uma fonte do MNM.
A secretária de Estado da Cultura, Isabel Cordeiro, é esperada na sessão, durante a qual o pianista João Costa Ferreira interpretará obras de Vianna da Motta, António Fragoso e Alexandre Rey Colaço.
José Vianna da Motta foi um dos últimos alunos do pianista e compositor Franz Lizst (1811-1886), tendo sido professor de José Sequeira e Costa (1929-2019) e Maria Helena Sá da Costa (1913-2006), entre outros pianistas.
Como concertista, deu centenas de recitais em toda a Europa, tendo tocado, entre outros, com a violoncelista Guilhermina Suggia (1885-1950) e o maestro Bernardo Moreira de Sá (1853-1924).
Estudou e viveu em Berlim, mas deixou esta cidade no decorrer da I Grande Guerra, tendo-se instalando em Genebra, na Suíça, em 1915, onde dirigiu a classe de virtuosidade da Escola Superior de Música da cidade. Em 1917 regressou em definitivo a Portugal e dirigiu, de 1919 a 1938, o Conservatório Nacional. Foi ainda director musical da Orquestra Sinfónica de Lisboa, entre 1918 e 1920.
Vianna da Motta publicou assiduamente artigos em revistas especializadas alemãs e portuguesas, sobre técnica e interpretação pianísticas, assim como estudos acerca da música de Wagner e do seu professor Franz Liszt, nomeadamente A Vida de Liszt.
Enquanto compositor, é autor de cerca de 50 peças, entre elas, a valsa Gratidão (1874), Barcarola (1884), Cenas Portuguesas (1893, 1905 e 1908), Cantar dos Búzios (1929), para canto e piano, Quarteto em Sol Maior (1894) e, entre outras, a Sinfonia À Pátria (1894), que reviu em 1920.
Notícia alterada para precisar que o núcleo principal do espólio de Vianna da Motta está conservado na Biblioteca Nacional.