Finalmente há Terminal Intermodal em Campanhã e com ele nasce um parque
Construído para ser tampão do transporte público dos municípios vizinhos, a obra de autoria do arquitecto Nuno Brandão Costa, inaugurada esta quarta-feira, terá um parque com cerca de 30 mil metros quadrados.
São cerca de duas décadas de espera que agora terminam. O Terminal Intermodal de Campanhã (TIC) - um tampão criado para evitar a entrada na cidade de autocarros com origem em municípios vizinhos – entra em funcionamento ao início da tarde desta quarta-feira. Com algumas arestas por limar, o edifício está pronto e vai ser inaugurado no mesmo dia. Mas o protagonista da empreitada, diz o arquitecto responsável pela obra, é o parque urbano de cerca de 30 mil metros quadrados que ali está a nascer para fazer ligação com outras áreas verdes de uma das zonas mais deprimidas do Porto.
Rui Moreira já tinha deixado claro no final do ano passado, ainda em campanha eleitoral, que para o último mandato não tinha programado para a cidade “obras faraónicas”. Essa afirmação fez antever que os quatro anos seguintes seriam passados a cortar fitas. De algumas obras que arrancaram desde que é presidente da câmara esta será a primeira, de grande dimensão, a ser inaugurada – brevemente, em Setembro, é a vez do Mercado do Bolhão, outra obra prometida há décadas. Fica a faltar saber quando é que o Antigo Matadouro Municipal, onde se reservaram 8 mil metros quadrados para projectos culturais e sociais, estará pronto a abrir. Outra incógnita é o que acontecerá ao Coliseu, a precisar de uma intervenção urgente, que poderá já não passar pela autarquia.
Um dos escolhidos por concurso público para tirar o pó a obras antigas foi Nuno Brandão Costa, arquitecto responsável, em conjunto com a sua equipa, por desenhar o TIC e toda a área envolvente do terreno onde se ergue. Como base de trabalho foi-lhe entregue uma tela com muito ruído visual numa zona esquecida da cidade. A missão tinha como princípio criar uma área onde camionetas com origem em municípios vizinhos, viaturas ligeiras e outras pudessem estacionar de forma a não entrarem na cidade, mas permitindo aos seus utentes e condutores acesso aos transportes públicos – dentro da cidade, sobre rodas, só a STCP está autorizada a abrir portas para deixar entrar passageiros.
Num terreno de cerca de 50 mil metros quadrados, “encaixado” entre a cota superior dos carris da Estação de Campanhã e a cota inferior, no nó de Bonjóia, ergueu-se um edifício com 19 mil metros quadrados - o terminal ligará as duas cotas, separadas por 12 metros de altura.
“O edifício está dividido em dois níveis. À cota baixa é resolvida toda a mobilidade mecânica. Ou seja, autocarros, táxis, ligeiros ou bicicletas. À cota alta há uma galeria que é paralela à linha do comboio que começa no túnel sul de acesso às plataformas do caminho-de-ferro”, explica o arquitecto. O nível inferior será usado para estacionamento de camionetas e outras viaturas. Em cima faz-se a ligação com o comboio e com o metro. Além deste túnel que já está a ser usado nascerá outro, “a dias” de ser concluído.
No mesmo local, juntar-se-ão autocarros da STCP, operadores privados, comboios urbanos e de longo curso, metro e táxis. Haverá ainda um parque de estacionamento para 230 automóveis e 100 bicicletas. Adianta a autarquia em comunicado que, com esta oferta, serão retiradas “centenas de autocarros pesados de passageiros” do centro da cidade, mas sem especificar um número mais fechado. A saída dessas viaturas representará uma redução de “1776 toneladas equivalentes de petróleo” na Baixa.
30 mil metros quadrados de verde
Da área total do terreno sobram aproximadamente 30 mil metros quadrados para “um parque público”. Para o arquitecto, essa nova área será a jóia da coroa da empreitada. “O edifício é uma parte importante da intervenção. A estrutura é relativamente grande. Até tem uma certa imponência. Mas do ponto de vista urbano o edifício é relativamente discreto. Pretende-se que o protagonista da intervenção seja o parque natural”, salienta.
O espaço verde estender-se-á, a Norte, até à Quinta do Mitra e, a Nascente, até à Rua de Bonjóia. “O parque tenta ligar algumas peças urbanas existentes com valor arquitectónico, nomeadamente, à fábrica da Ceres, ao Colégio de Campanhã, à Quinta do Mitra, que também está a ser recuperada por nós, e ao tecido urbano a Nascente”, adianta o arquitecto que no ano passado foi premiado pela Associação Internacional de Críticos de Arte no sector da Arquitectura, por este projecto.
A nova área terá um parque infantil e será “fortemente arborizada”. Terá ainda obras de autoria do escultor Francisco Tropa – “fontes e estátuas que serão colocadas brevemente”. A atrasar o desenvolvimento da vegetação está “o ano de seca” em curso. O projecto tem uma dimensão funcional, mas ao mesto tempo de fruição. Noutra dimensão, o arquitecto está a contribuir para redesenhar a cidade ou “a qualificar um pedaço da cidade que era completamente desqualificado”.