Desde o início da onda de calor, já houve mais de mil mortes acima do esperado

A directora-geral da Saúde diz que o excesso de mortalidade “ainda vai aumentar” nos próximos dias. Graça Freitas assegurou ainda que não há “confusão possível” entre as mortes “por” ou “com” covid-19.

Foto
“Estamos num período de excesso de mortalidade”, disse Graça Freitas LUSA/ANTÓNIO COTRIM

Desde 7 de Julho até esta segunda-feira, houve 1065 mortes acima do esperado para esta altura do ano, adiantou a directora-geral da Saúde esta terça-feira durante uma audição na comissão de saúde no Parlamento. “Estamos num período nítido de excesso de mortalidade”, disse Graça Freitas, enfatizando que “a onda de calor” justifica este fenómeno que “ainda vai aumentar” nos próximos dias.

Isso vai acontecer, “primeiro, porque ainda vamos ter tempo mais quente e, depois, porque o efeito cumulativo do calor sobre o equilíbrio térmico das pessoas se vai vendo ao longo do tempo e porque há casos que ainda vão ser notificados”, explicou.

A Direcção-Geral da Saúde (DGS) já tinha revelado antes estes dados provisórios das mortes em excesso por todas as causas numa nota em que recordou que o Instituto Português do Mar e Atmosfera (IPMA) emitiu um alerta vermelho no dia 6 deste mês e sublinhou que as temperaturas de ar extremas (máximas e mínimas) têm “um potencial impacto conhecido na saúde, como consequência de desidratação e de descompensação de doenças crónicas, entre outros factores”.

A situação melhorou, entretanto, e a DGS especifica na nota que as previsões meteorológicas apontam para uma descida de temperatura nos próximos dias e que o indicador do efeito previsto das temperaturas do ar na mortalidade (o índice Ícaro) “poderá atingir o valor máximo de 0,11” na sexta-feira em Portugal Continental, “traduzindo um efeito na mortalidade não significativo”.

Convocada para esta audição na comissão de saúde para falar sobre a mortalidade por todas as causas e sobre a mortalidade materna em 2020, Graça Freitas confirmou que a DGS encontrou seis períodos de excesso de mortalidade nesse ano, o primeiro dos quais foi atribuído à actividade gripal, o segundo, entre Abril e Março, à primeira vaga da pandemia de covid-19, e o terceiro, no final de Maio, a um período relacionado com uma onda de calor identificada pelo IPMA.

O quarto período, em Julho e Agosto, também foi associado a temperaturas elevadas e o último período, em Novembro e Dezembro, teve que ver com outra vaga de covid-19, acrescentou. Quanto ao quinto período, em Setembro, com 858 óbitos que ficaram por explicar, Graça Freitas afirmou que o histórico das temperaturas indica que houve dois períodos de calor intenso e uma onda de calor numa região do país.

Mortes “por” ou “com” covid

A directora-geral fez igualmente questão de enfatizar que não há “confusão possível” entre as mortes “por” ou “com” covid-19, frisando que a codificação das causas de morte segue a norma definida pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

“Gostava de deixar bem claro que é perfeitamente possível distinguir quem morre por covid-19 e com covid-19”, afirmou, lembrando que, de acordo com o que os médicos redigem nos certificados de óbito, se percebe quais foram os casos em que a covid-19 foi a causa da morte, não sendo codificados desta forma os casos em que as pessoas, estando infectadas com o SARS-CoV-2, morreram por outra causa.

“Não há confusão possível porque é uma regra internacional. As nossas codificadoras são pessoas altamente formadas e não têm graus de liberdade de achar que uma coisa é ou não é. Seguem um parâmetro, uma regra internacional que a OMS a define”, assegurou.

Sugerir correcção
Ler 7 comentários