A construção do troço da linha de caminho-de-ferro que deverá ligar Playa del Carmen a Tulum, parte do comboio turístico Tren Maya, um dos projectos mais emblemáticos do actual presidente mexicano, foi retomada a 13 de Julho, apesar da ordem de suspensão dos trabalhos por parte do tribunal, decretada em finais de Abril.

Em Novembro, o Governo tinha classificado todos os grandes projectos de infra-estruturas públicas como iniciativas de “segurança nacional”, procurando com a medida agilizar processos, nomeadamente ao nível de estudos prévios de impacto ambiental e autorizações do Ministério do Ambiente. É com esse argumento que os trabalhos agora retomam no troço 5 Sul do Tren Maya, uma nova linha de caminho-de-ferro com cerca de 1500 quilómetros que pretende ligar alguns dos destinos mais turísticos do México a atracções menos conhecidas, como o património Maia do país.

“Na sessão do Conselho de Segurança, foi determinado que se trata de uma obra de segurança nacional por causa dos caminhos-de-ferro, e os interessados, que são o Ministério de Segurança Pública e o Ministério do Interior, determinaram que a obra ia ser iniciada”, afirmou Javier May, director do Fundo Nacional para o Desenvolvimento do Turismo (Fonatur), esta segunda-feira.

O arranque da construção tinha sido suspenso por ordem do tribunal no final de Abril, confirmada pelo mesmo juiz um mês depois, não dando como suficiente o argumento do governo, depois de ter avançado com os trabalhos de desflorestação de uma zona de selva sem contar com as autorizações ambientais necessárias.

A decisão do tribunal foi tomada após terem sido submetidos vários recursos de organizações não-governamentais, que acusam o projecto de violar normas ambientais e ameaçar os ecossistemas da Riviera Maya, conhecida zona turística do México. Além da desflorestação de uma zona de selva devido a alterações ao trajecto inicial, foram descobertos vestígios arqueológicos, poços subterrâneos de água doce e rios subaquáticos que podem ficar em risco com a construção da linha de comboio.

Em resposta, o governo interpôs recurso contra a suspensão, não existindo ainda parecer do tribunal sobre o mesmo. Também a construção do troço 5 Norte, que liga Playa del Carmen a Cancún, está parada devido a uma ordem de suspensão provisória, emitida pelo mesmo juiz.

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Na segunda-feira, as organizações Greenpeace e Save Me from the Train advertiram que o executivo de López Obrador estava a retomar os trabalhos ainda antes da decisão final do tribunal, organizando protestos frente às retroescavadoras no terreno.

López Obrador, por sua vez, rejeitou as acusações, dizendo que provêm de “pseudo-ambientalistas”, ligados a grupos de interesse e à oposição. Em declarações ao El País, o porta-voz do Fonatur para o Tren Maya, Fernando Vázquez, afirma que o tribunal tem um “critério jurídico diferente” do do governo. “A lei de segurança nacional dá poderes ao chefe do executivo para promover acções em matéria de segurança nacional e uma dessas acções é, por exemplo, preservar a democracia baseada no desenvolvimento económico do país. E o Tren Maya vai desencadear o desenvolvimento económico e social no sudeste do país.”

O projecto, anunciado em 2018 pelo presidente mexicano, pretende ligar a cidade de Palenque ao destino balnear de Cancún num trajecto de cerca de 1500 quilómetros de linha férrea que se desdobra em Escárcega para circundar toda a Península de Yucatán, percorrendo alguns dos destinos mais turísticos do país. A conclusão está prevista para finais de 2023.