O sublime contraditório de Lido Pimienta
A cantora colombiana traz a Lisboa e ao Porto o álbum Miss Colombia, a sua “cínica carta de amor” ao país que a viu nascer. De onde saiu para criar uma música que se inspira nas tradições sem nelas se perder.
Quando faz música, a cantora colombiana Lido Pimienta pensa muitas vezes em honrar a adolescente que era aos 15 anos. Vivia ainda no seu país, “tinha muito talento e muita luz interior”, recorda em conversa com o PÚBLICO. Mas já então percebia as regras de um jogo que lhe diziam que as portas para o seu percurso musical se abririam com outra facilidade caso tivesse nascido branca, de olhos azuis e cabelo loiro. Lembra-se bem da mensagem que, num mundo anterior ao TikTok e ao Instagram, as imagens que inundavam a televisão lhe sussurravam como um segredo mal disfarçado: “Aquilo que o mundo me dizia, aos 15 anos, era que era baixa, não tinha a imagem certa e que nunca seria ninguém, porque não tinha nascido branca nem pertencia a uma família rica.” A Lido que se via ao espelho encontrava antes o reflexo de uma rapariga escura, de traços indígenas, consciente de que essas características emagreciam enormemente a sua possibilidade de se destacar no meio de “miúdas [brancas] adoráveis que cantavam as músicas da Britney [Spears] e da Madonna”. Se as portas se tivessem aberto nessa altura, não teria, talvez, precisado de procurá-las noutros sítios.
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