Meio ano depois PS perde maioria absoluta e PSD sobe ao patamar dos 30%
Praticamente seis meses depois das legislativas de 30 de Janeiro, a sondagem do Cesop mostra que os socialistas estão já aquém de números compatíveis com uma maioria absoluta e que os sociais-democratas, agora liderados por Montenegro, ascendem aos 30%.
A canção de Paulo de Carvalho diz que “10 anos é muito tempo” mas, em política, meio ano também pode ser muito tempo. E os últimos seis meses foram-no: eleições repetidas no círculo da Europa; eclosão de uma guerra na Ucrânia; subida em flecha de uma inflação que já vinha em crescendo e consequente perda de poder de compra; novas e velhas carências no Serviço Nacional de Saúde; vai e volta do novo aeroporto de Lisboa com crise no Governo pelo meio; regresso dos incêndios e dos bem conhecidos problemas da floresta portuguesa.
Feitas as contas, o PS é o partido mais penalizado por esta sucessão de eventos no que à medição de intenções de voto diz respeito e o PSD o mais beneficiado. Segundo indica a última sondagem do Centro de Estudos e Sondagens de Opinião (Cesop) da Universidade Católica para a RTP, Antena 1 e PÚBLICO, a primeira desde as eleições legislativas de 30 de Janeiro, os socialistas garantem 38% das intenções, abaixo dos 41,37% que asseguraram a primeira maioria absoluta do primeiro-ministro António Costa.
O PS é mesmo o partido que mais desce face às legislativas (menos 3,37 pontos percentuais) – de resto só PAN e CDS também fica abaixo do resultado de 30 de Janeiro –, ao passo que os sociais-democratas, liderados por Luís Montenegro desde o início de Julho, são a força política que mais sobe (mais de 2 pontos face a 27,67%; ainda que somando os votos obtidos pelas coligações na Madeira e nos Açores o score ascenda a 29,09%), o que lhes permite regressar ao patamar dos 30%.
Fica a ideia de que, nesta fase, o partido de António Costa não beneficiaria da captação de votos junto do eleitorado do PSD observada em Janeiro, eleição em que muitos eleitores admitiram à boca das urnas ter optado pelo PS para evitar um potencial acordo de governação à direita que incluísse o Chega.
É que, tendo em conta a margem de erro mínima e máxima, o PS só conseguiria a maioria absoluta com a sua melhor votação (42%), precisando para tal que o PSD não fosse além de valores em torno do mínimo (26%) estimado neste estudo de opinião.
CDU sobe apesar da Ucrânia
Em terceiro lugar surge destacado o Chega, que cresce quase dois pontos relativamente às últimas eleições gerais para 9%. O partido de André Ventura garante uma vantagem de três pontos percentuais em relação à Iniciativa Liberal que, por sua vez, sobe ligeiramente acima de um ponto para os 6%.
Nos quarto e quinto lugares persiste uma disputa renhida entre Bloco de Esquerda e CDU (coligação eleitoral entre PCP e Verdes), com as duas forças a avançarem pouco mais de meio ponto percentual para um empate nos 5%.
Nas eleições, o Bloco teve mais uma décima percentual do que a aliança entre comunistas e ecologistas, embora a CDU tenha conquistado mais um mandato à Assembleia da República (ainda que o PEV tenha ficado sem representação parlamentar).
O reforço das intenções de voto na CDU acontece apesar da posição adoptada pelo PCP sobre o conflito armado na Ucrânia: o partido de Jerónimo de Sousa recusa condenar frontalmente a invasão encetada pelo regime russo de Vladimir Putin e prefere sinalizar uma condenação de acções várias que contribuem para a escalada da guerra.
Livre ganha nos pequenos
No campeonato dos partidos mais pequenos – que não dispõem de grupo parlamentar ou mesmo sem qualquer representação –, o Livre do deputado único Rui Tavares é mesmo o único a ganhar força, crescendo perto de um ponto para 2%, ultrapassando assim o PAN.
Já o PAN da deputada única Inês Sousa Real e o CDS agora presidido por Nuno Melo perdem cerca de meio ponto percentual para se fixarem em 1%.
Direita em recuperação
A correlação de forças entre os blocos da esquerda e da direita continua a ser favorável à esquerda, que, porém, perde terreno comparativamente com a direita.
Nas legislativas, PS, BE, CDU, Livre e PAN somaram 52,93%, mais 10 pontos do que o conjunto das forças de direita (PSD, Chega, IL e CDS), que não foi além dos 42,78%.
Agora, a sondagem do Cesop mostra maior equilíbrio de forças entre os dois quadrantes políticos, já que a esquerda recua para 51% das intenções de voto, enquanto a direita ganha expressivos três pontos para atingir um total de 46%. Seja como for, este estudo de opinião continua a mostrar a prevalência das forças políticas situadas mais à esquerda do espectro político nacional.
Estas são intenções de voto medidas logo após o actual Governo ter cumprido os primeiros 100 dias e numa altura em que analistas e politólogos apontam sinais de “cansaço" ao executivo de António Costa, que, por seu turno, garante estar para ficar até ao final da legislatura, em 2026. Até lá, como canta também Paulo de Carvalho, ainda faltam “muitos dias, muitas horas”.