Mais de metade das micro e pequenas empresas tem site, mas só um terço faz vendas

Inquérito à literacia financeira revela que digitalização aumenta em função do grau de escolaridade dos empresários.

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Indústria extractiva e da constução apresenta uma menor digitalização. Paulo Pimenta

Mais de metade (58,5%) das micro e pequenas empresas que participou no primeiro inquérito sobre literacia financeira destas entidades disponibiliza um site na Internet para apresentação dos seus produtos, mas apenas um terço utiliza esta ferramenta para a realização de vendas.

As conclusões do inquérito, divulgadas esta segunda-feira, e que pretendeu ainda avaliar os desafios colocados pela pandemia de covid-19 a este universo empresarial, revela que mesmo antes deste evento epidemiológico, a maioria dos empresários (75,1%) já realizava uma percentagem elevada de movimentos na conta bancária através de canais digitais.

Um dado de certa forma inesperado do inquérito realizado a 1541 micro e pequenas empresas com até 50 trabalhadores, nos meses de Julho e Agosto de 2021, é que o aumento do indicador da digitalização durante a pandemia foi limitado. E, já mais previsível, esta variável aumenta em função das habilitações literárias dos empresários, particularmente quando têm curso superior, sendo menor nas indústrias extractiva, transformadora e da construção e actividades imobiliárias.

Promovido pelo Conselho Nacional de Supervisores Financeiros (que integra os supervisores da banca, seguros e mercado de capitais) e pelo Ministério da Economia e do Mar, as respostas dos empresários mostram um bom conhecimento de produtos financeiros tradicionais. Mais de 75% disseram conhecer produtos como empréstimos bancários (95,3%), cartões de crédito para empresas (92%), leasing ou aluguer de longa duração (88,5%), seguro de responsabilidade civil (88,1%), seguro multirriscos (83,8%) ou facilidade de descoberto ou ainda conta corrente caucionada (77,4%). Já quando se passa para soluções de financiamento mais complexas, os conhecimento caem a pique: os financiamentos mezzanine são conhecidos por apenas 4,4% dos empresários e a initial coin offering por 6,3%. Pior ainda, 1,2% disse não conhecer nenhum produto financeiro apresentado.

Mais de 46,7% dos inquiridos diz ter um cartão de crédito para a empresa, e 45% um empréstimo bancário. Na área dos seguros, o da responsabilidade civil é o mais conhecido pelos empresários, com quase metade (49,2%) a dizerem que têm um, e 44,9% um seguro multirriscos.

Para a escolha de produto ou serviço financeiro, 63,9% disse ter considerado várias opções de instituições diferentes, 18,2% consideraram várias opções de uma instituição, 4% não encontraram opções a considerar. Os restantes 10% não consideraram quaisquer outras opções.

O estudo apresentado esta segunda-feira no Museu do Dinheiro, com a presença do Ministro da Economia e do Mar, inclui a primeira comparação internacional da literacia financeira destes empresários, promovida pela presidência italiana do G20 no âmbito da Global Partnership for Financial Inclusion, com base no questionário desenvolvido pela International Network on Financial Education (INFE) da OCDE, que contou com a participação de 14 países.

Nessa comparação, os empresários portugueses ocuparam os primeiros lugares, ficando em primeiro lugar no indicador global de literacia financeira nas empresas até nove trabalhadores e em segundo lugar nas empresas entre 10 e 49 trabalhadores.

Quanto à digitalização, Portugal surge em quarto lugar, com 31,2 pontos nas empresas até nove trabalhadores, ficando acima da média dos 14 países (25,7 pontos) e do G20 (27,1), e 35,3 pontos nas empresas que empregam entre 10 a 49 trabalhadores, também acima dos 33,2 pontos e 32,9 pontos respectivamente.

Citado pela Lusa, o ministro da Economia e do Mar, António Costa Silva, defendeu que a iliteracia financeira é “um dos problemas que o país tem de enfrentar”, mostrando-se ainda preocupado com o problema da capitalização das empresas. “Se não mudarmos o paradigma do financiamento das empresas, com os bancos, mercado de capitais, vai ser difícil superar as contrariedades e as dificuldades em que o país está”, declarou.

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