Portugal goleado pela Suécia em duro adeus ao Europeu

Quatro golos em lances de bola parada ditaram o fim do sonho da selecção nacional, que ainda assim regressa a casa com o sentimento de dever cumprido.

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Portugal sai, apesar do ingrato e doloroso adeus ao Campeonato da Europa de futebol feminino, com o orgulho intacto e a consciência de que os milagres dão muito trabalho. A derrota por 5-0 com a Suécia, fortíssima candidata à conquista do troféu, colocou um ponto final no sonho de ir um pouco mais longe no Euro, mas não abala a base de confiança no futuro.

As bolas paradas voltaram a trair a equipa de Francisco Neto, que sofreu quatro golos na sequência de cantos, livres e penáltis. Uma marca digna do Guinness e que teria sido recorde caso a árbitro francesa Stéphanie Frappart não tivesse anulado pela segunda vez na partida um golo a Stina Blackstenius (60').

O seleccionador português bem tentou ajustar a equipa à estatura das suecas, até porque os lances de bola parada estavam já identificados como um dos grandes problemas de Portugal, com custo elevado nos jogos anteriores... Embora esse fosse apenas um dos inúmeros factores de desequilíbrio que a selecção mais bem cotada no ranking da UEFA podia explorar.

Ainda sem vencer na fase final do Europeu de Inglaterra, Portugal sabia bem a importância de suster o ímpeto das suecas nos momentos iniciais, precisamente onde a equipa lusa falhara frente à Suíça e às campeãs europeias dos Países Baixos, tendo, em ambos os casos, sido forçado a recuperar de dois golos de desvantagem, após entrar praticamente a perder.

Vencedora da primeira edição do Europeu, em 1984, a vice-campeã olímpica, terceira classificada no último Mundial e apenas superada pelos EUA no ranking FIFA, não fez as coisas por menos e, antes mesmo de cumprido o primeiro minuto de jogo, criou uma sucessão de situações de perigo iminente na área de Patrícia Morais.

A boa notícia parecia, a dado momento, o facto de Portugal ter mantido a baliza inviolável nos primeiros 20 minutos, para além de ter criado a grande oportunidade de golo desse período, numa subida de Carole Costa à área sueca, na sequência de um canto. A pontaria da defesa-central portuguesa não foi a melhor, mas as suecas levaram o aviso muito a sério.

Também de canto, a Suécia fez uma demonstração clara de todo o seu poderio aéreo, colocando a guarda-redes portuguesa (escolhida precisamente pelos centímetros que acrescenta em relação a Inês Pereira, titular nos dois primeiros jogos) numa posição ingrata, incapaz de socar eficazmente a bola, que sobrou para os pés de Filippa Angeldahl.

Estava desfeito o nulo, com um golo aos 21 minutos, mas não o sonho português de fazer história e atingir os quartos-de-final do segundo Europeu da selecção nacional feminina.

Apesar de complicada, a operação “Vencer a Suécia e esperar que a Suíça não batesse os Países Baixos” continuava exequível, mesmo que a rispidez das nórdicas tivesse ditado a saída de cena da defesa-direita Catarina Amado, pisada de forma muito feia por Rytting Kaneryd. Um sinal de alguma frustração das suecas face à incapacidade inicial para domarem as portuguesas.

Ainda assim, a Suécia era claramente superior, condicionando o jogo de Portugal, que estava longe de atingir o nível exibido frente à selecção dos Países Baixos. De resto, as escandinavas não dependiam exclusivamente de lances de bola parada, como ficou bem evidente no golo anulado a Stina Blackstenius, aos 41 minutos, a concluir uma triangulação da mais fina filigrana, com direito a assistência de calcanhar de Kosovare Asllani. O golo não contou porque Stina estava ligeiramente adiantada, mas a Suécia não desmoralizou.

Pelo contrário. Num livre em jeito de canto curto, Filippa Angeldahl surgiu de novo à entrada da área para bisar e elevar a vantagem mesmo em cima do intervalo. Portugal encontrava-se, pelo terceiro jogo consecutivo, obrigado a recuperar de dois golos de diferença. Mas, ainda antes do apito para recolher, o quadro tenderia a agravar-se. A sentença chegava na forma de autogolo, da defesa-esquerda Carole Costa, com a guarda-redes portuguesa perdida e desamparada, a mostrar que Francisco Neto não foi feliz na aposta.

Era, sem eufemismos, o desmoronar do sonho, o choque com a realidade no seu estado puro. A Portugal restavam 45 minutos para reforçar a imagem competente e desempoeirada deixada neste Europeu, ainda que bastante prejudicada por uma estreia precipitada e por duas missões impossíveis, mesmo que o duelo com as neerlandesas tivesse desconstruído um pouco a imagem desse mito.

Só que a segunda parte não tinha nada de positivo reservado para Portugal, que só evitou uma derrota ainda mais dura graças à reabilitação de Patrícia Morais, reconciliada com a baliza, e à ineficácia da Suécia, que resolveu a questão do grupo C sem pestanejar. Ainda assim, as nórdicas ainda conseguiram dilatar a vantagem, de penálti (Asllani, 54'), e numa transição ofensiva (Blackstenius, 90+1').

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