A ilha de São Jorge e as suas fajãs, “local perfeito para umas férias em contacto com a natureza”
O leitor Helder Taveira (e amigos) partilha a sua experiência por aquela que é uma das ilhas mais verdes dos Açores.
É sempre agradável visitar a ilha de São Jorge, nos Açores, a ilha das falésias e fajãs, sem dúvida uma das mais verdes do arquipélago.
É o local perfeito para umas férias em contacto com a natureza. Esta ilha com cerca de 54 quilómetros de comprimento e 6,9 quilómetros de largura máxima está integrada no Grupo Central, com as típicas fajãs que se estendem mar adentro. As fajãs são pequenas planícies que tiveram origem em desabamentos de terras ou lava e nesta ilha existem mais de quarenta. A algumas dessas fajãs apenas é possível chegar caminhando por trilhos, possibilitando assim apreciar belas paisagens.
Esta ilha, à semelhança das restantes do arquipélago, nos dois últimos anos, devido à covid-19, foi muito prejudicada, nomeadamente pelos entraves e limitações das viagens. Quando parecia que tudo iria voltar ao normal, em São Jorge surgiu a crise sísmica, que levou a muitos cancelamentos das reservas nos hotéis e alojamentos locais, facto que se traduziu em elevado prejuízo para muitas pessoas que vivem do turismo.
A crise sísmica ainda não está completamente ultrapassada. Contudo, no início do mês de Junho, o Centro de Vigilância Sismovulcânica dos Açores (CIVISA) baixou o nível de alerta de V4 (ameaça de erupção) para V3 (sistema activo sem iminência de erupção). Assim, decidimos voltar a São Jorge, numa viagem de avião de cerca de 40 minutos, a partir de São Miguel. Desta vez, a mim e à Luísa juntaram-se quatro amigos.
O plano seria fazer caminhadas pelas fajãs. A caminhada da Fajã dos Cubres até à Fajã da Caldeira do Santo Cristo continua a ser a mais icónica da ilha, com paisagens de cortar a respiração.
No dia da chegada, ainda fizemos uma curta visita à Fajã do Ouvidor, sempre com a ideia de ir à Poça Simão Dias, uma verdadeira jóia ainda desconhecida por muita gente que passa pela ilha. É sem dúvida a mais emblemática e imponente piscina natural da ilha. A nível geológico, apresenta disjunções prismáticas, que são no fundo grandes colunas verticais de basalto, geradas no seio das escoadas lávicas, no seguimento do arrefecimento e solidificação da lava. Habitualmente, não passam por aí muitas pessoas, pelo que é possível tomar um banho no maior dos sossegos.
De seguida, fomos à Fajã dos Vimes, na costa sul da ilha. Esta fajã é famosa pelo artesanato ligado às chamadas colchas, tecidas por artesãs, em antigos teares de pedais feitos em madeira.
Não podíamos sair da Fajã sem visitar o café do senhor Nunes, onde tomámos um café, bem aromatizado e saboroso, produzido no quintal contíguo ao estabelecimento, acompanhado por uma queijada de café.
O senhor Nunes foi pioneiro na ilha e tem uma pequena produção que vem sendo um ponto de encontro a quem faz uma visita a esta fajã. O filho fez-nos uma visita guiada pela exploração de café e pela loja de artesanato, com os seus teares onde as artesãs habilidosas fazem as colchas e outros produtos.
No dia seguinte, o plano seria ir fazer o trilho da Fajã dos Cubres até à Fajã da Caldeira do Santo Cristo. Porque chovia, optámos por passear pela bonita e pitoresca vila de Velas. Localizada num extenso terreno relativamente plano junto à costa e ao lado das montanhas que se erguem sobre a vila, passear pelas suas ruas bem arranjadas e limpas é sem dúvida muito agradável. O coreto, no centro do jardim, datado do final do século XIX e em muito bom estado, faz-nos recuar a outros tempos.
Fomos depois ao parque Sete Fontes, situado na freguesia de Rosais e próximo de Velas. Neste espaço agradável, é possível fazer piqueniques e caminhar. No miradouro do Pico da Velha, com bom tempo, podem avistar-se as cinco ilhas do grupo central - São Jorge, Pico e Faial ali tão perto, Terceira e Graciosa no horizonte mais longínquo. Infelizmente, devido à chuva e nevoeiro, nesse dia não foi possível.
Acabámos por sair para a Caldeira dos Cubres, na costa norte da ilha, já ao final da tarde. A chuva finalmente abrandou. Contudo, na descida para a fajã, eram visíveis algumas pedras no meio do caminho e como a ilha estava em alerta amarelo, devido ao mau tempo, desistimos de fazer a caminhada, para não corrermos o risco de ficarmos impedidos de sair. Demos uma volta pela Fajã dos Cubres.
Esta fajã está classificada como Sítio de Importância Internacional, ao abrigo da Convenção de Ramsar, relativa à Convenção sobre Zonas Húmidas de Importância Internacional, especialmente como Habitat de aves aquáticas.
O pequeno povoado desta fajã foi completamente arrasado pelo terramoto de 9 de Julho de 1757. Voltou a sofrer grandes estragos com o terramoto de 1980. São poucas as pessoas que aí vivem permanentemente. Ainda são visíveis algumas casas de pedra com as típicas janelas de três guilhotinas. Ao final da tarde, voltámos para a vila de Velas para jantar. A oferta de restaurantes em geral é boa. Servem boa comida, com produtos locais e de qualidade. Contudo, alavancados pelo número cada vez maior de turistas que visitam a ilha, alguns restaurantes praticam preços ao nível dos praticados por exemplo em Lisboa. Valeu o voucher atribuído pelo Governo Regional, no valor de 35 euros por pessoa (para desta forma fomentar o turismo nesta ilha) e que foram descontados nos restaurantes que aderiram a esse programa.
Chegava assim ao fim esta curta visita a São Jorge. As condições climatéricas, sempre imprevisíveis nos Açores, não nos deixaram cumprir o plano gizado. Teremos de voltar.
Helder Taveira, Luísa e amigos