Cancelamentos e violência

O termo cancel culture, cultura da anulação, foi criado há cerca de quinze anos pelos sectores mais radicais da direita americana e rapidamente se tornou uma expressão-espantalho que é usada para designar coisas muito díspares, incluindo a legítima liberdade de expressão e de opinião. Não são raras as vezes em que os denunciantes de “anulações” manifestam afinal o descarado desejo de serem eles a “anularem”. E quase sempre há o esquecimento de uma verdade fundamental: quem tem o poder de anular são os poderes oficiais, é o Estado e as suas instituições que anulam ou censuram. Esquece-se muitas vezes que as manifestações públicas de cidadãos, fazendo uso da crítica, nos media, na rua, nas redes sociais, na esfera pública em geral, não é a mesma coisa que o Supremo Tribunal da Rússia anular uma associação que se chama Memorial, constituída por historiadores para analisar os crimes cometidos pelo poder político no tempo da União Soviética.

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