Portugal ocupa sexta posição no índice internacional de gestão dos plásticos
O país obteve uma pontuação “muito alta” no estudo Plastic Management Index para Portugal, elaborado por investigadores da Universidade de Aveiro e divulgado esta sexta-feira. A lista internacional é liderada pela Alemanha, seguida do Japão e da França.
Portugal ocupa a sexta posição num ranking internacional sobre a gestão dos plásticos, revela um estudo intitulado Plastic Management Index para Portugal divulgado esta sexta-feira na Universidade de Aveiro (UA). Nesta avaliação produzida por investigadores da UA, e que segue a metodologia elaborada pela Economist Impact em colaboração com a Fundação Nippon, o país obteve uma pontuação “muito alta” de 76,8 e posiciona-se no grupo de países líderes. A lista de 26 nações é encabeçada pela Alemanha (87,4), seguida do Japão (84,5) e da França (78,9).
“Avaliámos neste estudo como é que a gestão dos plásticos está montada no nosso país em termos de regulamentação, percepção do público e dos empresários. E o que nós obtivemos como resposta é o seguinte: o sistema está bem montado, a regulamentação existente é genericamente adequada, as empresas sentem que esta é apropriada ao que fazem e o público, por sua vez, diz-se bem informado. O que falta? Empresas que agarrem nestes plásticos e os reciclem”, afirma ao PÚBLICO João Coutinho, director do CICECO – Instituto de Materiais de Aveiro, co-autor do estudo.
Quando viu este ranking mundial dos plásticos elaborado pela Economist Impact, um think tank criado pelo mesmo grupo que detém a revista The Economist, João Coutinho procurou Portugal na lista e percebeu que o nosso país não estava ali representado. Surgiu então a ideia de contactar a Economist Impact para compreender as metodologias usadas para produzir, em solo nacional, um estudo próprio que permitisse comparar a situação portuguesa com a de outros países.
“Somos um país muito pequeno e igual a muitos outros, muitas vezes não somos incluídos nestes rankings. Nós só queríamos mesmo saber como Portugal se posiciona em relação a outros países na reciclagem dos plásticos e desenvolver novas metodologias para reciclar [estes materiais]”, explica João Coutinho, que se juntou a outros cinco investigadores da Universidade de Aveiro para elaborar a parte portuguesa do índice global de gestão do plástico. Os resultados serão publicados à margem do estudo da Economist Impact.
Quando concluíram a parte portuguesa do índice dos plásticos, os investigadores ficaram “surprendidos” com os resultados, conta João Coutinho. “Estamos habituados a apontar sempre o dedo”, brinca o director do Instituto de Materiais de Aveiro. Além desta entidade, contribuíram para este trabalho cientistas do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar e do Unidade de Investigação em Governança, Competitividade e Políticas Públicas. A associação Smart Waste Portugal também colaborou para a elaboração do documento.
O documento incorpora não só a perspectiva das políticas públicas, da regulamentação e da prática empresarial no sector, mas também a dos próprios consumidores. Os resultados divulgados esta sexta-feira mostram, por exemplo, que as empresas estão cientes da importância do uso responsável dos plásticos no plano de sustentabilidade ambiental. E que estas fazem muitas vezes parte de associações que têm como missão a redução de resíduos, levando-as por isso a introduzir mudanças na empresa por essa razão.
A maioria dos quase 800 consumidores inquiridos, por sua vez, concorda que tem acesso fácil a pontos de recolha separada de resíduos e estão abertos a participar em iniciativas de redução de resíduos plásticos. Do lado das políticas públicas, os 12 peritos consultados entendem, por exemplo, que existem mecanismos para incentivar uma produção sustentável e a legislação para uma recolha segregada e robusta. Todos os parâmetros em grande parte positivos colocam Portugal no grupo de líderes neste ranking internacional, do qual também fazem parte o Reino Unido (pontuação 77,6), os Estados Unidos (77,1) e ainda a Suécia (76,1).
Aposta na reciclagem química
“O nosso problema, em grande parte, está no que acontece após o ecoponto. Não temos empresas que agarrem nos plásticos e os transformem. E isto é o que é importante no nosso estudo: olhar para este panorama e identificar onde está o gargalo que nos impede de ir mais além. Se não, vamos continuar a investir em mais campanhas, mas nós temos claramente aqui trabalhar a jusante. Temos de criar condições para que empresas que fazem reciclagem venham para cá. Não nos falta boa regulamentação, nem informação das pessoas. Este é o buraco do nosso sistema: faltam-nos empresas que valorizem estes plásticos”, resume o director do Instituto de Materiais de Aveiro.
Na opinião do investigador, outro desafio é convencer as pessoas que os materiais reciclados podem ser tão bons como aqueles elaborados a partir de matérias-primas virgens. “No caso do metal e do vidro, é mais ou menos pacífico. E até estão disponíveis para usar o papel mais amarelo e grosso. Mas no caso dos polímeros a coisa é mais dramática pois o material reciclado mecanicamente não tem um aspecto visual tão agradável. Então, temos de apostar na reciclagem química, que permitiria fazer com o plástico o que já fazemos hoje com o metal. Precisamos de criar condições para que as empresas venham para cá e façam este tipo de coisa”, explica João Coutinho. A reciclagem química consiste na transformação dos resíduos plásticos em combustíveis ou matéria-prima para a fabricação de novos produtos plásticos.
A apresentação do documento Plastic Management Index para Portugal, que decorre esta tarde na reitoria da Universidade de Aveiro, será seguida de um painel com representantes de várias entidades ligadas ao sector – da comissão parlamentar de energia e ambiente à Agência Portuguesa do Ambiente, passando pela Sociedade Ponto Verde e pelo grupo Jerónimo Martins.