Ao sexto dia, as chamas voltaram a bater às portas de Pombal e Ansião
Nesta quinta-feira contaram-se 165 incêndios activos e Portugal fica a um passo de registar 1000 fogos apenas numa semana. Situação de contingência prolongada pelo Governo até às 23h59 de domingo.
Esta quinta-feira ficou marcada por uma sucessão de fogos controlados e reacendimentos que não deram tréguas a (quase) nenhuma região. O susto voltou a bater à porta dos moradores de Ansião, ganhou força em Oliveira de Azeméis e em Caranguejeira. O dia terminou, contudo, com um suspiro de alívio em alguns dos distritos mais afectados do país.
Os grandes incêndios que lavraram na última quarta-feira, em Ourém, Caminha, Leiria e Palmela, foram dominados, mas continuavam perto de mil operacionais em “acções de estabilização e rescaldo”, para prevenir novos reacendimentos durante a madrugada.
Mais uma vez, a maioria das ignições deram-se nas horas de maior calor, entre as 12h e as 17h, mas o comandante nacional da Protecção Civil, André Fernandes, alertou: durante a última semana foram habituais as ocorrências “em grande número” já de madrugada. Para os concelhos mais atingidos, as noites estão a tornar-se de insónia.
No total, nesta quinta-feira contaram-se 165 incêndios, 23 dos quais continuavam activos às 19h30, envolvendo 2100 operacionais, 22 meios aéreos e 123 veículos de combate ao fogo. Somadas todas as ocorrências desde dia 8 de Julho, Portugal está a um passo de registar 1000 novos fogos apenas numa semana: são já 978, de acordo com a Protecção Civil.
Pombal e Ansião: 580 hectares em cinzas
Pombal e Ansião foram os concelhos mais atingidos pelas chamas nesta quinta-feira. O incêndio que deflagrou na última sexta-feira em Vale de Pia, na freguesia de Abiul (Pombal), rapidamente chegou ao município vizinho de Ansião e, até agora, não deu descanso à população nem aos bombeiros.
Às 21h30 continuavam no terreno 550 operacionais, apoiados por 145 veículos e uma aeronave. O fogo que se estendeu de Pombal a Alvaiázere e Ansião, onde ameaçou as populações de Pia Furada e Lagoa Parada, já queimou uma área florestal de pelo menos 580 hectares.
Em Alvaiázere, civis e operacionais estiveram lado a lado, mais uma vez, no esforço de combate às chamas. “Estamos a fazer o levantamento dos danos, além de controlar os reacendimentos”, adiantou o autarca de Alvaiázere, João Paulo Guerreiro. “Tivemos de retirar cerca de 50 pessoas, que começam a regressar às suas habitações à medida que há segurança.”
João Paulo Guerreiro lamentou ainda que um dos bombeiros no terreno tenha ficado ferido. As labaredas que lavraram no município destruíram, pelo menos, três casas de primeira habitação.
Ainda em Leiria, o fogo que começou em Caranguejeira queimou pelo menos 20 hectares na localidade de Crasto, onde chegou perto das habitações, obrigando à evacuação da aldeia. Pelas 17h, o vereador com o pelouro da protecção civil no município, Luís Lopes, garantiu à agência Lusa que o incêndio estava já dominado.
Baião e Amarante: fogo avançou pela Serra do Marão
O incêndio que deflagrou na madrugada desta quinta-feira numa zona de mato em Baião chegou a Amarante (ambas no distrito do Porto), mas a mudança de direcção do vento terá ajudado o município vizinho e impedido que o fogo se aproximasse de uma zona habitacional.
Às 21h, o incêndio considerado importante pela Protecção Civil ainda avançava na Serra do Marão, obrigando à mobilização de 113 operacionais e 37 meios terrestres. As autoridades estimam que já tenham ardido 600 hectares na região.
O autarca de Baião, Paulo Pereira, ainda alertou para um segundo incêndio que começou durante a tarde mais a sul, em Sequeiros, Ancede, mas a situação terá sido controlada pelos bombeiros no local.
Oliveira de Azeméis: incêndio ganhou força durante a noite
Outro dos fogos que deixou várias cidades em sobressalto começou na quarta-feira, em Pinheiro da Bemposta (Oliveira de Azeméis), e, da noite para o dia, ganhou enormes proporções.
As várias reactivações de um incêndio nunca dominado na totalidade tornaram imprevisível o avanço das chamas e, em vários momentos, foi a população a controlá-las com todos os meios de que dispunha, enquanto esperava pela ajuda dos bombeiros.
O fogo que ganhou força e violência ao longo do dia consumiu mais de 2500 hectares em apenas sete horas, de acordo com a estimativa da Protecção Civil.
De acordo com o Comando Distrital de Operações de Socorro de Aveiro (CDOS), o incêndio que se alastrou aos concelhos de Estarreja e Albergaria-a-Velha estava dominado às 20h. “Neste momento, não há vento. Passou a parte pior”, disse à Lusa o comandante do CDOS, José Carlos Pinto.
MAI pede “mais cuidado”
A situação de contingência em Portugal foi prolongada até às 23h59 de domingo, dia em que se reavaliará a transição para o estado de alerta. José Luís Carneiro, ministro da Administração Interna, avançou a informação e elogiou a “grande eficácia” no combate aos incêndios. “A resposta aqui não é mais meios, é mais cuidado. Se houver cuidado, não há incêndios”, considerou.
Do lado da Protecção Civil, o comandante André Fernandes anunciou reforços no terreno, onde actuarão mais 1262 operacionais a combater os incêndios. Desde 7 de Julho, já foram assistidos 184 feridos, quatro deles graves. Foram também retiradas das suas casas 872 pessoas por precaução.