Covid-19: ex-autarca dos EUA condenado a cinco anos de prisão por fraude com fundos públicos

Jason Lary, um dos fundadores de uma pequena cidade nos arredores de Atlanta, na Georgia, desviou centenas de milhares de dólares para a compra de uma casa e para pagar impostos em dívida. Fraudes com os dinheiros públicos nos EUA podem ascender a centenas de milhares de milhões de dólares.

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Jason Lary foi o primeiro presidente de câmara de Stonecrest, na Georgia Twitter oficial de Jason Lary

Um antigo presidente de câmara de uma pequena cidade nos arredores de Atlanta, no estado norte-americano da Georgia, foi condenado a quatro anos e nove meses de prisão, na quarta-feira, por desviar centenas de milhares de dólares destinados às pequenas empresas e aos cidadãos mais afectados pela pandemia de covid-19.

Jason Lary, de 60 anos, é apenas o mais recente caso de uma epidemia de fraude, nos Estados Unidos, com os gigantescos pacotes de ajuda à recuperação económica no país. Entre 2020 e 2021, em três momentos nas presidências de Donald Trump e de Joe Biden, os orçamentos de apoio à economia totalizaram o equivalente a seis biliões (milhões de milhões) de euros.

Segundo um comunicado do Departamento de Justiça norte-americano, publicado em Março, mais de mil pessoas foram acusadas de desvio de fundos num total de oito mil milhões de dólares (sensivelmente o mesmo em euros, à cotação actual). Mas o valor real pode ascender a centenas de milhares de milhões, contabilizando os processos que ainda estão a ser investigados e as estimativas sobre fundos que poderão nunca ser recuperados.

Numa audição no Congresso dos EUA, em Março de 2021, o inspector-geral do departamento norte-americano de apoio às pequenas empresas (a Small Business Association, SBA) já admitia a existência de fraudes no valor de 84 mil milhões de dólares — só na SBA.

Carros de luxo e casas

Em Junho, um empresário de Novi, no estado do Michigan, foi considerado culpado de fraude no valor de 4,1 milhões de dólares e pode ser condenado a um máximo de 20 anos de prisão. Johnny Ho, de 41 anos — que só vai conhecer a sua sentença em Setembro —, submeteu documentos falsos em nome de 16 empresas para se candidatar aos apoios do Governo federal.

Em Abril, um outro empresário, da Califórnia, foi considerado culpado de fraude no valor de pelo menos 350 mil dólares, que usou na compra de um automóvel de luxo e de uma empresa no estado do New Hampshire, e em transferências para uma outra empresa com sede na Mauritânia. Oumar Sissoko, de 59 anos, recebeu sete milhões de dólares para a manutenção de postos de trabalho e para a contratação de mais 450 trabalhadores — numa empresa de reparação de estradas que criou em Dezembro de 2019.

No julgamento que terminou na quarta-feira, no estado da Georgia, o antigo presidente de câmara de Stonecrest uma cidade de 50 mil habitantes nos arredores de Atlanta — foi condenado a quatro anos e nove meses de prisão, seguidos de três anos de liberdade condicional, e ao pagamento de 120 mil dólares.

Segundo a acusação, Jason Lary desviou mais de 600 mil dólares dos seis milhões que a sua cidade recebeu dos programas de estímulos à economia. Parte do dinheiro foi usada para pagar uma casa de campo e impostos em dívida, e também para pagar campanhas políticas e despesas pessoais de aliados e amigos.

Como parte do esquema, Lary criou uma empresa para gerir os fundos destinados à cidade e nomeou uma cúmplice, Lania Boone, para chefiar a tesouraria. Depois, criou outras três empresas supostamente para ajudarem na reconstrução de habitações e no pagamento de rendas por pessoas mais necessitadas e, sem nunca revelar a sua ligação a essas empresas, pediu a igrejas e a pequenos empresários da sua cidade que contribuíssem com parte dos fundos públicos que lhes tinham sido destinados.

"Pai” de Stonecrest

O envolvimento de Jason Lary no esquema fraudulento começou a ser investigado em Março de 2021 e a sua condenação chocou a população de Stonecrest. A pequena cidade, com 50 mil habitantes, foi criada há apenas seis anos através de um referendo impulsionado por Lary. Segundo um artigo da revista Atlantic, publicado em 2017, Stonecrest foi a primeira cidade de maioria afro-americana a ser criada pelos seus próprios habitantes desde o período da Reconstrução, que se seguiu à Guerra Civil de 1861-1865.

Eleito em 2017 para ser o primeiro presidente da câmara de Stonecrest, Lary foi reeleito em 2019 para um segundo e último mandato consecutivo que deveria terminar em 2023. Demitiu-se no passado dia 5 de Janeiro, depois de ter sido acusado pelo Departamento de Justiça.

Antes de ter sido condenado por fraude, Lary só tinha captado a atenção do país numa outra ocasião, em Outubro de 2017. Nessa altura, propôs a criação de uma outra cidade dentro dos limites de Stonecrest, chamada Amazon como parte de uma candidatura a sede do segundo quartel-general da gigante do retalho online, que prometia a criação de 50 mil postos de trabalho na região.

Um ano mais tarde, no final de 2018, a Amazon escolheria Arlington, no estado da Virginia, para o seu investimento de 2,5 mil milhões de dólares.

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