Quotas para pessoas com deficiência dão lugar no quadro a cerca de 80 professores

Ministério da Educação não costumava aplicar as quotas de emprego nos concursos para entrada no quadro, mas a abertura de vagas extra para mitigar escassez de docentes veio quebrar este procedimento.

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Média de idade dos professores que agora vincularam ronda os 45 anos Paulo Pimenta

Perto de 80 professores entraram no quadro ao abrigo do sistema de quotas para pessoas com deficiência. É o número mais elevado registado num procedimento de vinculação de professores e foi alcançado no concurso externo deste ano, com resultados conhecidos na semana passada. Para beneficiar deste regime tem de se ter um grau de incapacidade funcional igual ou superior a 60%.

O concurso externo destina-se à entrada no quadro de professores que estão a contrato. Neste último foram abertas 3259 vagas, das quais 78 foram preenchidas por candidatos com deficiência ao abrigo de um sistema de quotas que, a partir de 2001, passou a ser obrigatório em todos os concursos de ingresso na função pública.

Apesar de este ser o caso dos concursos externos para a vinculação de professores, o Ministério da Educação (ME) habitualmente só aplica o sistema de quotas a partir da 2.ª prioridade. Nos concursos de professores existem três prioridades, onde se alinham os candidatos em função essencialmente do seu tempo de serviço. Os candidatos na 2.ª e 3.ª prioridades raramente conseguem um lugar.

O concurso externo deste ano constituiu uma excepção: 543 professores que estavam na 2.ª prioridade conseguiram entrar no quadro, que era a posição também ocupada maioritariamente por docentes abrangidos pelas quotas de emprego para pessoas com deficiência.

O grupo do 1.º ciclo é o que conta com mais professores vinculados ao abrigo deste regime: tem 14 dos 78 lugares atribuídos. A Educação Pré-Escolar (7) e Português (7) completam este pódio.

Mais de 500 vagas extra

A oportunidade agora dada aos professores na 2.ª prioridade foi uma das maneiras encontradas pelo Ministério da Educação para tentar garantir que, no próximo ano lectivo, estejam mais docentes a dar aulas nas regiões mais afectadas pela sua falta. “O total de vagas a concurso corresponde a 2730 vagas da norma-travão acrescidas de 529 vagas nos quadros de zonas pedagógica e grupos de recrutamento mais deficitários”, especificou o ME, quando em Março passado deu conta do número de lugares em aberto.

A maioria destas últimas vagas (327) estavam afectas ao Quadro de Zona Pedagógica (QZP) que abrange as regiões de Lisboa e Setúbal, seguindo-se-lhe as regiões do Algarve (48), Oeste (47) e o Norte Litoral (39).

Foi a primeira vez que existiram tantas vagas extra num concurso externo ordinário, que desde 2017 tem servido essencialmente para acolher os docentes abrangidos pela chamada norma-travão. Este dispositivo começou a ser aplicado em 2015 em resposta a uma directiva europeia que proíbe a utilização abusiva dos contratos a prazo. Ao abrigo desta norma, entraram já no quadro cerca de 6000 professores contratados.

Segundo a informação que o ME transmitiu em tempos ao PÚBLICO, foi também a criação da norma-travão que levou à aplicação das quotas para pessoas com deficiência só a partir da 2.ª prioridade por ser o patamar em que começa a funcionar “a lista de graduação pura”. Nesta lista os professores são ordenados em função da sua graduação profissional, calculada com base na classificação que obtiveram no curso e no tempo de serviço já prestado. Para estarem na 1.ª prioridade e serem abrangidos pela norma-travão, os docentes têm também de obedecer a outros requisitos. No caso, terem três anos de contratos sucessivos em horários anuais e completos, ou seja, se o docente for sucessivamente contratado para dar 22 horas de aulas semanais durante todo o ano lectivo.

Devido às várias formas de colocação de professores, este é um requisito difícil de alcançar, como aliás mostram mais uma vez as idades dos docentes que agora entraram para o quadro. Segundo a descrição feita no blogue de Arlindo Ferreira, especialista em estatísticas da educação, 80 dos professores que vincularam têm 60 anos ou mais e 15 destes já ultrapassaram mesmo os 65. No conjunto, a média de idades dos mais de 3000 que entraram no quadro ronda os 45 anos.

O 1.º ciclo volta a ser o grupo com mais professores vinculados (539). A Educação Pré-Escolar aparece em segundo lugar, com 257 vinculações e a seguir estão os grupos de Educação Especial (300) e Português (247). Informática tem sido uma das disciplinas com mais falta de professores. Neste concurso “ganhou” para o quadro 111 docentes.

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